
O cooperativismo deve ganhar projeção global em 2025, ano que foi declarado pela Organização das Nações Unidas como o Ano Internacional das Cooperativas. Em Mato Grosso do Sul, o reconhecimento ocorre em meio a um cenário de desafios no campo, marcado por custos elevados de produção, crédito mais caro e aumento dos pedidos de recuperação judicial entre produtores rurais.
Segundo Celso Regis, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras em Mato Grosso do Sul (OCB-MS), o destaque dado pela ONU reforça um modelo econômico que combina atividade empresarial com distribuição de renda. “Cooperativas são empresas como qualquer outra, mas com uma diferença essencial: os resultados retornam para as pessoas que participam do negócio”, afirmou em entrevista.
O dirigente avalia que os últimos dois anos foram especialmente difíceis para o setor agropecuário, com alta nos custos de insumos, juros elevados e maior pressão sobre a rentabilidade do produtor. Nesse contexto, as cooperativas tiveram papel relevante ao oferecer orientação técnica, apoio comercial e acesso ao crédito em condições mais equilibradas.
Dados do setor indicam que produtores associados conseguiram atravessar o período com menos dificuldades do que aqueles que atuam de forma individual. Estratégias como diversificação, planejamento financeiro, uso de seguros e negociação coletiva ajudaram a reduzir riscos em um ambiente de incerteza.
Desafios e Recuperação Judicial no Setor
Outro tema que ganhou força em 2025 foi o aumento dos pedidos de recuperação judicial no campo. Para Regis, embora a ferramenta seja prevista em lei, ela deve ser vista como último recurso. “A recuperação judicial rompe relações comerciais e traz impactos duradouros. A negociação direta ainda é o melhor caminho”, disse.
Uma decisão recente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) também trouxe alívio ao cooperativismo ao reforçar que operações entre cooperado e cooperativa — o chamado ato cooperativo — não podem ser incluídas em processos de recuperação judicial, por se tratarem de relações entre o associado e a própria organização da qual ele é dono.
Transformações Internas e Perspectivas Futuras
Além dos desafios econômicos, o setor passa por transformações internas. A participação feminina nas cooperativas e no agronegócio tem crescido, ocupando espaços de gestão e liderança. A expectativa, segundo a OCB-MS, é que essa presença se amplie nos próximos anos.
Para 2026, o cenário ainda aponta para margens pressionadas e possível descompasso entre produção e preços, mas a avaliação do setor é de que o modelo cooperativo segue como uma das principais ferramentas para enfrentar crises. “Quem está unido, atravessa melhor os momentos difíceis”, afirmou Celso Regis.