
O glaucoma, uma das principais causas de cegueira no mundo, foi o tema da entrevista desta segunda-feira (26) com o médico oftalmologista e especialista na área, Arthur Resende, durante o quadro Saúde é Massa, no programa Microfone Aberto, da Massa FM Campo Grande.
Segundo o especialista, o grande risco da doença está no caráter silencioso e progressivo, o que dificulta o diagnóstico precoce.
“O glaucoma causa a morte do nervo óptico, que é como um fiozinho que conecta o olho ao cérebro. Quando esse nervo sofre agressões, especialmente pela pressão ocular elevada, ele vai morrendo e, com ele, a visão do paciente”, explicou Resende.
O médico alertou que, ao contrário de outras doenças oculares, o glaucoma não costuma apresentar sinais visíveis, como dor, vermelhidão ou visão turva. Muitas vezes, o diagnóstico só ocorre em consultas oftalmológicas de rotina.
Fatores de risco e quem deve redobrar a atenção
De acordo com o oftalmologista, o glaucoma pode afetar pessoas de todas as idades, inclusive recém-nascidos, no caso do glaucoma congênito. No entanto, os idosos, pessoas com histórico familiar e indivíduos da população negra são os mais vulneráveis à doença.
“É uma enfermidade que possui um componente genético importante. Quem tem parentes próximos com diagnóstico de glaucoma precisa estar atento. A idade avançada e a pressão intraocular elevada também são fatores de risco significativos”, afirmou.
Doença não tem cura, mas é controlável
Arthur Resende enfatizou que o glaucoma não tem cura, mas pode ser controlado com tratamento adequado. “Nosso objetivo é evitar a perda visual e parar a progressão da doença. Muitas vezes, o tratamento consiste no uso diário de colírios para reduzir a pressão intraocular”, destacou.
Ele acrescentou que, com o tratamento adequado, é possível que uma pessoa diagnosticada com glaucoma mantenha a visão preservada por toda a vida. “Quero que o paciente controle o glaucoma e viva até os 100 anos, mas enxergando”, pontuou.
Prevenção e diagnóstico precoce são fundamentais
O médico recomendou que pessoas pertencentes aos grupos de risco realizem consultas oftalmológicas anuais. Nessas consultas, o especialista avalia a pressão ocular e a saúde do nervo óptico, o que permite detectar sinais precoces da doença.
“O diagnóstico é clínico, feito pelo oftalmologista. Caso haja suspeita, são realizados exames complementares. A partir daí, se confirmado o glaucoma, o tratamento é iniciado”, orientou.
Resende também criticou a automedicação, sobretudo com o uso de medicamentos que contêm corticoides, pois eles podem elevar a pressão intraocular e desencadear a doença. “É preciso evitar o uso indiscriminado de colírios e outros medicamentos sem orientação médica”, reforçou.
Tipos de glaucoma: do congênito ao mais agressivo
Durante a entrevista, o oftalmologista detalhou os principais tipos de glaucoma:
- Congênito: diagnosticado nos primeiros meses de vida, pode causar cegueira irreversível se não for tratado precocemente.
- Medicamentoso: relacionado ao uso inadequado de medicamentos, principalmente corticoides.
- Primário de ângulo aberto: o mais comum e silencioso, afeta principalmente idosos e evolui lentamente.
- De ângulo fechado: menos comum, mas mais agressivo, pode causar crises com dor intensa, náuseas e até levar o paciente a procurar pronto-socorro, quando o ideal seria o atendimento oftalmológico imediato.
“Qualquer risco de desenvolver glaucoma pode ser identificado em uma consulta de rotina com o oftalmologista”, ressaltou.
Tratamento gratuito e distribuição de colírios pelo SUS
Arthur Resende destacou que, em Mato Grosso do Sul, o tratamento para glaucoma é disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “O governo estadual entrega os colírios diretamente na casa dos pacientes. Isso é algo que nem países desenvolvidos, como o Japão, conseguem oferecer”, afirmou.
Segundo o médico, para ter acesso ao medicamento, o paciente deve procurar a Secretaria Municipal de Saúde de seu município, apresentar os laudos preenchidos pelo oftalmologista e retirar a medicação. Em Campo Grande, a retirada ocorre na Casa da Saúde.
“Os laudos são válidos por seis meses. Depois desse período, é necessário passar por nova avaliação médica para verificar se o tratamento está funcionando e, se for o caso, renovar a autorização para retirada do colírio”, explicou.
O especialista reconheceu que podem ocorrer falhas pontuais no fornecimento, mas, no geral, o acesso aos medicamentos tem sido garantido. “Antes, muitos pacientes não conseguiam manter o tratamento por conta do alto custo. Hoje, com o apoio do sistema público, conseguimos evitar que as pessoas fiquem cegas por falta de tratamento”, afirmou.
O glaucoma no contexto social e econômico
Resende lembrou que o glaucoma é um problema global, mas que atinge com mais força pessoas de baixa renda e idosos, que já convivem com outras doenças crônicas e custos elevados com medicamentos.
“Um frasco de colírio pode custar até R$ 200 por mês, o que pesa muito no orçamento de quem já tem que comprar remédios para hipertensão, diabetes, colesterol, entre outros”, disse.
Por isso, o médico reforçou a importância de políticas públicas que garantam acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento contínuo.
“Aqui no estado, ninguém mais precisa ficar cego por falta de tratamento. A estrutura está montada, basta procurar o oftalmologista e iniciar o acompanhamento”, concluiu.
Confira a entrevista na íntegra: