Um erro aparentemente banal revelou o paradeiro de um dos operadores mais discretos do Primeiro Comando da Capital (PCC) fora do Brasil. Everton de Brito Nemésio, conhecido como ‘Delinho‘, foi preso nesse domingo (11), em Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai, após ser identificado como o intermediário de mensagens entre lideranças da facção.
Segundo a Polícia Civil, Delinho era responsável por levar recados entre chefes presos e os chamados “sintonias” — integrantes da facção em liberdade com funções operacionais e financeiras.
Ele foi abordado por policiais militares na região central de Ponta Porã no momento em que conduzia uma caminhonete Chevrolet S10. Delinho apresentou documento falso aos PMs que, ao consultarem o sistema nacional de registros, confirmaram a fraude.
Everton de Brito Nemésio era procurado pela Justiça. Contra ele havia mandado de prisão ativo expedido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Ele foi preso e levado à 1ª delegacia de Polícia Civil de Ponta Porã.
As investigações revelaram que Delinho mantinha contato direto com Fabiana Manzini, esposa de Anderson Manzini, Fabiana, de 40 anos, é casada com Anderson Manzini — o braço direito de Andinho, considerado o “sequestrador do PCC”, condenado a 705 anos de prisão.
Anderson é alvo de disputa interna com grupos ligados a Marcola, líder histórico da facção.
A assinatura que derrubou o disfarce
Apesar de usar cartões de memória ativados no exterior e identidades falsas para ocultar sua atuação, Delinho foi traído por um gesto aparentemente simples: uma assinatura.
A queda do “pombo-correio do crime” começou no ano passado, quando uma carta enviada à Fabiana e interceptada pela polícia, chegou às mãos da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), de Mogi das Cruzes (SP).
No texto manuscrito, Everton agradece um vídeo recebido e termina com um pedido inusitado:
“Muito obrigado pelo vídeo. Palavras sábias. Até me deu um arrepio só de ouvir, cunhada, como se fosse pra mim. Aproveito para pedir à senhora, por favor, apresenta meu nome e de minha família nas orações da igreja. Meu nome é: Everton Nemésio”.
A assinatura foi a chave para confirmar que o autor das cartas — até então identificado apenas como “Delho” — era, de fato, Delinho, considerado o sintonia financeira da facção fora do Brasil.
Investigado por lavagem bilionária
Além da função de mensageiro, Delinho está envolvido em uma investigação sobre um esquema bilionário de lavagem de dinheiro, que inclui a tentativa de infiltração política do PCC.
Seu nome aparece em conversas entre Fabiana Manzini e João Gabriel Yamawaki, apontado como gestor de um “banco digital do crime” que teria movimentado R$ 8 bilhões.
João Gabriel, primo do Gordo, foi preso anteriormente e é acusado de comandar 19 empresas de fachada usadas para lavar dinheiro, financiar campanhas e abastecer o tráfico.
Conversas obtidas pela polícia indicam planos da facção para lançar candidatos a vereador em diversas cidades do interior e do litoral paulista.
Everton será transferido ao sistema prisional, e a investigação segue em sigilo com articulação entre polícias civis e federais.
Até o fechamento desta reportagem, a redação do Portal RCN67 não conseguiu contato com a defesa dos acusados.