
Profissionais da Santa Casa de Campo Grande iniciaram uma paralisação na manhã desta segunda-feira (22) em protesto contra o atraso no pagamento do 13º salário e a proposta da administração de parcelar o benefício em três vezes a partir de janeiro de 2026.
O movimento mobiliza parte significativa dos 3.600 funcionários que compõem o quadro do hospital, pois a categoria rejeitou em assembleia a oferta da diretoria e agora exige o repasse imediato dos valores pelo Governo do Estado. Embora o hospital mantenha 70% do efetivo para garantir atendimentos de urgência, cerca de 600 manifestantes ocupam as ruas do entorno com cartazes e apitos, gritando”queremos receber!”, enquanto as lideranças sindicais buscam uma audiência na Governadoria para destravar os recursos necessários.
Impasse financeiro e revolta da categoria
A crise financeira do hospital culminou no anúncio de que a instituição não possui caixa para quitar a gratificação natalina, uma vez que o Executivo estadual sinalizou o repasse da verba apenas de forma fracionada no próximo ano.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem (Siems), Lázaro Santana, afirma que a situação de instabilidade é recorrente e castiga quem depende exclusivamente desses rendimentos para o sustento familiar.

“O reflexo hoje dessa mobilização é por tudo aquilo que a gente vem passando durante o ano, com salário atrasado e falta de condições de trabalho, por isso o trabalhador está esgotado“, declara o enfermeiro ao ressaltar que a notícia do não pagamento chegou às vésperas do vencimento.
O presidente do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Mato Grosso do Su (Sintesaúde), Osmar Gussi, reforça que a pauta de reivindicações une todos os setores da unidade, desde os serviços de limpeza até o corpo médico, e destaca que o grupo permanecerá em assembleia continuada até que o dinheiro chegue.

“A Santa Casa já nos deu o xeque-mate na sexta que ela não tem recurso e se não chegar esse recurso do Estado, ela não tem como efetuar o pagamento”, explica o dirigente sobre a dependência direta dos repasses públicos para a manutenção dos direitos trabalhistas.
Ainda segundo Osmar Gussi, os protestos e a paralisação só serão encerrados após o pagamento integral do 13º salário a todos os trabalhadores da Santa Casa.
Escassez de insumos e debandada de especialistas
Para além do conflito salarial, a paralisação expõe a precariedade da infraestrutura hospitalar, pois médicos e enfermeiros denunciam o desabastecimento de itens vitais para a segurança dos pacientes.
“Nós trabalhamos diretamente na assistência, como enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem. Então, o que a gente tem acompanhado é que às vezes falta medicação, às vezes falta material, faltam vários tipos de insumos pra poder prestar assistência”, afirma Lázaro Santana.
Segundo o representante sindical, os trabalhadores da enfermagem enfrentam uma sobrecarga constante, causada pela lotação permanente do hospital e por um déficit superior a 300 profissionais afastados por adoecimento, realidade que, por se tratar de uma unidade de referência no estado, tem levado os funcionários ao limite físico e emocional.
Alerta de colapso assistencial no Estado

O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM-MS) emitiu uma nota pública em que manifesta profunda preocupação com o iminente colapso da Santa Casa, pois as fiscalizações recentes comprovam o baixo estoque de remédios de emergência.
A entidade alerta que a omissão das autoridades sanitárias pode levar a uma negligência involuntária nos atendimentos de urgência, o que gera um efeito cascata que sobrecarrega as demais unidades de saúde de Campo Grande. “Observa-se que enquanto as negociações não avançam de forma concreta, os pacientes tendem a ter sua assistência seriamente comprometida”, pontua o conselho ao cobrar que o Poder Judiciário responsabilize os envolvidos pela crise que se arrasta há anos.
*Com imagens de Ana Lorena Franco