O tráfico de drogas continua sendo um dos maiores desafios para a segurança pública em Três Lagoas e em toda a região da Costa Leste de Mato Grosso do Sul. O problema, que vai além do consumo individual, gera impactos profundos na saúde, na estrutura familiar, na economia e, principalmente, na sensação de segurança da população.
Entre janeiro e agosto deste ano, 127 pessoas foram presas na cidade por envolvimento com o tráfico de drogas — número superior ao registrado no mesmo período de 2024, quando 103 suspeitos foram detidos. As operações do 2º Batalhão de Polícia Militar (2º BPM) também resultaram na apreensão de quase uma tonelada de entorpecentes, incluindo maconha, pasta base, cocaína e crack.
Localizada em posição estratégica, Três Lagoas tem se consolidado como rota de passagem do tráfico em direção ao Estado de São Paulo, um dos maiores mercados consumidores do país. Parte significativa das apreensões ocorre com pessoas que estão apenas de passagem pela cidade, utilizando o município como corredor logístico. Esse cenário explica o aumento expressivo nas apreensões nos últimos anos.
Apesar dos resultados, o tráfico vem se adaptando. Uma das estratégias mais comuns é o fracionamento das drogas em pequenas quantidades, dificultando grandes apreensões e enquadramentos por tráfico. “A característica do tráfico que enfrentamos em Três Lagoas e em cidades vizinhas, como Brasilândia, é a venda em pequenas porções. Muitas vezes, a pessoa flagrada alega ser apenas usuária, o que reduz o peso jurídico da ocorrência e atrapalha as investigações”, destacou uma fonte ligada às forças de segurança.
Outro fator preocupante é o uso de menores de idade pelo tráfico, sobretudo adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Recrutados como “aviõezinhos”, esses jovens atuam na entrega e comercialização, aproveitando-se do fato de que medidas socioeducativas raramente resultam em internação. Assim, após serem apreendidos, retornam rapidamente à atividade criminosa.
Além do impacto direto na segurança, o consumo de drogas representa um grave problema de saúde pública. Especialistas alertam que substâncias como crack e cocaína podem causar danos irreversíveis ao organismo, afetando não apenas a saúde física, mas também a estabilidade emocional e a convivência social. O aumento do número de dependentes químicos pressiona os serviços de saúde, assistência social e gera sobrecarga também no sistema prisional.
As autoridades reforçam que o enfrentamento ao tráfico precisa ir além da repressão policial. Investimentos em prevenção, educação, geração de oportunidades e políticas públicas de inclusão social são apontados como fundamentais para reduzir o aliciamento de jovens e enfraquecer a rede criminosa. “Não basta prender, é preciso oferecer alternativas reais para que esses adolescentes não encontrem no tráfico a única saída”, resume um especialista em segurança pública..
O desafio é complexo e multidimensional. De um lado, a polícia intensifica as ações para retirar drogas e traficantes de circulação e do outro, cresce a necessidade de unir esforços para combater as causas e não apenas os efeitos do problema.