Na tarde deste domingo (22), a Associação de Guias de Montanha do Peru (AGMP) confirmou que, apesar de terem sido localizados, os corpos do fotógrafo brasileiro Edson Vandeira, de 36 anos, e dos montanhistas peruanos Homer Efraín Pretel Alonzo (34) e Jesús Manuel Huerta Picón (31) ainda permanecem na geleira.
O trio desaparecido há três semanas escalou a face sul do Nevado de Artesonraju, na Cordilheira Branca, nos Andes peruanos – considerada uma das mais técnicas montanhas de alpinismo da América Latina.
O cume do Artesonraju tem altitude de 6.025 metros. Segundo o comunicado oficial, as equipes de busca, contratadas por familiares das vítimas, identificaram os corpos em trechos inacessíveis, o que tem inviabilizado o transporte imediato.
Barracas rasgadas e equipamentos parcialmente soterrados, indicando que o grupo enfrentou ventos intensos e pode ser tido atingido por uma avalanche.
A AGMP pediu apoio do Ministério da Defesa e da Polícia Nacional do Peru com helicóptero e socorristas para o resgate em meio a penhascos íngremes. “Solicitamos apoio urgente para transporte aéreo e remoção dos corpos”, diz trecho do documento.
O Ministério da Defesa do Peru e a Polícia Nacional aguardam melhores condições climáticas para enviar helicópteros e equipes de alta montanha com equipamentos específicos.
De acordo com as autoridades peruanas, o gelo instável e as frequentes avalanches dificultam o avanço das operações. Além disso, os ventos intensos registrados nos últimos dias mantêm a visibilidade precária, prejudicando ainda mais a ação.
Fotógrafo e montanhista
Edson Vandeira, nascido em São Paulo e radicado por três anos em Campo Grande (MS), ganhou destaque ao fotografar a fauna urbana — com foco em capivaras — e documentar o incêndio de 2020 no Pantanal, que deu origem ao documentário “Eu fui conhecer o Pantanal e ele não estava lá”.
Além disso, sua carreira incluiu nove expedições na Antártida e participações em produções do History Channel e National Geographic, como a série documental “Andes Extremo”.
Em maio deste ano, Edson concluiu sua formação como guia pelo Centro de Estudos de Alta Montanha (CEAM) e, junto com os outros dois montanhistas, fazia curso de aspirante a guia da Federação Internacional de Associações de Guias de Montanha.
O trio teria organizado a expedição de forma independente. Vandeira morava atualmente em Huaraz, no Peru.
Artesonraju
O Monte Artesonraju é uma das mais belas pirâmides de gelo da Cordilheira Branca, nos Andes peruano. Vista do norte, acredita-se que Artesonraju tenha sido a inspiração para o logotipo da Paramount Studios.
Quando a montanha foi escalada pela primeira vez em 1932, por uma expedição alemã, foi pela crista norte. Hoje, a rota de escalada mais popular é a íngreme e nevada face sudeste. A subida ao cume é extremamente difícil, apresentando uma parede vertical de gelo de 600 m de comprimento e 50° de inclinação, o que exige um alto nível de conhecimento técnico, bem como excelente condição física.
A escalada é adequada apenas para montanhistas extremamente experientes com excelente técnica de escalada no gelo. A aventura passa por dois pontos de acampamento, o de base – localizado a 4.650 metros de altitude e o acampamento alto, a 5.350 metros de altitude.
Para chegar ao cume, a partir do acampamento alto, os montanhistas enfrentam uma expedição que chega a durar 10 horas de subida e, no retorno, de cerca de seis horas, enfrentando as intempéries dos Andes.
A Cordilheira Branca, onde fica o Artesonraju é considerada a maior cadeia de montanhas tropicais do mundo, com mais de 180 quilômetros de extensão e mais de 50 picos que ultrapassam os 5.700 metros de altitude, reunindo 712 glaciares.