Veículos de Comunicação

ECONOMIA

Copom pressiona governo por disciplina fiscal após elevar juros ao maior nível desde 2006

Ata cita desorganização nas contas públicas e crescimento de incertezas como entraves à convergência da inflação à meta

Ata cita desorganização nas contas públicas e crescimento de incertezas como entraves à convergência da inflação à meta - Foto:  Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Ata cita desorganização nas contas públicas e crescimento de incertezas como entraves à convergência da inflação à meta - Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Embora tenha anunciado na semana passada o aumento da taxa Selic para 14,75% ao ano, o Banco Central, por meio da ata da 270ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (13), lançou alertas indiretos ao governo federal sobre os efeitos da condução da política fiscal na economia brasileira.

O documento revela que a autoridade monetária vê com preocupação o que classifica como “esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal”, além de incertezas quanto à sustentabilidade da dívida pública e aumento do crédito direcionado.

Para o Copom, esses fatores têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra do país, enfraquecendo a potência da política monetária e dificultando o combate à inflação.

“As políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas”, diz um dos trechos da ata, que também defende a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas, o que pode ser interpretado como uma crítica à ausência de coordenação entre as ações do Banco Central e da equipe econômica do governo federal.

Pressão inflacionária e descrença do mercado

Além das críticas à política fiscal, o comitê demonstrou forte desconforto com a manutenção das expectativas de inflação acima da meta, mesmo em prazos mais longos.

A inflação projetada para 2025 está em 4,8% e para 2026, em 3,6%, ambos os valores superiores ao centro da meta estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3%.

A persistência dessa desconfiança, segundo o Copom, exige juros mais altos por mais tempo. O cenário atual é marcado por inflação de serviços elevada, câmbio pressionado e mercado de trabalho ainda aquecido — vetores que dificultam a convergência da inflação à meta.

“Em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”, resume o documento.

Atividade econômica e crédito em desaceleração

O comitê também relatou sinais de moderação no crescimento da economia, resultado direto da política monetária restritiva, e reconheceu que o impacto dessa desaceleração ainda está em curso.

O crédito bancário, por exemplo, já mostra menor ritmo de concessões, com juros mais altos e redução no apetite ao risco.

Apesar disso, a inflação continua pressionada por fatores internos e externos, incluindo os efeitos da política tarifária dos Estados Unidos sobre os mercados globais, o que reforça o tom de cautela adotado pelo Copom.

Avaliação para as próximas decisões

O Copom conclui a ata indicando que continuará atento a novos dados antes de qualquer alteração na trajetória dos juros. A calibragem da política monetária — que permanece significativamente contracionista — dependerá da evolução do mercado de trabalho, das projeções de inflação, do câmbio e do comportamento da economia doméstica.