O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou no último dia 4 de julho o chamado One Big, Beautiful Bill — um megaprojeto orçamentário que inclui cortes de impostos, aumento de gastos militares e incentivos à agricultura e à produção de energia no país.
A medida tem impactos diretos no agronegócio brasileiro, especialmente no setor de exportação de soja e milho.
Com a nova legislação, produtos agrícolas norte-americanos terão incentivos fiscais permanentes. Entre as principais medidas está a ampliação do crédito tributário 45Z (incentivo tributário voltado à produção de combustíveis limpos com base em emissões reduzidas), voltado para o setor de biocombustíveis.
O dispositivo passa a beneficiar apenas indústrias que utilizam matéria-prima produzida dentro dos Estados Unidos, o que retira a competitividade de fornecedores estrangeiros, como o Brasil.
“A lei fortalece a agricultura americana e reduz o espaço para o produto brasileiro em algumas cadeias, como a de biocombustíveis. Indústrias que antes importavam óleo de soja do Brasil, agora terão incentivo fiscal apenas se usarem insumos dos Estados Unidos”, avaliou o analista de mercado da Royal Rural, Ronaldo Fernandes.
Segundo ele, o efeito pode ser duplo: por um lado, a menor exportação de soja americana pode fazer com que compradores internacionais paguem mais pelo produto de outros países, como Brasil e Argentina, o que valorizaria as exportações brasileiras.
Por outro, o aumento do consumo interno nos Estados Unidos pode pressionar o mercado global via competitividade fiscal, já que o produto americano passa a ter mais vantagens dentro de casa.
Menção direta ao Brasil
Durante a sanção do projeto, a secretária de Agricultura dos EUA, Brooke L. Rollins, citou o Brasil e a China como países que “inundam o mercado norte-americano com matérias-primas para biocombustíveis”, justificando as novas regras como forma de proteger o produtor local.
Para Fernandes, a fala não é apenas retórica. “O mercado interpreta isso como um sinal de que há uma política de proteção mais intensa a caminho. Isso afeta diretamente o Brasil”, afirmou.
Riscos e oportunidades
Apesar da sinalização protecionista, o analista acredita que o Brasil está mais preparado para enfrentar essa nova configuração. “Hoje o país tem estrutura portuária para exportar simultaneamente soja e milho, além de produtividade recorde. Só na última safra, foram 173 milhões de toneladas de soja”, destacou.
O problema, segundo ele, está na dependência do Brasil por grandes compradores, como a China. “Com a pressão americana para que a China compre mais dos EUA, o volume adquirido do Brasil pode cair, gerando excedente interno e pressão sobre os preços”, explicou.
Dívida bilionária e críticas internas
Além dos efeitos no mercado global, o One Big, Beautiful Bill gera polêmica nos Estados Unidos por seus impactos fiscais. Estimativas do Escritório de Orçamento do Congresso apontam que a legislação pode elevar a dívida pública americana em até US$ 3 trilhões na próxima década.
Ainda assim, Trump defendeu o projeto como “o mais popular da história da América” e afirmou que as medidas vão fortalecer a economia e a segurança energética do país. Durante o discurso de assinatura, ele voltou a criticar tecnologias como a energia eólica, chamando-as de “caras e ineficientes”.