O crescente endividamento no campo, agravado por problemas climáticos e falta de apoio estruturado, tem colocado em xeque a saúde financeira e emocional dos produtores rurais em todo o país.
A avaliação é do advogado Carlos Batalha, do escritório Lima e Pêgolo Advogados, que participou nesta quarta-feira (12) do quadro Explicando Direito, no programa Microfone Aberto, da Massa FM Campo Grande.
Durante a entrevista, Batalha explicou que o agronegócio nacional enfrenta uma crise de grandes proporções, resultado de sucessivas safras frustradas, acesso a crédito caro e vulnerabilidade a eventos climáticos extremos.
Segundo ele, a realidade se repete em todas as regiões do país, afetando desde grandes exportadores até os pequenos e médios produtores que abastecem o mercado interno.
Efeito dominó no crédito e na produção
“O produtor, muitas vezes, para manter os compromissos, toma crédito com juros altos e quita dívidas anteriores, entrando em um ciclo cada vez mais difícil”, explicou. Esse tipo de operação, segundo o advogado, compromete a sustentabilidade financeira de famílias inteiras que dependem do campo e cuja atividade é, muitas vezes, passada de geração em geração.
Batalha lembra que o agronegócio é, por natureza, uma “indústria a céu aberto”, ou seja, depende de condições climáticas favoráveis e está sujeito à oscilação de preços de commodities e câmbio.
“É um setor essencial para a economia e para a segurança alimentar do país. Por isso, precisa ser encarado com mais seriedade pelo poder público e pela sociedade.”
Pequenos produtores são os mais afetados
O advogado ressaltou que o impacto da crise atinge especialmente pequenos e médios produtores, mais expostos à quebra de safra e com menos margem para negociar com instituições financeiras.
Ele destacou também a proximidade que esses produtores mantêm com os gerentes bancários, o que contribui para decisões impulsivas na contratação de crédito — muitas vezes sem orientação jurídica adequada.
“Esses produtores são quem realmente movimenta o dia a dia das cidades e fornecem o alimento que consumimos. Mas ainda são os que mais sofrem com a falta de apoio técnico, logístico e jurídico”, afirmou.
Alerta para a saúde mental no campo
Um dos pontos mais delicados da entrevista foi a menção ao aumento dos casos de depressão e suicídio entre produtores rurais. Batalha citou o caso do Rio Grande do Sul, onde, após as enchentes, produtores perderam tudo e agora enfrentam dívidas crescentes, com alguns chegando a tirar a própria vida.
“Não é um problema individual, é uma crise estrutural do setor. É importante que esses produtores saibam que não estão sozinhos e que existem caminhos jurídicos para buscar soluções”, pontuou.
Saída passa por estratégia e política pública
Questionado sobre alternativas para quem está endividado, o advogado defendeu que produtores devem buscar orientação jurídica desde o início de suas atividades, ainda na fase de planejamento e contratação de crédito.
“Existem instrumentos legais e estratégicos que podem ser utilizados para reestruturar dívidas e reorganizar a produção”, explicou.
Além disso, Batalha fez um apelo direto a parlamentares e gestores públicos. “É hora de os deputados, senadores e governadores colocarem esse tema no centro do debate. Precisamos de ações concretas para manter o produtor no campo, garantindo não só a economia, mas a dignidade de quem produz”, disse.
Confira a entrevista na íntegra: