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Três Lagoas

"Maior dificuldade é o tempo que tenho para preparar o time"

A entrevista da semana é com o novo técnico do Misto, Sinval Ferreira da Silva

A entrevista da semana é com o novo técnico do Misto, Sinval Ferreira da Silva -
A entrevista da semana é com o novo técnico do Misto, Sinval Ferreira da Silva -

O novo técnico do Misto Esporte Clube, Sinval Ferreira da Silva, o Sinval, concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal do Povo logo após assumir de maneira oficial o time. Sinval tem 38 anos, nasceu dia 8 de maio de 1971. Natural da cidade vizinha Andradina (SP), profissionalizou-se na Portuguesa em 1990, aos 19 anos. Os principais clubes na carreira como atleta profissional foram, além Portuguesa, Grêmio, Botafogo (RJ), Coritiba, Paraná Clube, Guarani, São Caetano, Vitória, Santa Cruz, Fortaleza, Paysandu. Sobre a quantidade de gols que marcou, ele disse “totalmente não saber, mas que seria algo em torno de quase 300”. Sinval foi campeão da Copa São Paulo Futebol Júnior 1991 (artilheiro com 12 gols em 9 jogos) pela Portuguesa, ganhou a Copa Conmebol em 1993 com o Botafogo e o Paraense em 1992 pelo Paysandu. Ainda em 92, ajudou a levar o Grêmio de volta à primeira divisão do Brasileiro, ao ganhar a Série B. Em 1999 faturou o Paranaense, atuando pelo Coritiba. Despediu-se do futebol em 2007 no Barueri (SP). Sinval virou técnico ainda em 2007, fazendo estágio no profissional da Portuguesa e dirigindo categorias de base. Agora tem pela frente o primeiro desafio como treinador profissional em Três Lagoas, no comando do Misto.

Jornal do Povo: Qual é o seu maior desafio nessa estreia como técnico profissional?

Sinval Ferreira da Silva: Conseguir colocar uma equipe em campo dia 7 de fevereiro. O tempo é muito curto para conseguir colocar uma equipe em condições de brigar frente a frente com o adversário. Essa é a minha maior dificuldade hoje.

JP: Como surgiu o contato com o Misto e como foi a negociação?

SFS: Foi no amistoso do Misto contra a Seleção Sub-20. O Zé Muniz é muito amigo do meu irmão e me fez o convite para ver como funcionava o Misto. Cheguei junto com o Marco Aurélio (diretor do Clube) e o Sávio (Bernardes, secretário de Esportes) e me falaram nós temos a intenção (de contratá-lo), o que você acha? Falei vamos amadurecer a ideia e começamos a fazer isso. Ficamos uns três meses sem falar, sumiram. Dia 5 de janeiro falaram você foi o cara escolhido por nós da diretoria.

JP: Na coletiva, a diretoria deixou bem claro que você estava ciente de todos os problemas desde o início. Teve algum momento que você pensou em desistir?

SFS: Chegou porque nós nos vimos em uma situação muito difícil. Comecei a me envolver de um jeito que não era a minha área, mas eles mesmos falaram para mim que não ia dar certo. Aí pensei em voltar para minha empresa e cuidar da minha vida.

JP: Quando foi isso?

SFS: Foi segunda-feira da semana passada. Segunda estávamos no escuro. Aí na quinta-feira falei Jeferson (José Gonçalves, presidente do Misto), o que eu faço? Ele falou para eu ir para casa e esperar um contato. Então passei fim de semana em uma indecisão. Pensei em sair antes mesmo de assumir (risos).

JP: Você viu pouco até agora. Mas do que você viu, tem algum menino que você acha que pode ficar ou tem que esperar o treino da tarde? (Obs.: a entrevista foi feita na quinta-feira, dia 21, dia do primeiro coletivo depois de confirmado como técnico do Misto)

SFS: Tem que esperar. E ainda é pouco para avaliar. Hoje ainda falei para eles vou ser até injusto, vou errar com alguém. Só que eu não tenho tempo para deixar de fazer o que eu tenho que fazer. Eu tenho que tomar atitudes. Sou eu que tenho que fazer. Vou até ser injusto com alguém, mas terei que fazer. Se eu tivesse mais tempo, não tomaria esse tipo de decisão. Hoje tenho que tomar porque tenho que reduzir meu plantel.

