
O presidente da OAB de Três Lagoas, doutor Tiago Vinícius Martinho, participou do programa RCN Notícias, da TVC HD canal 13.1, e comentou dois assuntos de grande relevância jurídica: a recente decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que proibiu o uso de cartas psicografadas como prova em processos criminais e a vitória judicial da OAB-MS no combate ao golpe do falso advogado.
O Superior Tribunal de Justiça decidiu que mensagens atribuídas a pessoas falecidas, obtidas por meio de psicografia, não podem ser utilizadas como prova judicial. A decisão envolve o caso do homicídio de Conrado Burato, ocorrido em 26 de agosto de 2009, em Três Lagoas, e que teve grande repercussão no país.
Martinho, advogado de defesa de José Tadeu, acusado no processo, explicou que a decisão é um marco jurídico e reforça o princípio da laicidade do Estado brasileiro.
“Desde o início, questionamos o uso da carta porque ela exigia um julgamento de fé, o que fere a laicidade do Estado. A Justiça deve se basear em provas racionais, verificáveis e que possam ser contestadas”, destacou o advogado.
Segundo ele, permitir o uso de provas baseadas em práticas religiosas representaria um retrocesso jurídico, abrindo espaço para julgamentos sem base científica.
“Não se trata de desrespeitar nenhuma religião, mas de manter a separação entre fé e Justiça. O processo penal deve ser racional e garantir o contraditório”, afirmou.
Com a decisão do STJ, o processo que envolve o caso terá de ser refeito na primeira instância, uma vez que a corte determinou a retirada da carta psicografada e de todas as provas derivadas dela.
“Foi uma decisão histórica e unânime. Esse precedente deve orientar julgamentos em todo o país daqui pra frente”, completou Martinho.
Na mesma entrevista, doutor Thiago também comentou a vitória judicial da OAB-MS em ação civil pública contra as operadoras de telefonia. A Justiça Federal determinou que as empresas criem um canal específico para o bloqueio de linhas usadas em golpes do falso advogado, que têm se tornado comuns em todo o estado.
“Essa decisão veio em boa hora. Todos os dias recebemos relatos de golpistas que usam fotos e dados de advogados para enganar clientes. Agora, com a decisão judicial, os números usados para o golpe devem ser bloqueados em até 24 horas”, explicou.
O golpe consiste em criminosos que se passam por advogados e entram em contato com clientes via WhatsApp, pedindo pagamentos falsos de custas processuais ou taxas judiciais. Em alguns casos, os golpistas chegam a falsificar documentos e usar inteligência artificial para imitar a voz dos advogados.
“As pessoas precisam ficar atentas. Nenhum advogado pede dinheiro via PIX ou mensagens. Sempre confirme o número e, em caso de dúvida, procure a OAB ou o próprio escritório do advogado”, alertou o presidente.
Tiago destacou ainda que a OAB mantém um canal de denúncias para registrar casos suspeitos e orientar a população. Ele reforçou que os prejuízos financeiros são de difícil recuperação, já que os valores transferidos são rapidamente distribuídos entre várias contas.
“É praticamente impossível recuperar o dinheiro depois que o golpe é aplicado. Por isso, a prevenção é o melhor caminho”, concluiu.