
Comuns em um passado não tão longínquo, as comitivas pantaneiras ainda resistem ao tempo, elas são responsáveis pela condução do gado de uma fazenda a outra, nesses agrupamentos a figura mais importante é a do cuca – o cozinheiro do grupo. É ele que detém o conhecimento que não se ensina na escola, mas que é importantíssimo para a manutenção de uma comitiva. Além de cozinhar, o cuca é responsável pelo dinheiro e por carregar os mantimentos e os pertences de toda a equipe.
As comidas são organizadas dentro das bruacas, espécie de mala de couro presa na garupa dos burros, chamados cargueiros. É o cuca quem conduz a tropa de cargueiros, viajando à frente da boiada, e quem decide o momento e o local de retirar as bruacas das costas dos animais. É ele também que arreia os burros e corta a lenha usada no preparo da comida dos boiadeiros.
Uma vez decidido o local de parada, o cozinheiro monta um acampamento simples e prepara a refeição dos peões. O cardápio de uma comitiva conta com comidas fáceis de transportar e rápidas de preparar – muitas vezes numa única panela –, como arroz carreteiro e macarrão tropeiro. No momento do repasto, os peões sentam-se todos juntos e iniciam um ritual. Para mexer nas panelas, pedem licença ao cuca ou esperam seu convite para iniciar a refeição.
Há toda uma estratégia de serviço nas comitivas: as tampas das panelas são equipadas com argolas de arame, que se ajustam ao dedo mínimo do peão, permitindo, assim, que ele possa segurar o prato com uma mão e servir-se da comida com a outra, já que não há apoio – apenas a panela no fogareiro ao chão. Outra regra é pegar a comida sem derrubar a tampa da panela. Quando regras assim são quebradas, o cuca entra em ação, emitindo um som que parece o de uma galinha. A punição é clara: o peão terá que comprar um frango para a refeição seguinte. Depois de uma boa noite de descanso da jornada, o cuca serve o café da manhã bem cedinho. É o costumeiro quebra-torto.
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