Entrevista ao RCN Notícias, o diretor administrativo do Hospital Auxiliadora de Três Lagoas, Marco Antônio Calderon, fez um desabafo contundente sobre a situação da contratualização da unidade com o poder público.
Segundo ele, o principal entrave na parceria com o município é a ausência de reajuste anual previsto no contrato de prestação de serviços, o que compromete a sustentabilidade financeira do hospital.
“A contratualização é um instrumento entre o gestor pleno, que é o município, e o Hospital Auxiliadora. O problema é que esse contrato não prevê nenhum tipo de reajuste anual, nem por inflação, nem por aumento do salário mínimo. Isso é algo que me incomoda muito e que venho discutindo há anos”, afirma Calderon.
O contrato atual, segundo ele, é o mesmo desde 2021, com renovações periódicas por meio de aditivos – o mais recente, de mais seis meses, foi assinado com base no contrato original. “Fizemos um novo modelo de contrato, trabalhado por 30 dias pelo hospital, mas ele ainda não foi assinado. Continuamos operando sob os termos antigos, que trazem muitas exigências, mas nenhum bônus ao hospital”, criticou.
Apesar da falta de reajustes estruturais, Calderon conseguiu, após muita insistência, um aumento de apenas 5% nas rubricas municipal e estadual. “A soma desses reajustes, no global, resultou em um aumento real de apenas 3% desde 2021. Isso é insustentável. O hospital tem mil funcionários celetistas, com folha de R$ 4 milhões, e mais R$ 4 milhões de médicos contratados como PJ. Cada 5% de aumento representa R$ 200 mil a mais de despesa mensal”, calcula.
Desigualdade
Calderon também expressou indignação com a diferença nos valores pagos aos profissionais que atuam no Hospital Auxiliadora e no Hospital Regional, que é estadual. “Por que o Regional paga mais para os médicos do que eu consigo pagar? Eu pago R$ 1.000 por uma cirurgia eletiva, enquanto o Regional paga R$ 1.500 líquidos, sem impostos. Como competir assim?”, questiona.
Segundo ele, essa disparidade tem gerado a migração de profissionais para o Regional, esvaziando especialidades importantes no Auxiliadora, como a neurocirurgia. “Pagávamos R$ 22 mil para neurocirurgiões aqui, com descontos. Hoje, o Regional paga R$ 48 mil. Tiraram os profissionais daqui e colocaram lá da noite para o dia, sem diálogo com a gente”, lamenta.
Alta complexidade
O diretor relatou ainda que, mesmo com recursos insuficientes, o hospital continua expandindo serviços, inclusive na oncologia. Recentemente, foram iniciados os preparativos para a implantação da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacom), com obras para a sala de quimioterapia previstas para breve.
“Com todas as limitações, o Auxiliadora está ampliando seus serviços. Mas não dá para exigir mais sem repassar mais. A Santa Casa de Campo Grande está com uma dívida de quase R$ 300 milhões. Nós não vamos levar o Auxiliadora ao mesmo caminho”, alerta.
O hospital, que completa 106 anos em 2025, atende 80% de pacientes SUS — bem acima da exigência mínima de 60% imposta aos filantrópicos. “A população precisa entender que manter esse padrão custa caro. A contratualização precisa ser revista com seriedade”, reforça.
Diálogo
Apesar das críticas à gestão anterior da Secretaria Municipal de Saúde, Calderon reconhece avanços no diálogo com a atual administração do prefeito Cassiano Maia. “O prefeito tem dado atenção ao hospital. Disse a ele que temos o melhor hospital do estado em protocolos, com certificação nível 2, e caminhando para o nível 3. Isso só é possível com gestão, compromisso e apoio”, destacou.
Prefeitura
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que realizou um novo aditivo na contratualização dos serviços do Hospital Auxiliadora, estendendo-o até novembro. O objetivo é permitir que a nova secretária da pasta, Juliana Salim, junto com sua equipe, analise detalhadamente os atendimentos realizados por meio desse contrato e proponha melhorias na contratualização sem cessar o atendimento à população. Além disso, o prefeito Cassiano Maia solicitou que a secretária formasse uma comissão multidisciplinar para conduzir essa análise.
Outro ponto importante a ser destacado é que a Secretaria esclarece que a contratação definitiva, eliminando a necessidade de novos aditivos, pode ocorrer antes de novembro. Essa comissão também tem a responsabilidade de agilizar o processo, garantindo maior eficiência na formalização do contrato.
Nota
A SES (Secretaria de Estado de Saúde) esclarece que o Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, localizado em Três Lagoas, é uma unidade sob gestão municipal. Mesmo não sendo responsável direta pela administração do hospital, o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul tem atuado de forma firme e contínua no apoio financeiro à instituição, reconhecendo sua importância estratégica para toda a macrorregião da Costa Leste.
O compromisso do Estado com o fortalecimento da rede pública de saúde se traduz em ações concretas, como o reajuste contratual aplicado com base no IPCA-Saúde — fixado em 5,48% para o exercício de 2025 — e na concessão de uma 13ª parcela anual nos contratos de prestação de serviços, funcionando como aporte adicional para o custeio das unidades hospitalares.
Esse recurso extra foi destinado ao financiamento de atendimentos do SUS (Sistema Único de Saúde), contribuindo de forma decisiva para a manutenção e melhoria da qualidade dos serviços oferecidos à população.
UTI Neonatal
UTI Adulto Tipo II
Leitos de Retaguarda (GAR)
Unidade de Cuidados Intermediários Convencionais (UCINCo)
Hemodiálise
Essas iniciativas evidenciam o esforço conjunto entre Estado e Município para assegurar a sustentabilidade financeira do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora e garantir a continuidade dos serviços de saúde essenciais à população da região