A escalada de conflitos entre Israel e Irã tem impactado diretamente o mercado internacional de commodities, com reflexos também no Brasil. Em entrevista ao programa Agro é Massa, o analista de mercado da Royal Rural, Ronaldo Fernandes, explicou como o cenário de guerra influencia nos preços da soja, milho, óleo de soja, petróleo e fertilizantes.
Segundo Fernandes, Israel e Irã são estratégicos para o setor agrícola global, especialmente na produção e exportação de fertilizantes. “O Brasil importa 100% da ureia e boa parte vem do Irã. Israel também tem participação relevante nesse mercado”, afirmou.
A região onde ocorrem os conflitos inclui países como Arábia Saudita e Kuwait, responsáveis por parcela significativa da produção mundial de petróleo. O Irã, por exemplo, responde por cerca de 4% do petróleo produzido no mundo. Com o início dos ataques, refinarias foram atingidas e o temor do mercado passou a ser a segurança do transporte do combustível, principalmente no Estreito de Hormuz, rota por onde transita um terço do petróleo global. “Transportadoras já se recusam a passar pela região, o que elevou os custos de frete e seguro marítimo”, explicou Fernandes.
O impacto imediato foi a alta no preço do petróleo, que puxou também os valores de óleos vegetais, como o óleo de soja — que atingiu o maior patamar em quase 20 meses.
Consumo interno dos EUA pressiona Chicago
Além do conflito, uma proposta da Agência Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) também vem influenciando os preços. A agência sugeriu o aumento da mistura obrigatória de biodiesel, o que ampliaria o consumo interno de óleo de soja e, por consequência, da própria soja. “A proposta prevê saltar de 3,3 para até 5,8 bilhões de galões por ano. Isso pode gerar uma demanda adicional de até 10 milhões de toneladas de soja”, pontuou Fernandes.
Embora a medida ainda precise passar por uma audiência pública marcada para 9 de julho, a expectativa do mercado é de que seja aprovada, o que pressionaria ainda mais os preços em Chicago. A mesma data pode marcar também o anúncio de um novo acordo comercial entre Estados Unidos, China e Europa, com previsões de compras maiores de soja americana.
Brasil sente efeitos nos prêmios e nos custos
Apesar da valorização do grão nos mercados internacionais, o analista destacou que os prêmios pagos pela soja brasileira vêm recuando, movimento que surpreende diante da ausência de compras chinesas nos EUA. “O prêmio caiu mais do que subiu Chicago, o que preocupa. E com o dólar em queda, o momento de comercialização no Brasil não é tão favorável”, avaliou.
Fernandes recomendou atenção redobrada dos produtores, especialmente para o fechamento dos custos da próxima safra. “A queda do dólar e o temor reduzido da guerra podem ser usados para travar custos, principalmente com fertilizantes”, alertou.
A volatilidade segue sendo a principal característica do mercado de grãos neste cenário de conflitos e incertezas globais. Para o analista, o produtor brasileiro deve agir com estratégia e aproveitar as oportunidades pontuais que surgirem nas próximas semanas.
Confira a entrevista completa no Agro é Massa desta terça-feira (17):