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SAÚDE SEM SAÚDE!

Pressão, exposição e agressões levam a esgotamento de profissionais da saúde em MS

Advogada explica sobre burnout e violência sofrida por profissionais de saúde no trabalho
A Advogada Stephanie Canale relata impacto psicológico da sobrecarga e da violência nas redes sociais
Casos recentes em Campo Grande reacendem debate sobre saúde mental e segurança dos médicos e enfermeiros

A morte de dois profissionais da saúde em Campo Grande reacendeu o debate sobre a saúde mental e as condições de trabalho enfrentadas por médicos, enfermeiros, dentistas e demais trabalhadores do setor. Em entrevista o programa Microfone Aberto da rádio MassFM 93,7, a advogada Stephanie Canale, especialista na defesa jurídica de profissionais da saúde, fez um alerta contundente sobre o que classifica como um cenário crítico de estresse, burnout e violência crescente, tanto física quanto digital.

“Hoje, um dos maiores problemas de saúde mental desses profissionais é a depressão e o burnout, causados pela sobrecarga de trabalho e pela exposição nas redes sociais”, declarou Stephanie.

https://youtu.be/FCkOK9W8TV8?t=1043

Pressão emocional e sobrecarga de trabalho

De acordo com a advogada, a pressão enfrentada por esses profissionais não se limita ao ambiente hospitalar. A superlotação de hospitais, especialmente nos serviços públicos, associada à cobrança por resolutividade imediata dos pacientes, tem levado muitos médicos a exaustão mental.

“Eles lidam com postos e hospitais lotados, estão na linha de frente e isso gera um impacto direto na saúde mental”, afirmou Stephanie.

Segundo ela, o desabafo de pacientes nas redes sociais, muitas vezes com acusações infundadas, amplia ainda mais esse desgaste. O fenômeno, que já ultrapassa os limites físicos da violência, tornou-se também um problema de reputação e estabilidade emocional.

Violência virtual: a nova face da agressão

A advogada destaca que o fenômeno da exposição indevida nas redes sociais tem crescido silenciosamente. Pacientes insatisfeitos, ao não verem seus problemas resolvidos de forma imediata, recorrem a publicações ofensivas, muitas vezes identificando nominalmente os médicos. Isso pode gerar danos irreparáveis.

“Você vai pra rede social falar daquele profissional, e isso também é uma forma de violência”, reforçou.

Segundo Stephanie, essas postagens ganham proporções incontroláveis. “As ofensas nas redes atingem milhares de pessoas, e perdemos o controle da situação”, disse.

Há casos em que médicos desenvolvem quadros graves de depressão após ataques virtuais. Um dos exemplos citados foi o de uma médica que, após ofensas reiteradas, precisou de acompanhamento psicológico e se afastou do trabalho.

Diagnósticos pelo “doutor Google” agravam conflitos

Outro fator citado por Stephanie é a relação cada vez mais complicada com pacientes que chegam aos consultórios já “diagnosticados” por fontes da internet. Segundo ela, muitos pacientes buscam confirmar o que já acreditam saber e, quando a conduta médica não corresponde à expectativa, reagem com agressividade.

“O paciente chega com o diagnóstico pronto, quer um tratamento específico, e quando não recebe, se sente frustrado e parte para ofensas”, explicou.

Migração para a iniciativa privada e fuga do SUS

Diante desse cenário, muitos médicos estão optando por abandonar atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) e migrar para clínicas particulares ou planos de saúde. A advogada observa que essa fuga acontece especialmente no interior, onde a estrutura é ainda mais precária.

“É no interior que mais precisamos de médicos, e é justamente onde eles mais evitam ficar. Temos cidades com apenas um clínico geral, que precisa atender desde crianças até idosos, sem apoio estrutural para cirurgias ou exames complexos”, destacou Stephanie.

Medidas de proteção e resistência ao registro de denúncias

A advogada orienta que profissionais da saúde busquem proteção legal diante das agressões. O primeiro passo seria o registro de boletins de ocorrência, além do ingresso com ações judiciais para retirada de conteúdos ofensivos publicados nas redes sociais.

Contudo, segundo ela, muitos médicos ainda resistem a denunciar.

“Eles têm medo de se expor, não querem enfrentar um processo. O número real de agressões e ofensas é muito maior do que os dados oficiais mostram”, lamentou.

Papel do Estado e necessidade de políticas públicas

Stephanie Canale encerra sua análise reforçando que é dever do Estado oferecer condições adequadas aos profissionais da saúde. Para ela, garantir estrutura física, segurança e apoio psicológico não é apenas uma obrigação constitucional, mas um passo essencial para proteger a saúde pública como um todo.

“A saúde é um direito constitucional. Quem está na linha de frente são os médicos e enfermeiros. O Estado precisa proteger esses profissionais para garantir o atendimento à população.”