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Violência doméstica em Três Lagoas atinge mais de 80 mulheres por mês

Agosto Lilás é campanha nacional que reforça a luta contra a violência doméstica e orienta as vítimas a denunciarem os abusos

DAM recebe, em média, três registros por dia na cidade. Foto: Arquivo/RCN 67.
DAM recebe, em média, três registros por dia na cidade. Foto: Arquivo/RCN 67.

Durante os sete primeiros meses de 2025, 560 casos de violência doméstica contra mulheres foram registrados oficialmente em Três Lagoas, representando, em média, 80 mulheres agredidas por mês, ou quase três por dia. Um dado alarmante que ganha ainda mais visibilidade com a Campanha Agosto Lilás, mês dedicado ao enfrentamento da violência contra a mulher em todo o Brasil.

Uma das vítimas que procurou ajuda foi a professora de música Larissa Oliveira (nome fictício), que viveu um casamento de 22 anos marcado por agressões. “Começa com uma discussão, depois os empurrões e evolui para tapas. Quando você percebe, já precisa de alguém para apartar. Foi quando decidi procurar ajuda”, relata.

Larissa foi à Delegacia de Atendimento à Mulher (DAM), onde registrou o boletim de ocorrência por violência doméstica. Como ela, outras centenas de mulheres vêm buscando apoio, orientação e medidas protetivas no município.

De acordo com dados do setor de estatística da Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp), 984 mulheres foram vítimas de agressão em Três Lagoas ao longo de 2024. No estado, entre janeiro e julho de 2025, já foram contabilizados 12.276 casos. Em nível nacional, estima-se que uma mulher seja vítima de violência a cada quatro horas, segundo levantamentos de institutos especializados.

A delegada Sayara Quinteiro Martins, titular da DAM de Três Lagoas, chama a atenção para o que os números não mostram. “O que é registrado é apenas uma parte da realidade. Muitas mulheres ainda têm medo, vergonha ou dependência emocional e financeira, e acabam não denunciando seus agressores. A violência pode ser física, psicológica, moral ou patrimonial. Todas deixam marcas — e não apenas no corpo”, alerta.

Sayara também destaca sinais muitas vezes ignorados pelas vítimas. “Ciúmes excessivos, xingamentos, manipulações, ameaças. Tudo isso já é violência. O ciclo começa com controle e isolamento, e pode terminar em tragédia se não houver intervenção”, pontua.

Para denunciar casos de violência doméstica, a mulher pode comparecer à Delegacia de Atendimento à Mulher, ligar para o Disque 180 (Central de Atendimento à Mulher), ou acionar diretamente a Polícia Militar pelo 190. Há também canais de apoio psicológico e jurídico disponibilizados pela Rede de Proteção à Mulher do município.

Durante todo o mês de agosto, a Campanha Agosto Lilás promove palestras, rodas de conversa, blitz educativas, com o objetivo de informar e orientar não apenas as vítimas, mas também a comunidade, que pode ser peça-chave no acolhimento e na denúncia de casos. “É preciso romper o silêncio. Ninguém merece viver com medo dentro da própria casa. A denúncia pode salvar vidas — inclusive a sua”, reforça a delegada.

A Campanha Agosto Lilás também marca os 19 anos da Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, considerada uma das legislações mais avançadas do mundo no combate à violência contra a mulher. O desafio, no entanto, continua sendo a conscientização e o apoio social para que nenhuma mulher se sinta sozinha diante da violência.