Em um vídeo que circula nas redes sociais, uma internauta registrou a cena de um tamanduá atropelado, já sem vida, enquanto o filhote permanecia agarrado ao corpo da mãe, se recusando a deixá-la. O atropelamento ocorreu no domingo (31), na rodovia MS-427, em Rio Verde de Mato Grosso.
A imagem comoveu quem presenciou o apego do filhote à mãe. Diante da situação, a Polícia Militar Ambiental foi acionada e resgatou o animal. Trata-se de um macho que não apresentava ferimentos e foi encaminhado ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande.
O comportamento é típico da espécie: os filhotes de tamanduá costumam ser carregados pela mãe até os seis meses de idade. Segundo a veterinária e presidente do Instituto Tamanduá, Flávia Miranda, sem o resgate o pequeno não sobreviveria na natureza.
“Ele ainda mama. Por mais que já esteja um pouco grandinho e comece a aprender a se alimentar sozinho, provavelmente não sobreviveria. Pode até comer uma formiga ou um cupim, mas é muito fácil de ser predado”, explicou.
Atropelamentos
A cena reforça a importância de redobrar a atenção dos motoristas nas estradas de Mato Grosso do Sul, onde a presença da fauna é intensa.
De acordo com o Projeto Bandeiras e Rodovias, realizado pelo ICAS – Instituto de Conservação de Animais Silvestres –, entre 2017 e 2020 foram registrados 12.400 animais silvestres mortos em apenas 85 quilômetros de rodovia.
Do total, 40% eram espécies de grande porte, o que aumenta o risco de acidentes e danos materiais. Entre os animais mais atropelados estão 968 capivaras, 766 tamanduás-bandeira e 425 antas.
Segundo Flávia Miranda, o tamanduá está entre as principais vítimas justamente por ter locomoção lenta.
“O tamanduá é um dos mais atropelados, assim como o tatu, que também é mais lento. Além disso, o olho dele não reflete a luz dos faróis, o que dificulta a visibilidade”, destacou.
Entre as medidas para reduzir esse tipo de ocorrência, a veterinária defende a instalação de passagens de fauna sob as rodovias, redutores de velocidade e, sobretudo, campanhas de conscientização.
“O mais importante é a educação. O valor de uma espécie como o tamanduá para o Pantanal vai muito além da manutenção do ambiente, envolve também ecoturismo e equilíbrio ecológico”, ressaltou.
Penalidades
De acordo com a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), o atropelamento de animal pode ser considerado maus-tratos se o motorista agir de forma intencional. A pena prevista é de dois a cinco anos de reclusão, além de multa.
Nos casos sem intenção, o atropelamento ainda pode configurar infração gravíssima se o condutor não parar para prestar socorro, com multa e acréscimo de sete pontos na carteira de habilitação.