
Campo Grande inicia uma nova fase no enfrentamento das longas filas de espera por consultas, exames e cirurgias especializadas com a adesão ao programa federal “Agora Tem Especialista”. O anúncio feito nesta manhã pela prefeita Adriane Lopes e gestores da saúde municipal e federal marca um aporte de R$ 22 milhões destinados a Mato Grosso do Sul, sendo R$ 13 milhões do Ministério da Saúde e R$ 9 milhões de emendas parlamentares federais, focados na Capital.

O objetivo principal desta iniciativa, que já teve ações iniciadas em outubro, no mês na prevenção ao câncer de mama, é modernizar o sistema de saúde, reduzir o tempo de espera e garantir maior resolutividade nos atendimentos. Segundo Ivone Pelegrinelli, gestora coordenadora do Comitê Gestor da Sesau, “A saúde é uma área que precisa ser repensada todos os dias e o programa Agora Tem Especialistas vem exatamente ao encontro do que a Prefeitura de Campo Grande tem de estar: Modernizar o sistema, reduzir o tempo de espera e garantir mais resolutividade em atendimento à população“.
Estratégia de redução de filas

O investimento permitirá a realização de um grande mutirão que, segundo a prefeita Adriane Lopes, já começou a gerar resultados. “Serão mais de duas mil pessoas que vão passar por cirurgias e também vamos acabar com as filas, por exemplo, de Oftalmologia“. A prefeita detalhou que as ações se concentrarão em cinco especialidades: Oftalmologia, Cardiologia, Oncologia, Neurologia e Ortopedia.
O engajamento dos hospitais é crucial para o sucesso da empreitada. Sueli Lopes Telles, presidente do Hospital de Câncer Alfredo Abrão, destacou o impacto direto na oncologia. “O Programa vai auxiliar o hospital, até porque a gente tem um teto a ser cumprido e o câncer tem avançado muito. Vamos conseguir ampliar as cirurgias, fazer as consultas, o exame e já fazer a cirurgia. A gente assinou agora 130 cirurgias, podendo ampliar“, explicou.

O programa é voltado para hospitais públicos, filantrópicos e privados, assim como clínicas, e adota um modelo de cuidado integrado, remunerando os procedimentos em bloco e com valores superiores à defasada tabela do Sistema Único de Saúde. O Superintendente Estadual do Ministério da Saúde em Mato Grosso do Sul, Ronaldo Costa, exemplificou a dinâmica:
“Quando a mulher for fazer o preventivo, ela colhe o preventivo, faz a mamografia, faz o ultrassom, se precisar faz a biópsia e todo esse conjunto de procedimentos tem uma remuneração integrada, um bloco. Para poder potencializar o diagnóstico com a maior brevidade possível.” A expectativa é que as instituições organizem horários extraordinários, como o atendimento noturno, para ampliar a capacidade.
Repasses e crítica à tabela SUS
O presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, Doutor Victor Rocha, destacou que Campo Grande, como macrorregião, atende quase metade do Mato Grosso do Sul, enfrentando uma grande fila de espera por consultas especializadas, exames e cirurgias após o período da pandemia. Ele relembrou que a saúde pública chegou a ter mais de 100 mil pessoas aguardando por esses procedimentos.

Dr. Victor Rocha citou que a nova portaria remunera os procedimentos em valores muito superiores à tabela SUS, que muitas vezes paga apenas R$ 10,00 por uma consulta. Segundo ele, este aumento na remuneração pode ser de três a quatro vezes o valor normal, incentivando os hospitais a produzirem mais sem aumentar o déficit.
“A tabela SUS está defasada há muitos anos. E quando você vê o governo federal fazendo uma portaria, uma oferta de cuidados integrados, onde ele busca, primeiro, tirar aquele paciente da fila, presidente. Ele quer tirar aquele paciente da fila e resolver na integralidade do cuidado,” afirmou.
Compensação de Créditos Financeiros
O programa “Agora Tem Especialistas” estabelece um fluxo para a Compensação de Créditos Financeiros, permitindo que hospitais públicos e privados adiram ao componente de créditos como forma de remuneração pelos serviços especializados prestados. Para participar, as instituições devem, primeiramente, manifestar interesse, preencher a Matriz de Oferta e cumprir critérios rigorosos de adesão, como apresentar a capacidade técnica de oferta e comprovar regularidade fiscal, trabalhista e previdenciária.
O fluxo prevê que, após a análise e deferimento pelo Ministério da Saúde (MS), o hospital interessado siga para a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) ou Receita Federal do Brasil (RFB) para a transação tributária, onde a dívida com a União pode ser abatida pelo serviço prestado à saúde, um mecanismo que busca desafogar o SUS ao mesmo tempo que oferece um alívio financeiro às instituições credenciadas.
Situação Santa Casa
O cenário de desequilíbrio financeiro da Santa Casa de Campo Grande escalou para uma crise de serviços em outubro de 2025, quando médicos que prestam serviço como Pessoas Jurídicas (PJs) decidiram protestar pacificamente contra o atraso de cinco meses no pagamento de seus honorários. O presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul (SinMed/MS), Marcelo Santana Silveira, classificou a situação como “inaceitável” e “uma afronta direta à dignidade profissional,” ao mesmo tempo que cobrava da gestão hospitalar e das autoridades um plano urgente de quitação.
A mobilização, que manteve inalterados os atendimentos de urgência e emergência por decisão dos profissionais, expôs a fragilidade estrutural da instituição, que por sua vez atribui o colapso ao subfinanciamento crônico do SUS. O hospital afirma que a alta demanda, combinada com a defasagem dos valores pagos, gerou um desequilíbrio contratual que ultrapassa R$ 250 milhões, citando decisões judiciais favoráveis ao reequilíbrio. A prefeita Adriane Lopes reconheceu o gargalo e mencionou que a Capital tem “em torno de 9.500 cirurgias represadas,” e conta com o programa “Agora Tem Especialistas” na oferta de uma tabela nova e atrativa para a realização de cirurgias e alívio da situação.