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Morte de estagiária deixa jornalismo brasileiro de luto

Laura Karan Jacob, de 20 anos,morreu quando cobria um acidente na BR-153

Jornal publica reportagem como manchete da edição desta sexta-feira - Reprodução
Jornal publica reportagem como manchete da edição desta sexta-feira - Reprodução

A estudante de jornalismo Laura Karan Jacob, de 20 anos, morreu ontem de manhã enquanto fazia cobertura de um acidente no quilômetro 66 da rodovia BR-153, em São José do Rio Preto. Ela trabalhava como estagiária desde o início deste ano no jornal Diário da Região, que circula na cidade. 

Laura cobria o acidente entre dois caminhões – um deles, carregado com leite, que foi saqueado por pessoas que passavam pelo local. 

Logo ao chegar ao local, Laura tentou atravessar a rodovia, para se aproximar das pessoas que saqueavam a carga, mas foi atropelada por um caminhão com placas de Guarapuava-PR. Segundo boletim de ocorrência, o motorista Alex Henrique Muller, 36 anos, disse que não conseguiu evitar o acidente.

O jornal publicou que o motorista foi ouvido pela Polícia Rodoviária Federal e feito exame de dosagem alcoólica no sangue Nada foi constatado, segundo o delegado Marcelo Goulart e o motorista foi liberado.

O Grupo Diário da Região divulgou nota em que lamenta profundamente a morte da estagiária. Uma equipe de profissionais do grupo presta, desde a manhã de ontem, toda assistência e amparo à família de Laura. 

 

Parentes, amigos, colegas de faculdade e jornalistas prestaram centenas de homenagens à estagiária. O jornalista em professor de Laura na faculdade, Allan de Abreu, divulgou carta de pesar.

Leia a íntregra.

"Que jeito mais doído de nos deixar, Laura. Bem no seu, no nosso dia. Sete de abril, Dia do Jornalista. Concentrada na sua tarefa de apurar as informações de outro acidente na BR-153, essa rodovia da morte sem estrutura nem segurança, não viu a carreta fungando na pista.

Fosse por alguns segundos, certamente você transformaria o fato em notícia bem apurada e bem escrita, como vinha ocorrendo todas as manhãs desde janeiro, quando passou a treinar seu brilhante faro de repórter aqui na Redação do Diário. O futuro como jornalista era uma questão de tempo, alguns meses apenas, até ser diplomada no fim deste ano.

Por tudo isso, ontem não era para você ser a notícia, Laura. Não desse jeito. Ficou pelo caminho o futuro de uma repórter promissora, que eu zelava desde 2014, quando, como professor na sala de aula do curso de jornalismo na Unirp, vi em você, aluna do segundo ano, um talento nato para a profissão. Cada dia de estágio no jornal, cada boa nota nas resenhas ou reportagens entregues na faculdade, aumentava a certeza da minha aposta em você, Laura.

Mas aquela carreta…

Há oito anos, gosto de citar aos meus alunos do curso o que considero ser a melhor definição da profissão, aquela do escritor e jornalista colombiano Gabriel García Márquez: “uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são”.

Você levou essa definição a um limite insuportável, Laura. Confrontou essa paixão com a dura realidade do pior jeito possível. Afinal, o que é o compromisso com a notícia diante da grandeza da vida?

Nota dez para você, Laura, sempre. Descanse em paz"

ALLAN DE ABREU, repórter especial do Diário da Região, professor da Laura Karan Jacob e do curso de jornalismo na Unirp, em Rio Preto