
O projeto “Viva Cultura”, que atenderia crianças da rede municipal de ensino no contraturno escolar, foi cancelado pela Prefeitura Municipal. A decisão surpreendeu escolas de cultura da cidade, profissionais envolvidos e famílias que aguardavam as matrículas.
O projeto, anteriormente chamado “Renasce”, havia sido reformulado pela atual gestão do prefeito Marçal Filho (PSDB). O edital foi lançado em maio e previa atendimento de até 50 crianças por instituição, com aulas semanais de duas horas e investimento de R$ 130,00 por aluno. A estimativa era de quase R$ 600 mil em recursos para as atividades ao longo dos 12 meses.
No entanto, no dia 30 de junho, data em que estava prevista a divulgação final das academias selecionadas, as instituições receberam por e-mail a informação de que o projeto havia sido cancelado. A justificativa oficial seria a falta de verba.
Impacto do Cancelamento do Projeto Viva Cultura
“Um dia antes de começar a matrícula das crianças, quando os pais iriam na Secretaria de Cultura fazer a matrícula do projeto, ele foi cancelado. Então as crianças ficaram muito tristes porque já estavam aguardando desde o início do ano. Foi cancelado por motivo de conveniência e até agora não tivemos respostas da Secretaria de Cultura ou da prefeitura. Ninguém quis nos atender. Então, assim, estamos sem nenhuma resposta sobre esse projeto”, relata Larissa Souza, responsável por uma das academias que participaria do projeto.
O cancelamento também impactou diretamente a rotina dos profissionais de cultura. Muitos se dedicaram à elaboração de projetos, incluindo propostas de acessibilidade, como exigido no edital. Uma delas é a advogada e proprietária de uma academia de ballet, Natália Fogaça.
“Então, não é um projeto novo. Ele é um projeto que vem acontecendo por volta de 13 anos na cidade de Dourados. Infelizmente, essa atitude entristeceu não só a nós, academias, que dispusemos de tempo e de dinheiro, muitas vezes, para adaptar aos requisitos do edital as nossas salas, a nossa escola. E entristeceu as famílias também, porque eram muitas famílias. São 769 crianças que seriam contempladas pelo projeto, a gente percebe que a gestão não entende como a cultura também é uma prioridade. Porque principalmente as crianças da periferia, que são o meu público. As crianças não aprendem só a dançar. Ali elas aprendem disciplina, persistência, elas são motivadas. Eu cobro boletim escolar, eu cobro que elas sejam exemplos na escola. Se eu escuto algum burburinho falando de briga, eu já vou lá, já converso. Eu faço com que elas sejam as melhores pessoas que elas possam ser na escola, em casa, na rua. Eu sempre converso com elas para elas não se envolverem com gente errada. Então, é algo muito triste, porque querendo ou não, nós transformamos vidas.
Reações e Implicações Políticas
Durante sessão na Câmara Municipal, o vereador Franklin Schmalz (PT) cobrou explicações formais do Executivo. Ele considerou a atitude inadmissível e reforçou que a iniciativa seria uma ferramenta de inclusão e transformação social.
“Depois de todo o trâmite legal, com escolas organizadas, famílias aguardando as matrículas, a prefeitura simplesmente abandona o projeto. Isso não é só uma falha administrativa — é um ataque direto à valorização da cultura e da inclusão social. A cultura não pode continuar sendo tratada como algo descartável”, disse.
O vereador ainda destacou que o cancelamento também prejudica o vínculo das crianças com a arte, além de comprometer a renda de artistas e educadores.
Descontentamento das Famílias
Liliane Rodrigues é mãe de duas alunas do projeto, de dez e 7 anos de idade, e comenta o descontentamento com o cancelamento do projeto.
“Então, elas ficaram bem tristes. mais novinha até chorou. E, assim, a gente como mãe fica com o coração destruído. Porque querendo ou não mexe com o sonho das crianças. Era algo que elas estavam esperando. E a gente como mãe, claro, apoia os sonhos dos filhos. A gente se sentiu muito triste, de mãos atadas. Se eu tivesse condições de custear, com certeza eu não estaria esperando, pela boa vontade de ninguém, nem esperando que alguém arcasse com isso. Eu teria ido lá e teria matriculado e não teria deixado elas viverem essa decepção, essa aflição, de ter esperado todo esse tempo para chegar agora e dar em nada.
A nossa redação entrou em contato com a prefeitura para saber sobre o assunto, mas até o encerramento dessa matéria não tivemos resposta.