Impasse na negociação dos índices de reajuste salarial levou operários da construção civil a deflagrar greve nessa quarta-feira em Campo Grande. Mais de 100 obras na Capital estão paradas, incluindo construções públicas. Os trabalhadores querem reajuste de até 30%, mas o Sindicato da Indústria da Construção de Mato Grosso do Sul (Sinduscom-MS) oferece 5,39%.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Campo Grande (Sintracom), mais de 10 mil trabalhadores cruzaram os braços nos canteiros de obras de Campo Grande nesta quarta-feira. Segundo o presidente do Sintracom, José Abelha Neto, a expectativa é adesão de 90% dos trabalhadores em aproximadamente 400 canteiros de obras da cidade.
“A manifestação vai continuar nesta quinta e sexta-feira. Não aceitamos a proposta das empresas que querem repor apenas o acumulado da inflação. Queremos 30% para os pisos e 15% para quem ganha acima do piso”, afirmou Abelha Neto.
Os trabalhadores, segundo Abelha, querem esses percentuais para se equipararem, salarialmente, com os trabalhadores de São Paulo. “Vamos ser persistentes com a greve para alcançarmos esse objetivo”, afirmou Abelha.
Segundo Abelha, hoje o piso do oficial (pedreiro, carpinteiro e armador) é de R$ 1.000 e do servente R$ 735. Em São Paulo, os valaores são de 1.290 e R$ 1.067, respectivamente. A diferença chega a 45% no caso dos serventes. Os reajustes reivindicados aproximariam esses valores
Baderna – Em nota, o Sindicato da Indústria da Construção de Mato Grosso do Sul informou que respeita o movimento dos trabalhadores por melhores salários. Confirmou a paralisação, mas avaliou que o movimento é parcial em dez obras com 1.062 operários parados.
Na mesma nota, o Sinduscon-MS divulgou nota manifestando preocupação com possível “quebradeira” durante a greve dos trabalhadores. “A possibilidade de manifestações que ultrapassem a legalidade jurídica é uma preocupação”, disse o presidente do Sinduscon Amarildo Melo. Para ele, a greve e a solicitação por melhores salários são “diretos do trabalhador” e o os empresários respeitam tais manifestações, mas mencionam casos de violência como as que ocorreram na região Nordeste do País.
“Tivemos quebradeira e desrespeito à vida em Fortaleza. Temos uma preocupação de que esse movimento ilegal chegue ao Mato Grosso do Sul, ameace o direito do trabalhador de participar ou não da greve, traga quebra-quebra nas obras e coloque em risco a vida do cidadão”, disse Melo
Para o presidente do Sintracom, José Abelha Neto, no entanto, a mobilização é pacífica e deve se estender pelo menos até o feriado de Primeiro de Maio.
O Sinduscon solicitou ao Ministério do Trabalho e Emprego (MPE), na semana passada intermediação com o Sintracom. A diretoria da entidade também procurou a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) no início do mês, informando sobre a preocupação com a segurança dos operários nas obras.
Amarildo Melo diz, em nota distribuída à imprensa, que “a baderna é generalizada e deve ocorrer neste e no próximo mês em outros locais do País”, quando se iniciam as negociações também em outros estados. “Não queremos que a ilegalidade entre na negociação ou nas manifestações dos trabalhadores como a greve”, comentou.
Negociação – Os trabalhadores cobram um reajuste médio de 30%, chegando a 40% em algumas categorias, para equilibrar as perdas com inflação referente a 2013. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), fechou o último ano com aumento de 5,56%.
O Sinduscom concorda com aumento correspondente ao Índice de Preços ao consumidor Amplo (IPCA) e alega que a entidade patronal recebeu como resposta apenas o comunicado de greve na quinta-feira da semana passada.
Manifestação – Nessa sexta-feira, logo de manhã, os grevistas se reunirão na Praça do Rádio, em Campo Grande, para uma avaliação do movimento e para reforçar a greve para a próxima semana, quando pretendem alcançar 100% dos canteiros de obras. “Não temos dúvida de que a classe patronal vai refletir melhor e aprovar os 30% de reajuste salarial para os pisos e 15% para quem ganha acima do piso”, afirmou Abelha Neto.