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Três Lagoas

Família de inspetor da Unei ainda aguarda auxílio-funeral

O agente da Unei foi morto no dia 30 de janeiro e até hoje, o pai não foi ressarcido

Altino Evangelista Nunes, 74 anos, trabalha como carpinteiro na Prefeitura há 20 anos -
Altino Evangelista Nunes, 74 anos, trabalha como carpinteiro na Prefeitura há 20 anos -

Um ano após o assassinato de Luis Antonio Evangelista Nunes, 44 anos, inspetor da Unidade Educacional de Internação (Unei “Tia Aurora”), a família dele ainda paga as despesas do velório e sepultamento do agente educacional, enquanto aguarda o auxílio-funeral – benefício assegurado por lei para os servidores públicos estaduais de Mato Grosso do Sul.

Segundo o carpinteiro Altino Evangelista Nunes, 74 anos, pai do inspetor, na época (fim de janeiro de 2009), o funeral, com exceção do caixão, ficou orçado em R$ 1,6 mil aproximadamente. “Como não tinha dinheiro e conhecia o pessoal da funerária, o total dos gastos com velório e o túmulo seriam pagos em parcelas de R$ 100 ao mês. Só o caixão que eu consegui pagar na época. Foi quando fiquei sabendo deste auxilio do Governo, mas até hoje não consegui receber”, explicou.

Funcionário municipal há quase 20 anos e lotado na Secretaria Municipal de Assistência Social, Nunes conta que chegou a seguir para Campo Grande, até a Secretaria de Estado de Trabalho de Assistência Social (Setass), atrás de informações sobre o beneficio, mas voltou sem respostas – no período, as Uneis ainda eram administradas pela pasta. Hoje, o órgão responsável é a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). “Três meses depois eu fui para lá ver este auxílio do Governo, mas me disseram que o recurso só poderia ser pago se a documentação estivesse no nome da minha ex-nora. Gastei mais R$ 100 para deixar tudo em ordem e nada. Ainda estou esperando”.

Para o carpinteiro, a demora retrata o descaso com o filho dele. “Meu filho vinha sendo ameaçado por fazer o trabalho dele. Ele tinha que manter a ordem na Unei e os internos não gostavam disto. Ele morreu por conta disto. Posso estar enganado, mas acredito que se ele estivesse trabalhando com adultos. Ele estaria vivo até hoje. A impunidade é muito grande”, disparou.

Luis Antonio Evangelista Nunes foi assassinado no dia 30 de janeiro enquanto trabalhava em uma construção no bairro Bela Vista. O agente, que estava afastado por determinação médica depois de ter sofrido uma agressão dentro da Unidade, foi surpreendido por dois jovens. Um deles, um adolescente de 17 anos, ex-interno da Unei, foi quem efetuou os disparos. Evangelista foi atingido por três tiros e morreu no local.

Com tristeza, o pai relembra o dia: “Ele passou em casa horas antes e disse para a mãe dele que alguma coisa iria acontecer, que alguém da família iria morrer. Isto foi no começo da tarde. Às 18 horas ele foi assassinado. Ele era o mais velho. O que me levava pra passear, pra pescar. É muito triste. Quando se perde um filho, porque Deus quis assim, a gente se conforta. Mas quando alguém o mata, não há como esquecer. A dor não passa”, comentou.

IMPUNIDADE

A sensação de injustiça é a que mais incomoda o carpinteiro. “O que mais me dói é saber que quatro meses depois da morte do meu filho, o autor já estava solto. Pra quem quiser ouvir, ele conta que tinha três advogados para tirá-lo da cadeia. É uma injustiça muito grande. Matam um pai de família, um trabalhador e nada acontece”. A morte de Evangelista desencadeou uma série de manifestações e greve pelas Uneis de todo o Estado. De luto, agentes educadores exigiram melhores condições de trabalho.

No entanto, além de lidar com a dor e com os custos fora do orçamento com o velório, o pai também assumiu todas as despesas deixadas pelo filho. “O que falaram que estava no nome do meu filho, e comprovaram, foi pago. E ninguém me ajudou”, completou.

Agora, a preocupação é com o filho caçula de Evangelista. O pai conta que o inspetor da Unei deixou três filhos, duas filhas – que já têm filhos – e o filho caçula de 17 anos, o único que recebe a pensão do pai. “Mas este meu neto completa 18 anos em setembro. Eu não sei como ficaremos depois que a pensão for cortada. Como este menino irá estudar? Esta é a minha principal preocupação no momento”.

Altino Nunes recebe um salário da Prefeitura de R$ 800 ao mês. Com este, ele sustenta a esposa, uma tia, uma filha, o neto e, temporariamente, as netas – filhos de Evangelista. “Uma delas está trabalhando em uma fábrica. Mas direto elas ficam um tempo em casa, a outra, por exemplo, está em casa agora”.