A história econômica nos ensina que as grandes crises são, muitas vezes, os maiores motores da mudança. Se, por um lado, o tarifaço do presidente americano, Donald Trump, no comércio brasileiro, gera medo diante de um cenário que, à primeira vista, parece desafiador e limitador, para além deste obstáculo, há uma oportunidade ímpar de tornar nossa indústria mais inovadora e resiliente para suportar qualquer mudança nas regras do comércio global. A pergunta crucial não é se seremos impactados, mas sim como responderemos para que não continuemos sendo dependentes da exportação para sustentar nossa economia.
Em números absolutos, somos uma das maiores economias do mundo. Em 2024, dados divulgados pelo Comex Stat, plataforma do Governo Federal, revelaram um total de US$ 267,9 milhões movimentados em exportações de diversas commodities. Quanto às importações, US$ 206,4 milhões foram registrados neste mesmo período – com a China assumindo a liderança de principal parceiro vendedor ao Brasil, representando 26% do total; seguida, justamente, pelos Estados Unidos, com 15,7%.
Neste contexto do tarifado, não há tanta preocupação quanto a seus impactos no comércio exportador, visto que são produtos mais “fáceis” de serem vendidos para outras nações, por seu menor valor agregado. O problema maior está nas importações, que englobam produtos de maior valor e que, naturalmente, podem gerar um maior impacto financeiro em nosso comércio. Como exemplo disso, ainda em 2024, os itens que mais adquirimos óleos combustíveis de petróleo, adubos ou fertilizantes químicos, e demais produtos da indústria de transformação.
Em resposta às taxações, o Brasil deve anunciar, nos próximos dias, um decreto de regulamentação de reciprocidade nesse sentido. A avaliação do Planalto é de que o texto inclua “outros adendos”, além da aplicação direta das novas alíquotas sobre produtos estadunidenses. Uma medida perigosa que, não necessariamente, irá ajudar nosso comércio a suavizar danos financeiros em suas movimentações.
Ao invés de combater fogo com foco, o empresariado nacional precisa aproveitar este momento para redefinir seu olhar estratégico e operacional, voltando sua atenção internamente para estabelecer planos mais focados em impulsionar o potencial inovador de seus negócios para que não apenas se sobressaiam no segmento atuado, como também estejam melhor preparados para passar por qualquer mudança externa que impacte suas operações.
Se nos espelharmos na China, como exemplo, há décadas o país vem investindo, fortemente, em tecnologias e inovações dentro da sua própria indústria, melhorando seus processos e os tornando mais resistentes frente a decisões macroeconômicas que mudem a regra deste jogo. Não à toa, uma das maiores especulações atuais é de que os Estados Unidos, com este decreto aplicado em diversos países somado às recentes decisões políticas contra imigrantes, comecem a perder espaço e competitividade para outras nações, como a chinesa.
Enquanto isso, o que vemos por aqui? Um território extremamente favorável para alavancar a inovação, mas que ainda não consegue surfar essa onda. As mesmas dificuldades que vimos quando o conceito da Indústria 4.0 começou a ganhar força, sendo que, até hoje, muitas empresas ainda lutam para atingir essa modernização.
A melhor forma de quebrarmos essa dependência importadora é nos preparando para isso. Olhar com muito mais carinho para nosso potencial industrial, e fomentando a geração de inovação internamente, desenvolvendo estratégias apropriadas que favoreçam a movimentação econômica dos produtos de maior valor agregado dentro do nosso próprio país, ao invés de priorizar sua venda ao exterior.
Mesmo que não seja uma estratégia que traga grandes retornos a curto prazo, quanto antes mudarmos essa visão do empresariado e começarmos, desde já, a estabelecer uma verdadeira cultura de inovação, menores serão os impactos severos a longo prazo, criando raízes que sustentem um ambiente inovador que gere valor aos próprios negócios e a todo o país.
Vivemos em um mercado dinâmico onde conflitos internacionais e mudanças geopolíticas sempre acontecerão, e aqueles que conseguirão se manter firmes diante de tantas turbulências serão os que enxergarem a inovação como uma peça indispensável em suas operações, se tornando mais resilientes e preparadas para assegurar sua competitividade e crescimento sustentável.
*Alexandre Pierro é mestre em gestão e engenharia da inovação, engenheiro mecânico, bacharel em física e especialista de gestão da PALAS, consultoria pioneira na implementação da ISO de inovação na América Latina.