"Mudança. Essa é a palavra-chave." 
Assim o presidente Lula iniciou seu discurso de posse no primeiro dia de 2003. 
Seis anos depois, o Senado Federal é presidido por José Sarney e elege Fernando Collor de Mello para chefiar a Comissão de Infraestrutura em ano PAC. 
A chave é a mesma, mas a palavra certamente não é mudança. 
Não que Lula não tenha promovido mudanças. Ele mesmo é mudança num Brasil sempre dominado pelas elites. 
Mas se o presidente manteve o que precisava ser mantido (a estabilidade econômica, com relativa responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e inflação na meta), não mudou o que precisava ser mudado (o fisiologismo descarado descambando para o crime organizado da política nacional). 
Até porque é fácil governar com o PMDB. 
E se o petismo-lulista não inventou nenhum odor novo em Brasília, sua adesão voraz à locupletação tornou ainda mais desenvolta e hegemônica a desfaçatez do jogo político, como mostra o ritmo alucinante de escândalos, do Oiapoque ao Chuí, passando obviamente pelos centros mais avançados do país, vide o escandaloso vídeo com suposta compra de cargos na Polícia Civil paulista. 
E os presidenciáveis Serra e Dilma nada falam contra a corrupção e a impunidade, apesar do clamor popular, pois, como todo político importante do Brasil, são parte desse estado de coisas. 
O perigo é aparecer um outsider, agora prometendo caçar não marajás, mas corruptos. 
Em plena crise econômica global, a economia brasileira resiste com dignidade maior do que a dos países avançados, prova do quanto avançamos na área desde o Plano Real (1994). 
Já a política nacional segue ladeira abaixo, puxando o país consigo num descaminho moral que contamina todos os Poderes, nos atrasa e nos sufoca. 
Lula é fundamental para o avanço econômico com sua manutenção da estabilidade e seu input popular que ajudou a melhorar a vida de milhões de brasileiros, fortalecendo nosso mercado interno. 
Mas o adesismo de Lula é também fundamental para esse aceleramento do processo de degeneração política, que come parte do salto de qualidade econômico. 
Ao comentar a vitória de Collor, com seu aval, na comissão do Senado, o presidente petista recomendou "fazer disso uma boa salada". 
Só com estômago de rato… 
Sérgio Malbergier é editor de Economia e articulista