A violência sexual contra crianças e adolescentes lidera a lista de denúncias no Conselho Tutelar de Três Lagoas. No ano passado, o órgão registrou 111 casos de abuso sexual, dos quais 95 foram confirmados. Desse total, 57 são meninos e 38 meninas, na faixa etária de 5 a 15 anos. De acordo com Davis Martinelli Leal, vice-presidente do Conselho Tutelar, apenas um dos casos de violência sexual foi praticado por um estranho. O restante foi cometido por familiares (pai, avô, padrasto, tio e irmão).
Em 2012, segundo Leal, ainda não foi fechado o relatório anual, mas ele acredita que haverá um aumento de 12% no número de casos confirmados, o que corresponderia a aproximadamente 125 casos apenas neste ano. Os conselheiros, com base na experiência diária, creem que esse salto está relacionado à coragem da população em denunciar, pois na visão deles o abuso sexual sempre existiu.
Conforme o vice-presidente, a denúncia anônima, via telefone, deu voz às pessoas que antes eram coniventes com o abuso sexual. “Na maioria dos casos, a mãe sabe do crime e, por medo de represália, não denuncia. Geralmente, o abusado também é ameaçado”, explicou.
Na avaliação do Conselho Tutelar, o abuso sexual acontece em todas as classes sociais, sem exceção. A diferença é que a classe baixa denuncia mais em relação à classe alta, que tende a esconder o que se passa no âmbito familiar.
De acordo com o Conselho Tutelar, a criança ou adolescente abusado sofre um grande trauma. Ele perde o entusiasmo para brincar, passear, estudar etc. Mesmo com acompanhamento psicológico, esse dano emocional dificilmente é sanado. “Uma grande parcela dos abusados tornam-se abusadores na fase adulta”, informou o órgão.
Recentemente, uma garota violentada pelo pai, acompanhada pelo órgão, contou aos conselheiros o seguinte: “Meu pai disse que foi abusado quando criança e, por isso, me violenta sexualmente”, descreveu Leal.
Disque 100
O Disque 100 é um aliado da população e pode ser usado para denúncias de violação de direitos de crianças e adolescentes, especialmente em casos de abuso ou exploração sexual. A denúncia é anônima e o serviço gratuito.
O horário de atendimento é das 8h às 22h, diariamente, inclusive nos fins de semana e feriados. As denúncias recebidas são analisadas e encaminhadas aos órgãos de proteção, defesa e responsabilização.
Entretanto, segundo Leal, em Três Lagoas a população não está utilizando com seriedade essa ferramenta, uma vez que continua passando trotes. Em média, mensalmente, o disque 100 envia ao Conselho Tutelar 50 denúncias. Entretanto, ao serem averiguadas, 99% não têm fundamento. Uma das ocorrências frequentes é o endereço inexistente.
Os conselheiros tutelares solicitaram à comunidade três-lagoense que leve o disque 100 a sério, pois está envolvida toda uma estrutura em relação a uma denúncia, como funcionários, carro e combustível, além, é claro, do fator tempo.
Além do disque 100, a população pode fazer denúncias anônimas via telefone fixo do Conselho Tutelar de Três Lagoas através do número 3929-1812, das 7h às 17h, de segunda a sexta-feira. Também está disponível o número de celular 9293-1579, todos os dias, inclusive domingos e feriados, durante 24h.
