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Entrevista

Casos de câncer ficaram mais graves após pandemia, alerta oncologista

Diagnóstico tardio reduziu a eficácia dos tratamentos em pacientes que deixaram de fazer os exames preventivos

oncologista > Fabrício Colacino alerta para o diagnóstico precoce - Divulgação
oncologista > Fabrício Colacino alerta para o diagnóstico precoce - Divulgação

Estamos nos últimos dias do mês intitulado como Novembro Azul que visa a conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de próstata. Ainda assim, o preconceito persiste, principalmente em relação ao exame de toque retal entre os homens. Uma pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Urologia ao Instituto Datafolha aponta que apenas 32% dos homens já fizeram o exame do toque. Uma situação que deixa os médicos em alerta pois a doença tem maior incidência no público acima dos 50 anos. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil, de cada 10 homens diagnosticados com câncer de próstata, nove tem mais de 55 anos.  A próstata é uma glândula presente nos homens, localizada na frente do reto, abaixo da bexiga, envolvendo a parte superior da uretra (canal por onde passa a urina). A próstata não é responsável pela ereção nem pelo orgasmo. Sua função é produzir um líquido que compõe parte do sêmen, que nutre e protege os espermatozoides.  O oncologista do Sistema Hapvida, Fabrício Colacino,  ressalta que somente 1/3 dos homens a partir de 45 anos fez o exame preventivo da doença neste ano. 

O senhor concorda que o maior problema para o diagnóstico precoce do câncer de próstata ainda seja o tabu em relação ao toque retal?
Fabrício É triste dizer que hoje em dia, com acesso à informação, à todo esclarecimento, não só a parte da ciência, mas por ter transformado isso para os leigos, pessoas que não estão ligadas diretamente à medicina entendam. E todo mundo tem acesso a isso pela internet, jornais e etc. Isso realmente ainda é um tabu. E os homens precisam entender, assim como as mulheres entendem. Nós passamos pelo Outubro Rosa e nós não discutimos sobre avaliação da mama, do câncer de colo de útero, exame ginecológico, autoexame , a gente não faz nem menção a isso por ser um negócio superado e que as mulheres, além de comparecerem massivamente na realização dos exames preventivos, não discutem mais esses assuntos. As mulheres passam por esse problema oncológico, que infelizmente assola todas as famílias no mundo. É um problema que invade todas as barreiras. Então, saber que tem uma comunidade feminina que se interessa, que faz a prevenção, consegue fazer o diagnóstico precoce, faz toda a diferença. Ela consegue voltar para a sua família de forma íntegra, continuando a ser o esteio da família como são as mulheres hoje em dia. Mas a maioria dos homens está no caminho inverso. Eles deveriam copiar esse comportamento da mulher, essa força de vontade e essa firmeza esclarecida de viver, promovendo a saúde e fazendo a prevenção. O grande recado para os homens é não deixar esse tabu interferir e fazer com que o diagnóstico seja perdido na forma precoce, pois, se fizermos o toque retal para todos os homens que tenham indicação a partir dos 45 anos, fizermos o PSA que é o exame de sangue complementar e detecta alterações no sangue provenientes da próstata, estaremos salvando vidas. E o PSA não é um exame que faz o diagnóstico do câncer de próstata, ele faz um alerta, mas ele sozinho não tem eficácia. É preciso associá-lo ao toque retal. 

Qual a diferença no tratamento quando se detecta precocemente e tardiamente?  
Fabrício Nós temos a diferença de um abismo entre o diagnóstico precoce e seu tratamento e o diagnóstico tardio e seu tratamento. O diagnóstico precoce custa 100 vezes mais caro, muitas vezes não precisa de cirurgia, nem de tratamentos mais dolorosos são necessários. O paciente passa pelo tratamento de forma mais tranquila e volta para a família íntegro, sem sequelas ou mutilações. Nós temos várias modalidades de tratamentos que envolvem a radioterapia, hormonioterapia, castração, cirurgia, internações, quimioterapia e tudo isso vai ser mais intenso quando descoberto de forma tardia. Quando o diagnóstico é precoce, a gente tem uma chance de cura acima de 95%. Já quando o diagnóstico é tardio cai para menos de 20%. É um sofrimento muito maior, com sequelas, mutilações e, às vezes, mesmo com todo esse sofrimento, a pessoa não volta para a família. 

Durante a pandemia, a população deixou de fazer exames básicos. No caso do exame de próstata o senhor percebeu a consequência disso? 
Fabrício  Exatamente. Não só para o câncer de próstata, mas para todos os tumores do ponto de vista oncológico foi uma janela terrível. A pandemia ao longo dos dois anos que nós vivemos no mundo inteiro afastou tanto os pacientes que estavam fazendo os diagnósticos, fazendo investigação, assim como os que estavam tratando o tumor. Portanto, essa janela de dois anos reflete agora para a gente, para o sistema de saúde, com um número muito maior de pacientes oncológicos com diagnósticos tardios e refletindo não só em um custo maior, mas influenciando na gravidade dos casos, com mais sequelas, mais sofrimento, mais quimioterapia, radioterapia e cirurgias de grandes porte. 

Em relação à idade dos pacientes que mais são acometidos, muito se fala acima dos 55 anos, 60 anos. Mas, há casos de pessoas mais jovem também?  
Fabrício A regra geral é a partir dos 45 anos para quem tem algum familiar com câncer e a partir dos 50 anos para todos os homens. Obviamente que passando por um médico, e o ideal é que seja um urologista, oncologista que vai fazer a primeira avaliação, a gente consegue individualizar a investigação e a prevenção para o paciente.

E os sintomas? Geralmente o câncer já vem apresentando algum sintoma no início da doença?  
Fabrício Os sintomas só acontecem geralmente na fase intermediária e avançada. Na fase inicial e precoce não tem sintomas. E, por isso, não é possível esperar o paciente ter sintomas para começar a investigação. O diagnóstico precoce acontece em uma fase que não existe sintoma nenhum. Da fase intermediária para a avançada, é comum os sintomas urinários, dificuldade em urinar, sangramentos na urina, no ato ejaculatório, dos nos ossos são alguns dos sintomas no estágio avançado da doença. Por isso, é fundamental, aos 45 anos buscar atendimento médico e  fazer o exame preventivo.