Paulo César de Figueiredo, juiz que atuou até fevereiro deste ano na 2ª Vara Cívil de Três Lagoas, aposentou-se em fevereiro e foi homenageado na noite de quinta-feira (30) pela 2ª Subseção da Ordem dos Advogados (OAB) de Três Lagoas. Ele recebeu uma placa pelo “elevado senso de Justiça em suas decisões”.
Para o presidente da OAB local, Antônio Costa Corciloli, essa homenagem se justifica pelo fato de Paulo Figueiredo ter sido um juiz presente e sempre disposto a julgar com independência. Durante a homenagem, Figueiredo disse, em forma de prosa, que pretende continuar em Três Lagoas. “Aqui não tem pé de cedro e nem é a cidade de Coxim, mas Três Lagoas é meu último refúgio porque é tudo para mim”. Na sequência uma entrevista com o homenageado.
Jornal do Povo-O que o senhor achou da homenagem?
Paulo Figueiredo- Senti-me honrado, orgulhoso tendo em vista que partiu da OAB. Só tenho a agradecer a toda a classe dos advogados. Nunca tive incidentes com eles, sempre fui bem tratado e respeitei a todos.
JP-O senhor é natural de onde?
PF- Morro Agudo, estado de São Paulo, cidade pequena, próxima a Ribeirão Preto, onde advoguei na Prefeitura por dez anos.
JP-Quando e por que veio para Três Lagoas?
PF-Em 1989 fui promovido para Corumbá, onde permaneci até 1995, sempre com a ideia de vir para uma cidade mais próxima a São Paulo. Foi quanto surgiu a vaga em Três Lagoas. Pedi remoção para cá, onde estou desde abril de 1995. Depois de 16 anos em Três Lagoas eu requeri minha aposentadoria em fevereiro deste ano por tempo de contribuição, e esta é a cidade eleita para o meu último refúgio, para a eternidade.
JP-Teve alguma decisão que proferiu que destaca como importante?
PF – Sempre exerci minha função sem olhar quem era a parte ou o advogado. Destaco as ações de ordens previdenciárias dos trabalhadores rurais. Na época não tinha a Justiça Federal, então atuávamos como juiz nessas ações. Eu proferia decisões para que as pessoas se aposentassem, mas tive o desprazer de ver decisões contrarias.
JP-O senhor pretende advogar?
PF- Jamais pensei em parar de trabalhar, só me aposentei da função judiciária. Devo requerer minha carteira da OAB, mas sem aquela fúria dos novatos, apenas para não ter a qualificação de aposentado e sim de advogado.
JP-O que o senhor acha da magistratura?
PF-É um sacerdócio. Aquele que nela entra sem convicção, está fadado a morrer na praia. A magistratura é uma profissão sagrada, tenho honra de ter exercido essa função por 23 anos. Acho que a magistratura está enfrentando um momento difícil. Vemos decisões da mais alta corte o STF, que chegam a chocar, pois vão encontrar, não só a ressonância, mais a discrepância dos juízes. Esse é um momento ruim da magistratura que pode gerar uma insegurança jurídica.
JP- Como é ser uma pessoa respeitada na cidade com um grau de conhecimento privilegiado?
PF-Dois pontos fundamentais na minha vida: O primeiro é o ser humano ser simples, apreciar a simplicidade da vida. Em segundo, todo ser humano que se distancia da sua origem tende a se perder. Por isso, nasci na roça, geri isso tudo como advogado, depois como juiz. Agora, volto para a roça, onde é meu lugar.
JP-O senhor tem algum projeto?
PF – Tenho trabalhos de monografia na área de especialização de direito, talvez um livro no futuro, mas nada certo. E sem essa de querer e ter a pecha de ser intelectual. Quero ser um homem do meu tempo ao meu tempo e entender as coisas simples da vida.
JP-Qual a sua visão política do Brasil?
PF-A política é uma arte difícil de ser compreendida de forma sintética, precisa ser entendida dentro de um contexto. Hoje, vejo que a grande maioria dos políticos, tem suas exceções, não prezam pelo bem público como deveriam. A pessoa entra representando uma comunidade e acha que o patrimônio público é dele. Fico triste quando vejo o Congresso querendo tornar sigiloso toda a aquisição que for feita para a Copa do Mundo de 2014. Isso é um absurdo, estamos no topo da transparência pública isso é um golpe, uma ditadura imposta goela abaixo.
JP- Tem boas recordações como juiz eleitoral?
JP- Atuei aqui e em Corumbá, nunca mandei dizer e sempre disse o que tinha para dizer, e graças as Deus me dei bem. Quando a gente tem um fundamento nobre como princípio, de ser honesto, não fraudar ninguém, de não querer o que é dos outros, as coisas se tornam fáceis. Qualquer um perdoa se faz uma falha involuntária, mas uma fraude jamais. Nunca tive problemas desses que pudesse macular o desempenho da minha função.
JP- Qual a análise da administração de Três Lagoas?
PF-Acho a administração boa, muitas vezes as pessoas criticam, mas não têm razão de ser. A prefeita Márcia Moura é uma pessoa equilibrada, de princípio, é correta. Isso é importante para uma administração. Digo isso porque administrar é um dom que não se transfere da noite para o dia. Agora, a pessoa que se põe a administrar e é honesta já está com mais de meio caminho andado, é o caso da Márcia. Ela tem alguma falha, o que é normal, porque Três Lagoas nunca se expandiu como agora. Ela está administrando na crista da explosão de Três Lagoas. Situação difícil, mas acredito em sua administração.
JP- O senhor pretende entrar para a política?
PF-O que posso dizer é que, possivelmente dentro do prazo legal devo me filiar a um partido. Às vezes poderia ajudar Três Lagoas de uma forma diferente. Não tenho pretensão a princípio, mas devo me filiar até setembro.
JP- O que acha do governo da Dilma?
PF-A política não pode ser feita pontualmente e sim dentro de um contexto, a Dilma não tem o carisma do Lula, com quem estive por duas vezes, uma delas recebendo título da ABCC. Dentro da simplicidade dele, o Lula é um governante carismático e envolvente. Essa qualidade a Dilma não tem, tanto que ela esbarra em ponto nevrálgico dessa situação. Parece que ela tem boa vontade, tomara que de certo.