A Prefeitura de Três Lagoas tem apostado em alternativas naturais no cuidado com pessoas em situação de rua. Uma dessas iniciativas tem chamado a atenção pela simplicidade e eficácia, o uso da cana-de-açúcar como recurso paliativo em momentos de estresse e ansiedade. A prática é desenvolvida no Centro POP, unidade vinculada à Secretaria Municipal de Assistência Social, e faz parte de um conjunto de ações voltadas ao acolhimento e à dignidade dos atendidos.
Segundo a pedagoga Isabel Especiato, a proposta surgiu de maneira espontânea, a partir do relato dos próprios usuários da unidade, que afirmaram se sentir mais calmos ao mastigar a cana cultivada no terreno do centro. A prática não substitui nenhum tratamento clínico, mas é oferecida quando há procura voluntária. “Não é algo para todos. É um paliativo. Quando eles demonstram estresse e procuram ajuda, oferecemos. O tratamento medicamentoso e clínico mesmo é feito no CAPS-AD, com quem temos parceria”, explicou Isabel.
A pedagoga ressalta que não há comprovação científica de que a cana-de-açúcar tenha efeito direto contra o estresse, mas aponta que o caldo é antioxidante e pode contribuir para a redução da ansiedade momentânea. O cultivo da cana faz parte das oficinas de convivência do Centro POP, que também mantém uma horta com mandioca, babosa e outras plantas medicinais e condimentares.
Todas as atividades são desenvolvidas com o apoio dos próprios acolhidos, em um processo contínuo de reintegração social. “Eles auxiliam em tudo: regam, plantam, colhem. A gente orienta, mas são eles que colocam a mão na terra. A cana, inclusive, já era cultivada aqui antes mesmo da criação da horta”, comentou Isabel.
O Centro POP atende, em média, 30 pessoas por dia. No local, além de alimentação e banho, os usuários têm acesso a oficinas socioeducativas e acompanhamento com assistente social, psicóloga e pedagoga. Também recebem apoio para emissão de documentos, retorno aos estudos, reinserção no mercado de trabalho e reaproximação com a família.
Ao lado do centro, funciona ainda o Acolhimento POP, espaço onde as pessoas em situação de rua podem dormir. “O encaminhamento pode ser feito por nós, mas muitos também chegam por demanda espontânea. Nem todos aceitam dormir lá, mas aqueles que desejam e estão em tratamento, principalmente no CAPS, podem ficar por um período”, explicou Isabel.