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Capítulo final

Com R$ 15 bi à vista, J&F põe fim à disputa e deve dobrar produção da Eldorado Brasil

Chegou ao fim nesta semana a disputa judicial de mais de oito anos entre a J&F Investimentos e a multinacional asiática Paper Excellence

Expansão após acordo, J&F deve destravar segunda linha de celulose da Eldorado Brasil em Três Lagoas - Divulgação / Assessoria
Expansão após acordo, J&F deve destravar segunda linha de celulose da Eldorado Brasil em Três Lagoas - Divulgação / Assessoria

Chegou ao fim nesta semana a disputa judicial de mais de oito anos entre a J&F Investimentos e a multinacional asiática Paper Excellence pelo controle da Eldorado Brasil Celulose . Esse desfecho deve destravar o aguardado projeto de expansão da fábrica em Três Lagoas, com a construção da segunda linha de produção de celulose.

A J&F anunciou nesta quinta-feira (15) a aquisição da participação de 49,41% da Paper na Eldorado, por US$ 2,64 bilhões (R$ 15 bilhões) pagos à vista. Com a operação, a holding dos irmãos Batista assume o controle integral da companhia e coloca fim a todos os processos judiciais e arbitrais no Brasil e no exterior.

“Esta é uma página que viramos de forma amigável, desejando sucesso aos nossos ex-sócios e abrindo um novo capítulo na história da Eldorado”, diz Aguinaldo Filho, presidente da J&F e presidente do Conselho de Administração da Eldorado.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, o desfecho era fundamental para viabilizar novos investimentos no setor florestal do Estado.

“Já vínhamos reiterando a importância de uma solução negociada para o impasse societário. O prolongamento do conflito significava o adiamento de projetos estratégicos, como a duplicação da planta industrial da Eldorado. Com a definição do controle acionário, há uma expectativa concreta de retomada desses investimentos, tanto na área industrial quanto em logística”, afirmou.

O projeto de ampliação, batizado de Vanguarda 2.0, prevê aporte total de R$ 25 bilhões, incluindo a construção de uma nova linha de produção, um ramal ferroviário de 90 km para escoamento da celulose e a ampliação das áreas de florestas plantadas. Quando concluída, a nova planta mais que dobrará a capacidade atual da Eldorado, hoje em 1,8 milhão de toneladas por ano. A expectativa é gerar até 10 mil empregos no pico da obra e dois mil na operação.

Anunciado em 2024 pelo empresário Wesley Batista, o projeto estava pronto há mais de uma década, mas dependia da definição sobre o controle acionário para sair do papel. A resolução do conflito agora abre caminho para a retomada efetiva desse investimento, considerado estratégico para a economia sul-mato-grossense.

Com mais de 5 mil colaboradores, a Eldorado é uma das maiores produtoras de celulose do país, com operações em Três Lagoas e exportação para mais de 40 países a partir de terminal próprio em Santos (SP).

Entenda o caso: A disputa bilionária que travou a expansão da Eldorado
A briga entre a J&F Investimentos e a multinacional Paper Excellence começou em 2017, quando as duas firmaram um acordo para a venda total da Eldorado Brasil Celulose, avaliada à época em R$ 15 bilhões.

A Paper comprou 49,41% das ações, com a promessa de adquirir o controle total em até um ano. O negócio, no entanto, emperrou. A J&F alegou que a compradora não cumpriu cláusulas contratuais, principalmente a liberação de garantias. A disputa foi parar na Justiça e em cortes arbitrais no Brasil e no exterior.

Ao longo dos anos, surgiram novos elementos, como denúncias de espionagem de e-mails, conflitos de interesse de árbitros e ações questionando a legalidade da compra com base na Lei de Terras, que limita a posse de áreas rurais por estrangeiros.

A Paper Excellence controlaria, via Eldorado, cerca de 450 mil hectares — o que exigiria autorização do Incra e do Congresso, nunca obtida. O Ministério Público Federal, a Advocacia-Geral da União e técnicos do Incra apontaram ilegalidades no negócio, pedindo sua nulidade.

Com a indefinição, projetos estratégicos como a segunda linha de produção da fábrica de Três Lagoas ficaram paralisados por anos.

Somente agora, após a J&F propor em 2024 a recompra da fatia da Paper, o imbróglio se resolveu. A Paper aceitou a proposta e vendeu sua participação por US$ 2,64 bilhões, encerrando uma das disputas empresariais mais longas e complexas do setor de celulose no Brasil.