Veículos de Comunicação

SAÚDE PÚBLICA

Descarte irregular de prontuários ameaça repasses federais ao Caps Aero Rancho

Denasus alerta que unidade de saúde mental pode ser descredenciada se não comprovar controle adequado dos atendimentos

Denasus alerta que unidade de saúde mental pode ser descredenciada se não comprovar controle adequado dos atendimentos - Foto: Reprodução/Sesau
Denasus alerta que unidade de saúde mental pode ser descredenciada se não comprovar controle adequado dos atendimentos - Foto: Reprodução/Sesau

A unidade Caps III do bairro Aero Rancho, em Campo Grande, corre o risco de perder o repasse de recursos federais por falhas graves no controle e armazenamento de prontuários médicos.

O alerta foi feito nesta segunda-feira (4) pelo diretor do Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus), Rafael Bruxellas, durante a entrega do relatório final da auditoria à Polícia Civil.

O documento revela que cerca de 90% dos prontuários produzidos entre 2009 e 2024 não foram localizados. A ausência dos registros compromete a comprovação dos atendimentos realizados, condição essencial para manter o credenciamento junto ao Ministério da Saúde.

“Se o município não conseguir demonstrar que tem capacidade de prestar o serviço com qualidade e manter os registros adequados, o Caps Aero Rancho pode ser descredenciado”, afirmou Bruxellas.

Segundo o Denasus, o descarte foi feito de forma irregular e sem digitalização. Há indícios de que parte dos documentos sigilosos — que deveriam ser mantidos por pelo menos 20 anos, conforme a legislação — foi enviada para recicladoras, gerando ainda riscos de exposição indevida de dados pessoais.

Investigação criminal

A auditoria integra um inquérito conduzido pelo Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), instaurado após denúncia da Defensoria Pública em outubro do ano passado.

A principal queixa era de que pacientes não conseguiam acesso ao próprio histórico médico.

Durante a investigação, foram cumpridos mandados de busca e apreensão na unidade e nas residências de servidoras do setor administrativo, responsáveis pelo controle dos prontuários.

Apenas cerca de 10 mil registros foram encontrados — todos de anos recentes. Três funcionárias foram afastadas por decisão judicial.

A delegada Ana Cláudia Medina, titular do Dracco, afirmou que documentos de pacientes foram encontrados em domicílios particulares, o que agrava a suspeita de desvio de conduta.

“Mesmo com a justificativa de digitalização, o descarte de documentos sigilosos exige trâmite formal e rígido. Isso não foi respeitado”, disse a delegada.

Entrega de relatório realizado no Dracco na manhã desta segunda-feira (4) – Foto: Fernando de Carvalho/Portal RCN67

Repercussões e plano emergencial

O Denasus também questiona a eficácia do sistema Hygia, no qual a prefeitura investiu R$ 10 milhões para digitalizar os prontuários. “Não há comprovação de que houve migração dos dados nem que o sistema esteja funcionando de forma plena”, pontuou Bruxellas.

Diante da gravidade da situação, o Ministério da Saúde e a Defensoria Pública devem se reunir com a Secretaria Municipal de Saúde para discutir um plano emergencial de reconstrução parcial dos registros e garantir a continuidade do serviço.

“Sem prontuários, não há como comprovar os atendimentos e manter os recursos federais. A manutenção da unidade depende de resposta rápida do município”, concluiu o diretor do Denasus.