Filhos recém-nascidos de reeducandas do Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi”, em Campo Grande, participam semanalmente de sessões de fisioterapia no berçário da unidade penal. As atividades são voltadas para a estimulação psicomotora e visam impedir que ambiente de prisão retarde o desenvolvimento desses bebês que precisam ficar com as mães no presídio.
O trabalho já é desenvolvido desde 2007 por meio de uma parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e a Faculdade Estácio de Sá. Todas as sextas-feiras, estudantes do 4º ano de Fisioterapia, acompanhados por uma professora-orientadora, participam do estágio no EPFIIZ. Nestes dois anos do projeto, cerca de 40 crianças já foram beneficiadas com a iniciativa.
De acordo com a professora Priscila Rimoli de Almeida Araújo, as atividades buscam estimular, principalmente, os sentidos de visão, tato e audição, além do desenvolvimento motor dos bebês. “Utilizamos muitos brinquedos coloridos, chacoalhos barulhentos, além de materiais próprios de fisioterapia como a “bola feijão”, utilizada para estimular o equilíbrio e ajudar no fortalecimento muscular dos bebês”, informa.
A professora ressalta que é necessária a realização de atividades de estímulos sensório-motores, no sentido de impedir que os bebês se tornem crianças hipoativas. “O ambiente de prisão, por mais cuidados que eles recebam neste berçário, é limitador e pode dificultar o desenvolvimento das crianças”, explica.
Segundo Priscila, todos os bebês atendidos possuem uma ficha de avaliação de desenvolvimento, com base nas orientações do Ministério da Saúde. Conforme a orientadora, os casos suspeitos de anormalidades são informados ao pediatra que realiza atendimentos no presídio. “Desde que começamos, identificamos apenas três crianças que apresentaram atrasos no desenvolvimento e as encaminhamos para um tratamento mais específico”, informa.
Todas as sessões são acompanhadas pelas mães das crianças e pelas internas que trabalham no berçário. Elas também recebem orientações de como estimular o desenvolvimento dos bebês.
Para a reeducanda J.M.S., de 22 anos, mãe de uma menina de oito meses – que teve quando já estava presa – as sessões têm sido muito positivas para a filha e os seus benefícios já podem ser notados. “Minha filha e as outras crianças daqui são muito espertas, são mais durinhas”, comenta.
A diretora do EPFIIZ, Dalma Fernandes de Oliveira, classifica como muito importante o trabalho desenvolvido pelos estudantes de fisioterapia, já que proporcionam mais qualidade de vida aos bebês e ainda dá mais tranquilidade às mães que estão custodiadas.
Na opinião de Dalma, a iniciativa deveria servir de exemplo para que outros cursos de graduação também realizassem trabalhos junto à massa carcerária. “É necessário que haja um maior envolvimento da comunidade acadêmica, que outros cursos – como Educação Física e Serviço Social – desenvolvam trabalho com os reeducandos e reeducandas, que tragam ideias novas para melhorar a qualidade no tratamento penal desenvolvido pelo sistema penitenciário em nosso Estado”, estimula.
Berçário
Há mais de doze anos o berçário instalado no presídio feminino de Campo Grande vem garantindo aos filhos recém-nascidos das internas da unidade penal todo o cuidado que seria conferido nas unidades infantis fora da prisão.
Os bebês podem ficar, em média, até um ano com as mães e depois, geralmente, são entregues aos familiares indicados pelas internas. No berçário, as crianças recebem os procedimentos de higiene, a alimentação e recreação necessárias, além de terem garantido o aleitamento materno.
Segundo a coordenadora do berçário, oficial penitenciária e pedagoga Nair Vilela, atualmente quatro bebês são atendidos no local, número que varia bastante. Como a maioria das internas é de família carente, e algumas delas não recebem assistência alguma dos familiares, a equipe de Serviço Social da unidade penal e a coordenadoria do berçário, buscam colaboradores que auxiliam doando materiais como fraldas descartáveis, roupas de bebê, leite em pó, entre outros. A Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas) fornece gêneros alimentícios e materiais de higiene e limpeza.
Conforme a coordenadora, o berçário do EPFIIZ está aberto a doações. Quem quiser ajudar pode entrar em contato com a coordenação do berçário pelo telefone (67) 3901-1336, ou com o serviço social do estabelecimento penal no (67) 3901-1333.