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Entrevista

Campanha de vacinação contra gripe tem baixa procura em Três Lagoas

Idosos e crianças estão entre os grupos prioritários com menor adesão, aumentando o risco de complicações graves

Humberta Azambuja é coordenadora do Setor de Imunização da Secretaria de Saúde. Foto: Antônio Luiz/ RCN 67.
Humberta Azambuja é coordenadora do Setor de Imunização da Secretaria de Saúde. Foto: Antônio Luiz/ RCN 67.

Com a chegada do outono e o aumento dos casos de síndromes respiratórias, a vacinação contra a gripe se torna ainda mais essencial. A baixa adesão da população do grupo prioritário acende um alerta nas autoridades de saúde. Humberta Azambuja, coordenadora do Setor de Imunização da Secretaria Municipal de Saúde, em Três Lagoas, concedeu entrevista ao Jornal RCN Notícias da Rádio Cultura FM e TVC e falou sobre o cenário e os riscos da baixa cobertura vacinal.

Como está a vacinação contra a gripe em Três Lagoas?
Humberta Azambuja:
Iniciamos a campanha de vacinação contra a influenza no dia 1º de abril e, até o momento, vacinamos cerca de 8 mil pessoas. Nosso foco está no grupo prioritário, composto por crianças de 6 meses até menores de 6 anos, idosos com 60 anos ou mais e gestantes. São os mais suscetíveis a desenvolver complicações graves da gripe, como pneumonias, internações e até óbitos.

Qual é a meta de vacinação desses grupos prioritários?
Humberta Azambuja:
A meta é imunizar pelo menos 90% do grupo prioritário, que soma 32.712 pessoas: 18.153 idosos, 13.135 crianças e 1.424 gestantes. No entanto, apenas 19% dos idosos e cerca de 10% das crianças foram vacinados até agora, o que é considerado um número bastante baixo.

Por que você acredita que a procura está tão baixa?
Humberta Azambuja:
Muitas pessoas não estão apostando na gravidade da gripe este ano. A doença tem um comportamento sazonal, e 2024 foi um ano de baixa circulação viral, o que diminuiu a percepção de risco. Como resultado, a cobertura vacinal foi de apenas 50%. Com menos pessoas vacinadas, 2025 se torna um “ano sim”, ou seja, com maior circulação do vírus, mais internações e maior risco de óbitos.

Já há registro de agravamentos no Estado?
Humberta Azambuja:
Sim. O Estado já registrou 13 óbitos por síndrome respiratória, a maioria em idosos com mais de 70 anos. Também aumentaram os casos de internação em crianças. É preocupante, pois são situações que poderiam ser evitadas com a vacinação.

As pessoas ainda subestimam a gripe?
Humberta Azambuja:
Muito. Existe uma cultura equivocada de que “é só uma gripezinha”, mas a gripe pode evoluir rapidamente para quadros graves. Ela sensibiliza o organismo e abre portas para doenças como bronquite, pneumonia e sinusite. A vacina evita exatamente esses agravamentos.
A vacina é eficaz mesmo que a pessoa ainda possa pegar um resfriado?
Humberta aZambuja Sim. A vacina contém as cepas mais graves do vírus da gripe. Pode ser que a pessoa contraia outro tipo de resfriado, mas estará protegida contra os tipos que mais levam à hospitalização e morte. Por isso, é importante se vacinar antes do inverno.

A vacina está disponível para toda a população?
Humberta Azambuja:
Ainda não. Por enquanto, está disponível apenas para os grupos prioritários. Recebemos até agora 21 mil doses, mas nossa meta é imunizar cerca de 40 mil pessoas. Assim que tivermos mais doses e autorização do Estado e do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a vacinação será ampliada para o público em geral.

Há alguma ação prevista para ampliar o alcance da vacinação?
Humberta Azambuja:
Sim. Estamos organizando ações de vacinação na Feira Central, principalmente aos sábados, onde há maior concentração de idosos. A ideia é levar a vacina até onde o público-alvo está. Vamos divulgar datas e horários assim que estiver tudo definido.

A baixa procura afeta outras vacinas também?
Humberta Azambuja:
Infelizmente, sim. Desde a pandemia, houve um grande retrocesso na cultura da vacinação. Até 2018, Três Lagoas atingia mais de 100% da cobertura vacinal infantil. Com a pandemia, as crianças desapareceram das unidades de saúde. Estamos retomando essa cultura com muito esforço. Em 2024, conseguimos atingir 95% de cobertura entre crianças menores de dois anos, mas, em faixas etárias acima disso, a cobertura ainda é baixa.

Quais vacinas também preocupam pela baixa procura?
Humberta Azambuja:
Além da vacina da gripe, temos baixa adesão para o reforço da tríplice viral, vacina contra HPV, meningite e dengue entre adolescentes. Muitos só procuram a vacina no fim do ano, quando precisam da Declaração de Vacinação Atualizada (DVA) para a matrícula escolar.

E no caso dos adultos?
Humberta Azambuja:
Os adultos devem manter em dia o “quarteto vacinal”: hepatite B, tétano e difteria (dT), febre amarela e tríplice viral (caso não tenham tomado na infância). É fundamental que todos, independentemente da idade, entendam que a vacinação é um ato de proteção coletiva.

E qual o recado que você deixa?
Humberta Azambuja:
A gripe pode ser grave, e a vacina está disponível nas unidades de saúde. Procurem se imunizar, principalmente os que fazem parte dos grupos prioritários. Vacina salva vidas!