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Exportação

MS exportou US$ 315,4 milhões aos EUA, 2º maior comprador de celulose do Estado

Com alta de 11%, país norte-americano consolida-se como segundo maior parceiro comercial de Mato Grosso do Sul

Verruck  diz que tarifa dos EUA aumenta a incerteza  - Divulgação
Verruck diz que tarifa dos EUA aumenta a incerteza - Divulgação

Mato Grosso do Sul exportou US$ 315,4 milhões em produtos para os Estados Unidos entre janeiro e junho de 2025, consolidando o país como o segundo maior destino das vendas externas do estado, atrás apenas da China. O volume embarcado superou as 318 mil toneladas, representando 5,97% do total exportado no semestre, com crescimento de 11,43% em valor em relação ao mesmo período do ano passado.

O desempenho dos Estados Unidos chama atenção em meio à liderança consolidada da China, que absorveu US$ 2,484 bilhões em produtos sul-mato-grossenses, 47,05% do total exportado no semestre. A China, mesmo com uma leve retração de 2,8% em valor, segue como principal parceiro comercial do estado.

No total, Mato Grosso do Sul exportou US$ 5,28 bilhões no primeiro semestre de 2025, um crescimento de 1,76% em valor e 12,27% em volume em comparação com o mesmo período de 2024. Ao todo, foram embarcadas 13,48 milhões de toneladas.

Três Lagoas lidera exportações

Três Lagoas permanece como o principal município exportador do estado, sendo responsável por US$ 189,8 milhões em vendas externas no período, o equivalente a 19,43% do total estadual. Em volume, a cidade exportou 432 mil toneladas, mesmo registrando uma queda de 29,84% em valor na comparação anual.

Além de Três Lagoas, os municípios de Ribas do Rio Pardo e Dourados aparecem na sequência, com participações de 13,12% e 8,58%, respectivamente.

A celulose, produzida justamente em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo, é o principal produto exportado por Mato Grosso do Sul. O setor respondeu por US$ 1,72 bilhão no semestre — 32,68% das exportações totais do estado — com um expressivo crescimento de 65,2% no volume embarcado, que chegou a 3,52 milhões de toneladas.

Diversificação da pauta

A soja figura como o segundo item mais exportado, com US$ 1,43 bilhão (27,09% do total), apesar de uma queda significativa de 25,6% no volume e de 27,8% no valor. A carne bovina fresca aparece em terceiro lugar, com crescimento de 39% no volume e movimentação de US$ 758,9 milhões.

Outros destaques positivos foram o minério de ferro, com alta de 11,1% em valor e 63,7% em volume; e produtos classificados como “Outros”, como resíduos vegetais e sucatas, com crescimento expressivo de 970% em valor e 1.471% em volume. Por outro lado, açúcar, farelo de soja, ferro-gusa e couro registraram retração.

Principais destinos

Além de China e Estados Unidos, os principais mercados compradores dos produtos sul-mato-grossenses no semestre foram Argentina (US$ 226 milhões), Itália (US$ 206 milhões) e Holanda (US$ 200,9 milhões). O Uruguai também apresentou forte crescimento, com US$ 186 milhões (+68,36%). Entre os maiores crescimentos percentuais destaca-se Bangladesh, com alta de 233,55%.

Quanto à logística, os portos de Santos (41,67%), Paranaguá (30,55%) e São Francisco do Sul (10,8%) lideram o escoamento dos produtos. O volume exportado pelo Porto de Corumbá dobrou, passando de 2,2 milhões para 4 milhões de toneladas. Já Porto Murtinho apresentou aumento de 180,64%, com 370,1 mil toneladas embarcadas.

Presidente da Fiems classifica sobretaxa como ‘inaceitável’

O bom desempenho das exportações para os Estados Unidos, no entanto, pode ser impactado por uma medida anunciada nesta semana pelo presidente norte-americano Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelo país, a partir de 1º de agosto.

A decisão acendeu um alerta no setor produtivo de Mato Grosso do Sul e preocupa o setor industrial. Segundo o presidente da Fiems (Federação das Indústrias de MS), Sérgio Longen, a medida é “inaceitável” e exige uma resposta diplomática urgente.

“Temos defendido a competitividade da indústria brasileira. Sobretaxar neste momento é algo difícil. É inaceitável nesses padrões. Precisamos propor, sentar à mesa e buscar uma solução democrática”, declarou Longen.

Produtos como celulose, carne bovina e ferro fundido — que juntos representam mais de 80% das exportações de MS para os EUA — devem ser diretamente impactados pela nova tarifa. O ferro fundido, por exemplo, tem os Estados Unidos como principal destino.

Longen revelou ainda ter tratado do tema com o presidente da CNI, Ricardo Alban, e reiterou a necessidade de diálogo para evitar que a sobretaxa comprometa a performance da indústria nacional.

“Essa é uma questão que envolve os dois países. Os dois precisam sentar à mesa para discutir os impactos dessa medida com seriedade. Mas defendemos que esse não seja um critério utilizado para interromper o crescimento da indústria em 2026”, finalizou.

Para Jaime Verruck, sobretaxa dos Estados Unidos eleva incerteza e pressiona o mercado

O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, avaliou que a taxação de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelos Estados Unidos pode gerar impactos relevantes para a atividade econômica, ainda que não deva afetar diretamente os investimentos já em curso.

Segundo Verruck, o cenário internacional é marcado por forte instabilidade, o que compromete as expectativas dos agentes econômicos e aumenta o nível de incerteza nos mercados.

“Esse estabelecimento do Trump através de uma carta, vinculando uma questão tarifária a um componente político, torna a situação ainda mais complexa”, disse em entrevista ao Jornal do Povo.

O secretário ressalta que, embora o Brasil tenha déficit comercial com os Estados Unidos — ou seja, importe mais do que exporta —, a medida preocupa. Os produtos brasileiros, especialmente de Mato Grosso do Sul, ficarão mais caros no mercado norte-americano, o que pode reduzir a demanda, elevar a oferta no mercado interno e pressionar preços para baixo.

“Se a tarifa realmente entrar em vigor no dia 1º de agosto, será necessário realocar produtos como a carne bovina para outros mercados internacionais. E sabemos que o mercado global não tem essa demanda aberta. Isso pode gerar impacto no câmbio, na atividade econômica e no nível de preços praticados”, avaliou Verruck.

Apesar das possíveis consequências comerciais, o secretário afirmou que não há, até o momento, reflexos negativos sobre o volume de investimentos no Estado. Verruck citou ainda o caso da Arauco, que está instalando uma indústria de celulose em Inocência, e que tem presença expressiva no mercado norte-americano, principalmente na exportação de MDF.

“Quanto aos investimentos, nós não vemos nenhuma preocupação, porque são investimentos de longo prazo. Aquele que pensa no longo prazo, ele tem que superar isso. A Arauco, por exemplo, tem uma presença muito grande no mercado americano. Mas não há nenhuma sinalização de recuo. A preocupação é mesmo com o nível de atividade econômica do país”, concluiu.