O crescimento industrial em Três Lagoas tem sido a justificativa de muitos homens que vêm para a Cidade à procura do tão sonhado emprego. De chinelo e mochila nas costas a maioria chega sem informações, apenas com o objetivo de conseguir um trabalho. A falta de dinheiro e lugar para pernoitar leva centenas a procurarem o Albergue Municipal Padre Angel Sanchez.
As histórias que se repetem insistentemente são refletidas na população que circula pelo local e espera por uma oportunidade. Em nove meses de atendimento, 953 pernoitaram, destas 856 eram homens e 97 mulheres. De acordo com o coordenador, Dirceu Meneguelli, as histórias são sempre as mesmas. “Pode parecer estranho, mas as histórias são sempre as mesmas, elas se repetem. Chegam dizendo que vieram atrás de empregos, que foram roubados, e por ai vai. A maioria são andarilhos que passam de albergue em albergue em várias cidades do País. Outro fator comum entre eles é a falta de calçados, a maioria chega aqui de chinelo”, ressaltou.
A faixa etária de quem passa noites no local em sua maioria é de 30 a 40 anos. “Muita gente não tem destino certo, a maioria chega sem documentos. Eles têm até três dias para ficar aqui, mas há exceções. Quando o caso é grave nós vamos trabalhando de acordo com as oportunidades”.
No local onde trabalham 17 colaboradores, é oferecido café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e lanche. “É um trabalho extenso que exige muito. Nós fazemos a aproximação com a família, quando a pessoa não tem documento (maioria dos casos) providenciamos e damos todo o auxilio, além de atendimento psicológico”, explicou Meneguelli.
Até hoje, o morador que permaneceu no Albergue por mais tempo, abrindo exceções foi uma senhora de aproximadamente 55 anos. “Estimamos a idade, já que ela não tinha documento e não sabia. Conseguimos localizar uma filha graças à ajuda da polícia. Só tivemos acesso pelas digitais. É um trabalho que leva tempo e precisa ser feito em equipe”, enfatiza.
O Albergue nunca ficou lotado e o pico de atendimento aconteceu quando 28 leitos ficaram ocupados. “Geralmente, nos finais de semana a procura aumenta”.
De acordo com Meneguelli, o principal desafio é atender a essas pessoas e dar um destino certo a quem procura um pouso. “Acolhemos essas pessoas, eles chegam, passam por uma triagem, depois pelo banho, alimentação. Muitas vezes nós compramos as passagens para que eles cheguem ao destino desejado. Em menos de um ano, foram disponibilizadas 687 passagens”.
EMPREGOS
Em menos de um ano, o Albergue agregou um outro dado positivo, conseguiu encaminhar 72 pessoas para o mercado de trabalho. “Quando eles passam pela triagem perguntamos qual a profissão, quais as pretensões na Cidade, as qualificações e verificamos se têm o perfil de alguma empresa que tenha uma vaga, encaminhamos”.
Nos nove meses, 102 pessoas estavam de passagem, outras 92 à espera de parentes internados. “Não atendemos apenas andarilhos, também acolhemos pessoas que têm parentes doentes e em tratamento e não têm onde ficar. Aqui eles podem dormir e se alimentar. O fluxo de pessoas circulando por esse motivo é de 6%”.
No albergue, Vanessa Cristina Garcia, 30 anos, estava à espera do marido. “A gente está com o prazo vencendo. Podemos ficar seis dias, depois não sei para onde vou. Viemos de Aracaju (SE) e meu marido conseguiu um trabalho de pedreiro. Estamos esperando. Todo mundo fala que aqui tem emprego. Vamos conseguir uma casa e nos mudar”, ressaltou.
REGRAS
Muitas pessoas desistem de ficar no abrigo pelas regras impostas. O horário de saída começa às 8h e vai até às 19h. Aos sábados, ao meio dia, o portão é fechado, quem chega fora do horário perde o direito de ficar no local.
O acompanhante do Albergue, João Montalvão, relata que muitas vezes eles são desrespeitados pelos andarilhos. “Eles não gostam muito de cumprir as regras, mas se elas existem, devem ser cumpridas. Às vezes somos taxados como chatos. Se estão aqui, precisam ter um propósito. Nossa proposta é encaminhá-los”.
Alexandro Santos, 35 anos, saiu de Aracaju para fazer uma entrevista de trabalho em Três Lagoas. “Se eu for aceito devo trabalhar em Porto Velho.
Fiquei sabendo que a empresa estava fazendo seleção aqui e resolvi vir para cá. Fui roubado em Sorocaba, trabalho como encanador e caldeireiro. Estava em Araçatuba, quando uma pessoa me viu e disse que me ajudaria a chegar até aqui. Graças a Deus vou ter onde dormir”.