Veículos de Comunicação

SEGURANÇA AÉREA

Falha e fumaça causaram queda de helicóptero da Força Nacional no Pantanal em 2020

Piloto morreu dias após o acidente; relatório indica problemas mecânicos e falhas operacionais no momento do voo

A aeronave saiu de Corumbá e caiu cerca de 13 quilômetros depois - Foto: Centro Integrado de Operações Aéreas
A aeronave saiu de Corumbá e caiu cerca de 13 quilômetros depois - Foto: Centro Integrado de Operações Aéreas

O acidente com o helicóptero da Força Nacional que caiu durante uma missão de combate a incêndios no Pantanal, em 8 de outubro de 2020, foi causado por uma falha em uma peça do sistema de combustível e pela baixa visibilidade provocada pela fumaça.

É o que aponta o relatório final do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), divulgado mais de quatro anos após o acidente.

A aeronave havia saído de Corumbá com destino à região de Poconé (MT) quando perdeu força e caiu pouco tempo depois do acionamento do alerta de emergência. A bordo estavam três agentes de segurança pública: o comandante Renato de Oliveira Souza, de 55 anos, o copiloto Luiz Fernando Berberick e o sargento Emerson Miranda Martins, ambos do Rio de Janeiro.

Renato, que também era agente da Polícia Civil do Distrito Federal, sobreviveu ao acidente, mas faleceu dias depois, no Rio de Janeiro, após complicações respiratórias.

Queda rápida e peça contaminada

O relatório do Cenipa concluiu que a aeronave sofreu uma queda de desempenho devido à perda repentina de potência, causada por falhas internas em uma peça essencial do sistema de combustível.

A válvula reguladora apresentava corrosão e obstrução parcial, com indícios de contaminação por água ou impurezas, o que comprometeu o funcionamento adequado do motor.

Além disso, as condições da missão também agravaram a situação. A fumaça intensa dos incêndios no Pantanal reduziu drasticamente a visibilidade, forçando os pilotos a voar a cerca de 200 pés de altura (cerca de 60 metros) — uma margem muito baixa para lidar com emergências.

Ao perceber a falha, os tripulantes iniciaram uma manobra de pouso de emergência, mas a baixa altitude impediu a recuperação da aeronave antes do impacto.

Recomendações

Com o objetivo de prevenir novos acidentes, o relatório apresentou três recomendações de segurança direcionadas à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC):

  • Divulgar os aprendizados a outras equipes que operam aeronaves públicas: a recomendação é estender esse conhecimento a todo o setor público que trabalha com aviação, para que os erros não se repitam.
  • Revisar os treinamentos e procedimentos operacionais da Força Nacional: a recomendação sugere avaliar se os materiais usados pelos pilotos em missões especiais estão atualizados e seguem as normas de segurança exigidas para esse tipo de operação.
  • Compartilhar as lições aprendidas com a equipe envolvida no acidente: a ideia é que os próprios profissionais da Força Nacional utilizem o que foi descoberto na investigação para melhorar a forma como lidam com riscos, principalmente em missões feitas com outras unidades aéreas.

Histórico e despedida

Renato de Oliveira Souza era um dos pilotos mais experientes da Força Nacional. Ingressou na corporação em 2016 e comandou a aeronave “Nacional 01” em diversas operações. Atuou nos Jogos Olímpicos do Rio, no desastre de Brumadinho (MG) e na Amazônia.

Na época, o Ministério da Justiça emitiu nota destacando seu “profissionalismo e dedicação pelo país”.