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Falta de profissionais impede abertura de leitos temporários de UTI pediátrica no Auxiliadora

Atualmente, a instituição conta com apenas um leito pediátrico voltado para convênios

A sobrecarga já é realidade: tanto o Hospital Auxiliadora quanto o Hospital Regional operam com 100% de ocupação - Divulgação / Prefeitura
A sobrecarga já é realidade: tanto o Hospital Auxiliadora quanto o Hospital Regional operam com 100% de ocupação - Divulgação / Prefeitura

Diante do aumento expressivo de casos de síndromes respiratórias entre crianças nesta época do ano, o Governo do Estado anunciou a intenção de abrir leitos temporários de UTI pediátrica em Três Lagoas, tanto no Hospital Regional quanto no Hospital Auxiliadora. No entanto, a proposta de leitos provisórios por apenas quatro meses foi recusada pelo Hospital Auxiliadora.

Segundo o diretor administrativo da instituição, Marco Antônio Calderon, o principal motivo é a falta de profissionais disponíveis para atender com a qualidade necessária em um prazo tão curto.

“Fomos consultados pelo Governo do Estado para montar leitos intermediários de UTI pediátrica, mas declinamos porque seriam leitos provisórios, com previsão de funcionamento por apenas quatro meses. Ninguém consegue contratar uma equipe de profissionais altamente especializados por tão pouco tempo”, explicou Calderon.

A escassez de médicos especialistas em terapia intensiva pediátrica é um problema nacional, e a sazonalidade dos casos respiratórios torna ainda mais difícil atrair e manter equipes completas para uma atuação temporária. “Para cada 10 leitos é necessária uma nova equipe com no mínimo sete ou oito profissionais. Hoje, o Hospital Auxiliadora já mantém três equipes pediátricas distintas: uma na enfermaria pediátrica, outra na UTI neonatal e uma terceira nos leitos intermediários. Todas estão atuando no limite”, reforçou o diretor.

Atualmente, o Hospital Auxiliadora possui 20 leitos de UTI adulto, 12 de UTI neonatal e 12 leitos neonatais intermediários — todos constantemente ocupados, especialmente nos períodos de maior demanda, como agora.

“A permanência média de uma criança em UTI é de 15 dias, podendo chegar a meses nos casos de recém-nascidos com baixo peso, por exemplo. Isso mantém os leitos ocupados por longos períodos”, destacou Calderon.

O diretor também criticou a falta de planejamento do Estado ao propor uma solução paliativa sem considerar a dificuldade de mobilização profissional em curto prazo. “O problema não é o recurso financeiro em si, mas o planejamento. Não se monta uma UTI pediátrica do dia para a noite. O ideal seria estruturar leitos permanentes, com equipe fixa, e não improvisar todos os anos quando a demanda aumenta”, argumentou.

Leitos pediátricos SUS

Outra questão estrutural apontada por Calderon é a inexistência de leitos pediátricos regulares SUS no Hospital Auxiliadora. Atualmente, a instituição conta com apenas um leito pediátrico voltado para convênios e atendimentos particulares, que funciona com equipe mista compartilhada com a UTI neonatal.

Sistema sobrecarregado

A sobrecarga já é realidade: tanto o Hospital Auxiliadora quanto o Hospital Regional operam com 100% de ocupação em suas unidades de terapia intensiva. Em Campo Grande, a situação também é crítica — não há vagas, e a Santa Casa precisou fechar temporariamente o pronto-socorro pediátrico por falta de insumos, segundo Calderon, que também é presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de MS.

“Quando você precisa dizer para uma criança que está em tratamento numa UTI que ela terá que sair porque o contrato acabou, isso não é aceitável. Saúde exige continuidade, exige estrutura e responsabilidade”, concluiu.