A antiga Estação Ferroviária de Três Lagoas, que representa uma das páginas mais importantes da história da cidade, que completou 100 anos em junho, está completamente abandonada, além de servir de abrigo para moradores de ruas e usuários de drogas. A Estação foi desativada há anos, mas era ocupada pelo escritório da América Latina Logística (ALL), empresa responsável pela administração e operação da ferrovia.
A ALL desocupou o prédio há cerca de quatro meses, desde que o novo escritório da empresa foi transferido para uma área mais afastada do perímetro urbano, acompanhando o novo traçado ferroviário de Três Lagoas. De lá para cá, toda essa área que pertencia à ferrovia está abandonada. As salas do prédio da antiga Estação foram arrombadas e estão cheias de lixo e resto de comida. Quem passa pelo local, pode sentir o odor forte de urina e até de fezes.
A área marginal da linha férrea, que passa pela antiga estação ferroviária no centro da cidade está tomada pelo mato. Quem mora do outro lado da ferrovia, na Esplanada da NOB, não consegue avistar o centro da cidade. Um dos barracões da ferrovia na área contigua a antiga estação de trens, além de sujo, acumula água em uma valeta que servia para o armazenamento de óleo. O local está propício para a proliferação do mosquito transmissor da dengue.
DESCASO
Moradores da Esplanada da NOB lamentam o estado deplorável em que se encontra esse patrimônio da cidade, que brevemente será transferido para o município e que por isso, deveria ficar mais vigilante. Margarida Marques da Silva é filha e esposa de ex-ferroviários, e mora em frente à antiga Estação há 27 anos, diz que é muito triste ver todo esse patrimônio abandonado. “Estou muito triste, sinto muito saudade da ferrovia. A gente não consegue nem mais ver o outro lado da cidade, devido a esse matagal”, lamenta.
Na opinião de Margarida, esse patrimônio da antiga ferrovia deveria ser restaurado e aberto para visitação. Ela sugere que poderia ser ativado um trem de passeio ligando o centro da cidade a Jupiá. “Poderiam preservar essa área até Jupiá, colocar trens para as crianças passearem, e recuperar essa antiga Estação com a memória dos antigos ferroviários e abrigar um museu da ferrovia ou da cidade para visitação pública”, sugere. A mesma opinião tem Maria Inês Neto, que diz que em cidades bem menores que Três Lagoas as antigas estações estão preservadas. “Deveriam aproveitar esse espaço da antiga Estação para apresentações culturais, é muito triste ver essa área abandonada e cheia de mato”, acrescenta.
PREFEITURA
Em nota encaminhada ao Jornal do Povo, a prefeitura informa que ainda não recebeu essa área. Segundo a prefeitura, o que pode ser repassado para o município são as áreas não operacionais. Ou seja, a contar dos trilhos, 35 metros de cada lado são áreas operacionais, logo pertencem e continuarão pertencendo à União.
Já o superintendente do Patrimônio da União no Estado, Mário Sérgio Sobral da Costa, disse que essa área, por ser operacional, é de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit). Ele disse que as áreas que não são operacionais são de responsabilidade da superintendência, mas que ainda também não foram repassadas ao município, por questões burocráticas.
Segundo Costa, ele não tem conhecimento se a ALL, que é responsável pela ferrovia, já entregou esse trecho para o Dnit. “Existia um contrato, é como se fosse um aluguel, se ela [ALL] saiu, tinha que ter entregue a chave. Agora, o ideal seria que a prefeitura tivesse colocado um vigia no local, já que em breve esta área será transferida para ao município, que é o maior interessado”, disse.