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"O método mudou o padrão da doença”, diz infectologista sobre uso da Wolbachia na Capital

Pesquisa analisa quase 15 anos de dados e detalha a atuação da Wolbachia e os próximos passos do programa de controle vetorial

Análise aponta prevalência superior a 80% de mosquitos com Wolbachia - Foto: Ana Lorena Franco/Massa FM
Análise aponta prevalência superior a 80% de mosquitos com Wolbachia - Foto: Ana Lorena Franco/Massa FM

A liberação em massa de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia reduziu em 63,2% os casos de dengue em Campo Grande em 2024, resultado considerado inédito no país e que será publicado em fevereiro em revista científica internacional.

O estudo analisou quase 15 anos de dados e mostrou que a Capital teve queda progressiva de casos mesmo enquanto o Brasil registrava o maior número de infecções e óbitos por dengue da história. “2024 foi o ano de maior número de casos no Brasil, mas Campo Grande teve menos dengue que em 2023 e menos que em 2022”, afirmou o infectologista e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, em entrevista à Massa FM.

A estratégia foi aplicada entre 2020 e 2023 e funciona ao introduzir a bactéria Wolbachia — naturalmente presente em 60% dos insetos — no Aedes aegypti, o que impede o mosquito de transmitir dengue, zika e chikungunya. Campo Grande atingiu 86% de prevalência de mosquitos com Wolbachia, desempenho considerado acima do necessário para impacto epidemiológico.

Croda destacou também que a estratégia reduz o uso de inseticidas, evita resistência dos mosquitos e diminui gastos com controle químico.

“O método só é efetivo se mais de 60% dos mosquitos forem infectados. A cidade é horizontal, tem acesso a diferentes bairros e isso favoreceu muito a eficácia. Alguns inseticidas podem trazer risco para a população. Com a Wolbachia, reduz o custo e o impacto ambiental”

O pesquisador explicou que, embora expressiva, a redução não elimina totalmente a transmissão e exige que a população siga com as medidas básicas de prevenção. Ele alertou que surtos registrados em cidades vizinhas, como Maracaju e Jaraguari, não se repetiram na Capital graças à intervenção.

“O método reduz 63% dos casos, mas não é 100% protetivo. É necessário continuar eliminando focos e organizando o serviço de saúde. A demanda vai ser menor, mas não podemos ter óbitos por falta de atenção”, afirmou.

O estudo envolveu colaboração nacional e internacional. O Ministério da Saúde financiou a tecnologia, a Fiocruz executou o programa e o Estado e a Prefeitura garantiram estrutura, equipes e apoio comunitário. Sobre o futuro, Croda afirmou que o monitoramento continuará e que novas solturas podem ser necessárias se a prevalência da bactéria cair com o tempo.

O Ministério da Saúde planeja expandir a metodologia para mais de 50% da população brasileira até 2030, com uma biofábrica capaz de produzir 100 milhões de mosquitos por semana. “Aqui no Estado, existe proposta para levar a tecnologia para Três Lagoas e Corumbá. Depende da articulação entre município, Estado e Fiocruz”, completou.

Acompanhe a entrevista completa: