Seis internos da Penitenciária de Segurança Média, em Três Lagoas, concluíram nesta quarta-feira (6) a segunda etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
As provas tiveram início às 12 horas de terça-feira (5) e foram divididas em duas etapas: ciências da natureza e humanas e suas tecnologias, na primeira, e linguagens, matemática e redação na segunda.
As provas foram acompanhadas por agentes penitenciários, um agente aplicador do Ministério da Educação (MEC) e a coordenadora pedagógica das unidades penais do Estado, Edna Pedrosa Maxias.
A coordenadora conta que, até então, o presídio masculino havia registrado cerca de dez inscrições. Porém, entre o período de inscrições até a realização da prova, três já haviam conseguido a liberdade.
Mesmo assim, o índice de participação foi comemorado pelo diretor da unidade penal, Silvio Rodrigues Torres. De acordo com ele, o número é compatível com o índice de internos que possuem o ensino médio e que demonstraram interesse em participar da prova.
Por amostragem, Rodrigues pode dar uma dimensão do grau de instrução dos internos. De 20 fichas pesquisadas, um interno havia parado no 2º ano (antiga 1ª série); dois chegaram a iniciar o ensino médio e apenas um o concluiu os estudos (o único candidato que aceitou conversar com a reportagem). O restante parou no ensino fundamental, principalmente nas antigas sextas e sétimas séries.
De acordo com a coordenado pedagógica, o grau de instrução da população carcerária de Mato Grosso do Sul é de mais de 60% à cima do 6º ano. Mas são poucos que concluem o ensino médio. “Há um número pequeno de internos que não ainda concluíram a educação básica. O problema é que eles param no ensino fundamental e acabam tendo de retomar os estudos desde o começo depois de muitos anos afastados das salas de aulas”, lembrou.
Este é o caso de Três Lagoas. Por ano, a unidade penal – que fornece até o 6º ano – registra uma média de 60 alunos por ano; muitos deles já haviam concluído o ensino básico, mas tiveram que retomar desde o 1º ano.
Em contrapartida, não podem ir além. Por falta de estrutura física e humana, a unidade penal pode oferecer a educação até o 6º ano. Hoje, as aulas acontecem em uma sala adaptada (a antiga foi destruída na rebelião de 2006).
RECUPERAÇÃO
Edna explicou que a procura pela escolaridade aumentou depois que o Estado determinou a remissão da pena para o interno que estudar dentro da unidade penal. Para cada três dias trabalho ou estudo, um é descontado da pena. “A medida foi um avanço tremendo. Mais importante que o próprio trabalho é a educação para a ressocialização de um interno. É por meio do estudo que os internos abrem para um novo horizonte e encontram novas oportunidades”.
Este é o caso do interno Arnaldo Brandão da Costa, de 30 anos, o único que apareceu na amostragem com o ensino médio completo. Concluído os estudos em 2002, este foi o segundo Enem prestado pelo interno. O primeiro foi em 2008, quando ele atingiu a média de 60% de acertos. Antes de iniciar a prova, Arnaldo contou que a expectativa neste ano era de atingir de 70% a mais. Para isto, ele procurou estudar na própria unidade. “Meu objetivo é ir me aperfeiçoando a casa dia. Então, aproveitei os livros oferecidos pela casa para estudar e estou confiante”. O principal objetivo de Brandão é utilizar a prova para ingressar em uma universidade. O curso está na ponta da língua: zootecnia.
Em todo o Estado, que abriga uma população carcerária de 11 mil presos, as provas foram aplicadas para 380 internos, distribuídos em 15 unidades penais e no presídio federal.