Um estudo conduzido por professores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), campus de Três Lagoas, revelou que o Córrego da Onça sofre com assoreamento, acúmulo de lixo e lançamento de esgoto tratado sem vazão suficiente de água para depuração. A pesquisa, inicialmente iniciada pelo professor Edson e atualmente coordenada pelo professor Frederico Gradella, do curso de Geografia, analisou a evolução do curso d’água nas últimas décadas.
Segundo o levantamento, imagens de satélite comprovaram que o crescimento urbano contribuiu para o depósito de sedimentos, como areia e resíduos sólidos, principalmente no trecho entre os bairros Nova Três Lagoas e Real Parque, após a saída do córrego do sistema de canalização. “O Córrego da Onça hoje serve como um sistema de escoamento das águas pluviais da cidade, mas junto com a água vem o material das ruas, que se acumula e cobre o leito. A água ainda está ali, mas em profundidade, devido ao assoreamento”, explicou Gradella.
O pesquisador destacou que a situação é agravada pela proximidade da estação de tratamento de esgoto. “Não é incomum que efluentes tratados sejam lançados em rios, mas é fundamental que haja fluxo de água para auxiliar na depuração. Hoje, muitas vezes, o córrego está seco nesse ponto, o que compromete a qualidade ambiental e provoca mau cheiro”, observou.
Outro problema identificado é o descarte irregular de lixo nas margens, onde já foram encontrados pneus, eletrodomésticos e entulho. Além disso, a interrupção da conexão entre a Lagoa Maior e o Córrego da Onça em determinados períodos do ano e a ausência de recarga do lençol freático contribuem para o fenômeno de “desperenização”, quando o rio deixa de ter água durante todo o ano.
O governo federal divulgou que Três Lagoas foi uma das cidades contempladas com o Novo PAC e pode receber R$ 76 milhões para obras de revitalização do Córrego da Onça e da galeria do Jardim Brasília. Gradella acredita que a recuperação é possível, mas exige tempo e planejamento. “No trecho não canalizado, no sentido do Rio Paraná, uma revitalização poderia, em cerca de dez anos, devolver água ao córrego quase o ano todo e criar áreas de lazer, como parques lineares. Mas é preciso evitar soluções puramente de engenharia, que eliminem o leito natural do rio”, defendeu.
O estudo também alerta para o avanço da erosão nas margens, que ameaça atingir áreas residenciais. “Se não houver contenção, a erosão pode comprometer estruturas e até sistemas de coleta de água. Revitalizar o Córrego da Onça é preservar um patrimônio ambiental e histórico que faz parte da memória de Três Lagoas”, concluiu.