JP: Você falou várias vezes sobres seus amigos que lhe ajudaram indicando jogadores. Se você não tivesse esses contatos, você aceitaria treinar o Misto?

SFS: Não. Uma porque você pensa em um tipo de jogador, só que ele não se enquadra na condição financeira do Clube. E eu estou tendo justamente problema em relação a isso. Você fala em valores e a pessoa fala que não tem jeito, que Três Lagoas é muito longe da onde ele está. Então eu contatando um amigo, que me apresenta um outro amigo e eu já falo aquela frase: Você está sendo apresentado por amigo, então você não é inimigo. Você se tornou meu amigo hein. Isso para não me oferecer coisa ruim. E eu dependo dessas pessoas em relação a isso.

JP: Se o Jeferson não assume, você também não ficava?

SFS: O seu Miro (Jamiro Rodrigues, ex-presidente) eu não conhecia. Não tive convite dele. Eu sei que estou aqui por causa do Jeferson e do Marco Aurélio. Não posso falar que não iria trabalhar com o Miro. Eu nem sei se ele iria me querer aqui ou se ele já tinha um treinador ‘dele’. Sei que hoje, portanto, estou aqui por causa dessas pessoas.

JP: Você ficou sabendo, mesmo que superficialmente, mas ficou sabendo dos problemas que aconteceram ano passado?

SFS: Bastante. Eu me aprofundei demais. Nem compete a mim e eu entrei demais nessa coisa que não compete a mim.

JP: Mesmo assim você aceitou o convite para trabalhar aqui?

SFS: Eu aceitei pelo seguinte. Estou aqui a 40 quilômetros. O mundo da bola é uma cachaça, uma droga. Então vejo isso aqui como uma baita oportunidade. Eu vou tentar mais um desafio. Jogador de futebol, quando para de jogar, morre duas vezes. Ele morre da maneira normal e morre porque parou de jogar. E eu me vi em uma situação de princípio de depressão. Aí pensei que deveria trabalhar, arrumar uma válvula de escape, através da minha empresa por exemplo. Faz tempo que eu não jogo bola. Hoje sou jogador de tênis porque eu comecei a passar raiva. Eu tocava curta, era curta demais, tocava longa, era longa demais. Fui ficando nervoso e fui para o tênis. Aceitando o convite vi uma maneira de estar fazendo o que eu gosto. De repente, daqui 15 dias ou um mês, posso ver que não é isso que quero para a minha vida. Existe esse tipo de coisa. Estou ciente que é uma vida desgastante. Vou começar a vida de cigano de novo se realmente der certo. Acertei também porque todo dia estou em casa. Por isso aceitei esse desafio. Sabendo das dificuldades, mas estou em casa. Se fosse outro lugar, não iria. Ou já tinha ido embora há muito tempo.

JP: Quais são os próximos passos agora?

SFS: Preciso ter 18 jogadores para dia 7. Preciso treiná-los, dar condição física e técnica para eles. Não posso chegar sem essa condição, porque senão qualquer cabeça de bagre vai ganhar do meu time. Tenho pressa de deixá-los prontos para dia 7. Quem tiver que chegar, que chegue o mais rápido possível, seja de avião, de ônibus, de carro, para poder moldar o elenco e tentar dar a minha cara a ele.

JP: Qual a mensagem que você deixa para o torcedor do Misto e o que você pediria a eles?

SFS: Paciência. As coisas, a vida em si, é tudo feito de planejamento. Ninguém acorda de manhã e fala que vai comprar um carro naquele dia. Tem que planejar para poder. Senão, como vai pagar esse carro, como que vai colocar gasolina nele. Para que eu pudesse passar uma esperança maior para o torcedor teria que ter planejamento. Por isso peço paciência, porque sem planejamento é muito difícil dar certo. Eu sei onde estou entrando, mas não sei te falar o que até onde posso chegar nessa competição. A casa ainda está sem alicerce. De repente pode bater um vento e derrubá-la. Então vou trabalhar o máximo para dar uma qualidade de jogo, um padrão de jogo de acordo com o material humano que tiver na mão. Vou ter que me controlar também porque joguei em um nível, hoje sou treinador e não posso exigir o mesmo. Terei que me adequar ao que tiver na mão. Terei que ter muita paciência e serenidade para não passar algo que vá atrapalhá-lhos.