Veículos de Comunicação

Editorial

Um acerto na política habitacional

Leia o Editorial do Jornal do Povo, da edição que circula neste sábado (8). Foto: Arquivo/RCN 67.
Leia o Editorial do Jornal do Povo, da edição que circula neste sábado (8). Foto: Arquivo/RCN 67.

A decisão da Prefeitura de Três Lagoas de substituir o projeto de apartamentos pela construção de 96 casas populares no bairro Vila Piloto representa um acerto importante na condução da política habitacional do município. Trata-se de uma medida que demonstra sensibilidade social, respeito à cultura local e atenção às lições do passado, especialmente em uma cidade que convive com um déficit de mais de 4 mil famílias cadastradas no Departamento de Habitação à espera de um lar.

Três Lagoas vive um momento de expansão econômica e populacional. A industrialização acelerada e a chegada constante de novas famílias impulsionam o crescimento urbano, mas também elevam o custo do aluguel e agravam o déficit habitacional. Diante desse cenário, investir em moradias populares é uma necessidade urgente, e fazê-lo com planejamento e adequação à realidade local é o caminho mais responsável.

A opção pelo modelo horizontal, com casas térreas, é mais do que uma escolha técnica, é uma decisão socialmente inteligente. Experiências anteriores, como nos conjuntos Novo Oeste e Orestinho, mostraram que o formato vertical dos apartamentos não se adapta bem à rotina das famílias de baixa renda. Problemas estruturais, convivência conflituosa e até riscos à segurança surgiram quando moradores, na tentativa de ampliar o espaço, fizeram modificações irregulares nas edificações. O resultado foi um ambiente urbano degradado, que fugiu ao controle do poder público.

Em Três Lagoas, a cultura do “terreno próprio” é forte e enraizada. A casa representa mais do que abrigo, é espaço de convivência, de autonomia e de crescimento. É onde a família cria raízes, amplia o quintal, constrói um cômodo extra, planta uma árvore ou cria um animal de estimação. Os três-lagoenses se identificam com esse modelo de moradia, que preserva a liberdade e o senso de pertencimento. Foi nesse espírito que a Câmara Municipal aprovou por unanimidade o projeto encaminhado pelo prefeito Cassiano Maia, reafirmando o compromisso coletivo com uma cidade mais justa e planejada.

Além da adequação cultural, a nova proposta para o Vila Piloto respeita a arquitetura do bairro, que nasceu com um padrão horizontal e urbanisticamente harmonioso. A manutenção desse estilo preserva a identidade local e evita o adensamento excessivo, que poderia comprometer a mobilidade e a infraestrutura da região. A construção das 96 casas, em parceria com o Governo do Estado, segue o modelo de sucesso adotado no Conjunto Habitacional Violetas, que alia dignidade, transparência e participação popular no processo de seleção dos beneficiários.

Outro ponto a ser enaltecido é o rigor social dos critérios estabelecidos para as novas moradias. A prioridade para famílias com crianças, mulheres vítimas de violência, idosos e pessoas com deficiência demonstra um olhar humanizado sobre a política habitacional. A contrapartida simbólica, 10% de um salário mínimo por cinco anos, torna o sonho da casa própria acessível e sustentável, sem comprometer o orçamento familiar.
Mais do que construir paredes e telhados, o que se ergue em Três Lagoas é uma política de moradia baseada em experiência, sensatez e justiça social. O município acerta ao compreender que habitação não é apenas uma obra de engenharia, mas uma ação de cidadania. É o alicerce sobre o qual se constrói uma cidade mais inclusiva, segura e humana.

Que o exemplo do Vila Piloto sirva de referência para os próximos projetos. Três Lagoas precisa continuar crescendo, mas deve crescer com responsabilidade, respeitando sua história e cuidando das pessoas que fazem dela o seu lar.