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Casos graves

Tratamento da obesidade infantil começa com os pais, afirma especialista

Cirurgia bariátrica só é indicada em último caso

Casos de obesidade grave em adolescentes aumentam a cada ano. Foto: Divulgação.
Casos de obesidade grave em adolescentes aumentam a cada ano. Foto: Divulgação.

O Brasil pode chegar a 20 milhões de crianças e adolescentes obesos em 2035, segundo projeção do Atlas 2024 da Federação Mundial da Obesidade. Devido a esse cenário alarmante, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou novas regras para a realização da cirurgia bariátrica no país. A principal mudança é a autorização do procedimento em adolescentes a partir dos 14 anos com obesidade grave e presença de comorbidades, como diabetes tipo 2 ou apneia do sono. A resolução determina ainda que a decisão deve envolver o consentimento dos responsáveis legais e a avaliação de uma equipe multidisciplinar..

Antes da nova resolução, menores de 16 anos só podiam se submeter à cirurgia em caráter experimental, dentro de centros de pesquisa e com autorização dos comitês de ética. Agora, segundo a endocrinologista Helena Nicolielo, o acesso foi ampliado. “A gente teve uma mudança no protocolo de indicação. Antigamente, só em hospitais de pesquisa, com caráter experimental. Agora, pode ser feito em um hospital assistencial, sem ligação com centros de pesquisa.”

Com a nova diretriz, adolescentes entre 16 e 18 anos passam a seguir os mesmos critérios indicados para adultos. Além disso, a resolução amplia o público adulto elegível para o procedimento. Pacientes com IMC entre 30 e 35, antes fora da indicação padrão, agora podem ser operados caso apresentem doenças associadas, como doença cardiovascular grave, osteoartrose severa ou doença hepática não alcoólica com fibrose.

Apesar da ampliação, a endocrinologista alerta que a cirurgia não é o primeiro recurso. “A gente pensa em encaminhar o adolescente para cirurgia bariátrica quando ele teve falha em todos os passos anteriores do tratamento. Quando a terapia, a nutrição, exercícios físicos e até remédios falharam.”

A resolução também revoga antigas exigências, como a necessidade de idade mínima de 30 anos, tempo de diagnóstico da obesidade ou anos de acompanhamento com endocrinologista. No entanto, os procedimentos só podem ser realizados em hospitais de grande porte, com UTI, equipe de plantão 24h e estrutura adaptada. Nos casos mais complexos, como pacientes com IMC superior a 60, são exigidos equipamentos e equipes especializadas.

Nicolielo também ressalta que o tratamento da obesidade infantil precisa envolver a família. “Quem compra os alimentos industrializados e ultraprocessados são os pais. O tratamento da obesidade pediátrica é um grande desafio, porque eu preciso tratar a família inteira. Precisamos trocar a compra dessa família.”

Para o CFM, a cirurgia bariátrica pode ser uma ferramenta eficaz no controle da obesidade e de suas complicações, sem comprometer o crescimento ou o desenvolvimento dos adolescentes.