Mesmo com a elevação da taxa Selic já definida em reunião anterior, o Relatório de Política Monetária (RPM) do segundo trimestre de 2025, publicado pelo Banco Central nesta quinta-feira (26), amplia os alertas sobre o cenário econômico.
O documento reforça que a inflação no Brasil segue desancorada, as expectativas para os próximos anos continuam acima da meta, e o ambiente internacional impõe riscos adicionais à economia.
De acordo com o relatório, a inflação acumulada em 12 meses subiu de 5,06% em fevereiro para 5,32% em maio, mantendo-se fora do intervalo de tolerância da meta contínua de 3%.
Mesmo com uma leve surpresa negativa nas projeções recentes, o Banco Central projeta inflação de 4,9% para 2025, acima do centro da meta para ambos os anos. “No horizonte relevante de política monetária, considerado como sendo o quarto trimestre de 2026, a inflação projetada é de 3,6%”, diz o documento sobre a previsão da inflação no ano que vem.
O Comitê de Política Monetária (Copom) já havia classificado esse quadro como “adverso”, com resiliência nos preços de serviços e mercado de trabalho aquecido, o que sustenta o consumo e mantém os núcleos de inflação elevados.
A avaliação técnica é de que, sem uma correção de rumo, a desinflação será lenta e custosa.
Projeção do PIB sobe, mas ritmo de crescimento deve desacelerar
Na contramão da inflação, o Produto Interno Bruto (PIB) teve desempenho melhor que o esperado no primeiro trimestre de 2025. O crescimento foi de 1,4%, impulsionado principalmente pela agropecuária, que teve alta de 12,2%, refletindo uma safra recorde de soja.
Com isso, o BC revisou para cima a projeção de crescimento para o ano, de 1,9% para 2,1%.
Apesar da revisão positiva, o próprio relatório pondera que esse fôlego inicial não deve se manter ao longo do ano. A atividade econômica tende a perder ritmo nos próximos trimestres, pressionada pela política monetária contracionista, pela redução da ociosidade no mercado de trabalho e pelo esgotamento do impulso agrícola.
“Permanece a expectativa de desaceleração da atividade econômica ao longo do trimestre corrente e do segundo semestre”, destaca o texto.
Riscos fiscais e ausência de reformas preocupam
Embora mantenha um tom técnico, o relatório traz preocupações explícitas com a condução fiscal do governo federal. O Banco Central avalia que a falta de avanços em reformas estruturais, combinada com o aumento dos gastos públicos e incertezas sobre a dívida, pode elevar a chamada taxa de juros neutra — o patamar mínimo necessário para conter a inflação sem comprometer o crescimento.
Esse cenário fragiliza a eficácia da política monetária e exige que os juros permaneçam altos por mais tempo, mesmo diante dos custos que isso impõe à atividade econômica e ao crédito.
Cenário internacional incerto amplia os desafios
Além dos fatores internos, o relatório mostra preocupação com o cenário externo. A economia global enfrenta desaceleração gradual, acirrada por tensões geopolíticas, políticas comerciais protecionistas e inflação resistente nas maiores economias.
Destaque para os Estados Unidos, onde o consumo das famílias ainda sustenta o crescimento, mas a elevação de tarifas de importação e o fim de estímulos emergenciais já afetam o desempenho do PIB. O conflito entre Israel e Irã também elevou o preço do petróleo, gerando novos riscos inflacionários.
“A imposição de medidas comerciais pelos EUA e as respostas de seus parceiros podem distorcer os fluxosde comércio e de capitais, provocar choques de oferta e de preços e, no extremo, desorganizar as cadeias produtivas globais”, alerta o relatório.
Para o Brasil, esse ambiente externo agrava a volatilidade cambial e pressiona preços de insumos e alimentos, afetando diretamente a inflação e a política monetária local.