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Jornal Do Povo 70 Anos

Se as ruas narrassem as próprias histórias...

Especial Jornal do Povo 70 anos

Avenida Rosário Congro - Arquivo/JPNews
Avenida Rosário Congro - Arquivo/JPNews

Você desembarca na rodoviária de Três Lagoas para ir à feira livre. O melhor trajeto a seguir é pela avenida Antônio Trajano dos Santos até a avenida Rosário Congro, passando por outras conhecidas ruas e avenidas, como a Capitão Olyntho Mancini, Monir Thomé, Bruno Garcia e Egídio Thomé. À medida que segue, um filme começa e a narração, ao fundo, fala sobre a história de vida de pessoas responsáveis pelo desenvolvimento de Três Lagoas, que deram nome a estas localidades – uma verdadeira aula sobre os primeiros anos da cidade e de pessoas que desembarcaram no Brasil para fugir de guerras ou em busca de melhores oportunidades; que aqui constituíram famílias, fincaram raízes e escreveram, além da própria história, a de um município, de um povo.

Você já parou para pensar porque as ruas e avenidas levam os nomes que têm? Que o local onde mora ou trabalha pode ter sido uma maneira de homenagear um importante e generoso homem que, a partir de doações de áreas, desencadeou a formação da cidade? Trata-se do ponto de partida do roteiro anunciado: a avenida que leva o nome de Antônio Trajano dos Santos.

Seguindo adiante, a história que se conta é de um goiano de Jataí. Um capitão da extinta Guarda Nacional, que substituiu o então intendente general Fenelon da Costa, em 1925. Olyntho Mancini foi além. Ajudou na fundação do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora e foi sócio fundador do Grêmio Três-lagoense, extinto clube da cidade, como seu sucessor, o TLC (Três Lagoas Clube). 

Na sequência, a homenagem é a um generoso médico que fazia da própria casa um hospital e do carro, uma ambulância. Monir Thomé era filho dos imigrantes libaneses Egídio Thomé e Hassiba Jubran Thomé. Por aqui, constituiu família e ficou conhecido como “médico dos pobres”. Residia na rua João Carrato e tinha consultório na rua 2 de Junho – que hoje leva o seu nome. Não é a toa que o nome da maternidade, no Hospital Auxiliadora, também se chama Monir Thomé. Morreu aos 50 anos, em 1976.  

Na rua em que estão instaladas dezenas de lojas, consultórios médicos e restaurantes, a história que se narra é a respeito de um importante médico na saúde pública para a evolução de Três Lagoas. Bruno Garcia também foi prefeito, mas sua vocação para medicina era mais visível com as visitas que fazia em fazendas para atender moradores mais humildes, invariavelmente no lombo de um burro. 

O legado de Bruno Garcia rendeu uma homenagem no suplemento especial do Jornal do Povo em 18 de outubro de 2006. A data não foi escolhida por acaso. O Dia do Médico é comemorado neste mesmo dia.

O percurso termina na avenida Rosário Congro – denominação que decorre da homenagem ao advogado, escritor, jornalista, duas vezes prefeito de Três Lagoas, filho de Graciano Congro e Carmela Verlangiere Congro. Casou-se com Judith Varejão e teve seis filhos: Jurema, Flávio, Eduardo, Judith, Stênio e Hélio Congro. 

Também foi escritor, o que lhe concedeu lugar na Academia Mato-Grossense de Letras, na cadeira de número 16. 
Congro também foi diretor de repartição de terra do “antigo” Estado de Mato Grosso, secretário da Agricultura e ministro do Tribunal de Contas. Morreu no dia 11 de outubro de 1963, deixando aos herdeiros a função de continuarem escrevendo a história da família Congro. 

Segundo Karla Porto Bittencourt, em seu artigo publicado “Toponímia urbana da cidade de Três Lagoas – MS: Interfaces entre léxico, cultura e história”, a avenida também se chamou Noroeste devido à localização paralela à linha férrea e perpendicular à avenida Antônio Trajano. É nessa via que fica a antiga Estação Ferroviária de Três Lagoas e alguns prédios importantes como o da prefeitura, hospital e Capela Nossa Senhora Auxiliadora. “O obelisco construído para as feiras de gado marca sua administração. Conhecida pela presença da feira livre, a avenida já foi palco de desfiles e movimentos populares como o desfile das escolas de samba que acontece todo ano, no Carnaval. Teve em sua extensão a presença de áreas destinados aos camelôs até o ano de 2011, quando a prefeitura destinou-lhes um novo local”, conta a autora do trabalho acadêmico, classificado como registro histórico.

A avenida Rosário Congro nasce no cruzamento com a rodovia BR-262, que dá acesso à saída para Campo Grande e para o Estado de São Paulo. Essa facilidade para quem chega ou sai de Três Lagoas não é nova. Em 19 de julho de 2000, o Jornal do Povo estampou na página 3 uma notícia sobre o início das obras de asfalto na avenida, como forma de oferecer aos motoristas uma segunda via de acesso ao centro da cidade na chegada de São Paulo. Em um dos trechos da reportagem há a citação de que a avenida pavimentada iria desafogar o tráfego da avenida Olyntho Mancini, única via asfaltada de entrada para cidade à época. O orçamento da obra de R$ 1,050 milhão.

Também "manchetou" no Jornal do Povo a notícia de que parte da avenida Antônio Trajano dos Santos receberia 35 palmeiras em seus canteiros centrais. O motivo da plantação era de que a cidade era pouco arborizada e que árvores atrapalhariam a visibilidade das lojas e vitrines, na área central. As primeiras palmeiras foram plantadas em 8 de fevereiro de 2006. 

Gente como a gente
Nobres feitos e legados não foram deixados apenas por políticos, médicos, advogados e comerciantes. As homenagens chegam também para “pessoas comuns”, como o “seo” Aldair, funcionário do Banco do Brasil, que perdeu a vida tentando salvar outra. Ele mergulhou no rio Paraná para tentar salvar uma criança que se afogava. O desfecho, no entanto, foi trágico. Ele e a criança morreram. Hoje, Aldair Rosa de Oliveira dá nome à via onde fica a Circular da Lagoa Maior, o principal cartão postal de Três Lagoas.

Quem passa pelos bairros Nossa Senhora Aparecida, Jardim das Graças, Jardim Brasília e Jardim dos Ipês através da rua Alexandre Abrahão talvez nem imagine que foi ele o responsável pela instalação do primeiro cinema de Três Lagoas no tempo em que os filmes eram mudos e em preto e branco.

Elas também
Mulheres também foram grandes inspirações. O pioneirismo em trabalhos sociais, principalmente, voltados ao acolhimento de crianças órfãs é o nome de uma das maiores ruas de Três Lagoas: Maria Guilhermina Esteves. Foi ela quem fundou o antigo Abrigo Poço de Jacó.

Empoderamento e força às outras mulheres foram os marcos deixados por Maria José Coléte. Costureira, ela ensinou a profissão a outras mulheres e deu aulas em uma escola de corte e costura. A iniciativa serviu para que muitas moradoras de Três Lagoas descobrissem vocação pela lida com tecidos e agulhas e também na valorização da mulher provedora dentro de casa.

Raio-X
Em janeiro de 2006, o Jornal do Povo fez uma série de reportagens especiais – “Meu Bairro”, que descrevia dificuldades, carências e curiosidades deles.

No dia 25, a Vila Carioca foi destaque na página 11. Na reportagem, a principal queixa dos moradores era a falta de asfalto. Treze anos depois, o bairro possui asfalto em praticamente toda sua extensão.
A realidade do Carioca era de um bairro tranquilo e agradável para se viver. Hoje, o índice de criminalidade na região é um dos maiores da cidade.

Mais do que ruas
Nomes de figuras importantes para o surgimento e desenvolvimento de Três Lagoas avançam além da homenagem em ruas. A exemplo, um respeitável pecuarista da década 1930: Miguel Jorge Tabox. Foi prefeito de Três Lagoas em 1989, teve sua popularidade marcada pela pecuária e pela trágica morte – assassinado na própria casa. Hoje, dá nome ao balneário municipal. Um dos principais pontos turísticos da cidade, frequentado por banhistas que procuram lazer e descanso às margens do rio Sucuriú. No passado, foi proprietário de um posto de combustível e o primeiro empresário a empregar mulheres para operar bombas de combustível. Viva!