JORNAL DO POVO: SENHOR É CONHECIDO POR SER UM GRANDE CRIADOR DE GADO. QUANDO O SENHOR COMEÇOU A CRIAR E QUAIS AS RAÇAS?
Orestinho – O Nelore é uma raça especializada para corte, sem dúvida a melhor, por sua rusticidade, fertilidade, ótima conversão alimentar, precocidade e rendimento de carcaça.
A Raça Guzerá tem as mesmas qualidades da Gir (dupla aptidão),além de ser a mais rústica de todas as raças indianas, até porque na Índia é criada no deserto.
Orestinho – Deixei os estudos com 18 anos. Estudei no Rio de Janeiro de 1951 a 1958 no Colégio Anglo Americano no Bairro de Botafogo.
Quando cheguei para trabalhar meu pai tentou fazer com que eu me arrependesse de deixar os estudos. Mandou-me cuidar dos pastos que alugávamos em fazendas distantes e muito sujas. Era um sacrifício conseguir fechar o gado nos currais, às vezes tínhamos que usar cachorros para tirá-los das moitas sujas. O que meu pai pensava ser um sacrifício, para mim estava sendo justamente o contrario. Eu estava mais seguro e entusiasmado com a minha decisão. Nunca me arrependi.
Crio Zebu desde o final de 1957. Estes 54 anos de criação foram 54 anos prazerosos, pelas amizades conquistadas, pela contribuição para a evolução da pecuária nacional e pelo prazer da vida saudável no campo que me dá a alegria de ver meus filhos e netos desfrutando desta mesma vida saudável que tive e espero poder estender-se também para a minha bisnetinha Maria Isabel.
Meu tio Pylades (irmão do meu pai), sabia tudo das raças indianas. O padrão racial da ABCZ que descreve em detalhes quais as características ideais, permissíveis e desclassificantes das diversas raças zebuínas foi praticamente elaborado e estabelecido por ele.
Orestinho – Existem zebuzeiros e zebuzeiros. Zebuzeiros com o dom natural poucos têm, são aqueles que na base do olho e da intuição trouxeram animais da Índia e selecionaram animais extraordinários, que alavancaram nossa pecuária e tornaram-na única no mundo.
Orestinho – O zebuzeiro do olho bom não dispensa a tecnologia, entretanto os adeptos da tecnologia muitas vezes não consideram o visual que detecta os defeitos de aprumos, de carcaça, garupa, umbigo e principalmente da pureza racial que está sendo desprezada em favor do peso, e que é fundamental porque o nelore é uma raça de corte, e virou mania. Tem criadores que fazem alarde de bezerros que nascem com 60 kg ou mais. Estes bezerros precisam de ajuda para nascer, arrebentam as mães e, lá na frente, não acrescentarão nada em matéria de precocidade e qualidade de carcaça. Estamos contrariando a natureza valorizando fêmeas pesadas, quando sabemos que peso e gordura conflitam com fertilidade.
Touros que participam de exposições e alcançam pesos excepcionais, quando vão coletar sêmen precisam de um período muito grande de adaptação e muitas vezes não produzem nada. Quanto às técnicas de congelamento de sêmen, TE (transferência de embriões) e FIV (fertilidade in vitro) estas vieram trazer excepcional qualidade aos rebanhos através do aproveitamento das fêmeas, que antes pariam apenas um cria por ano. Agora, podemos colher vários produtos de uma só matriz.
Essa foi a razão maior da valorização das fêmeas nos leilões, e da entrada de novos investidores nas diversas raças, pois o criador que antes não abria mão da fêmea de cabeceira porque só colhia uma por ano (quando não nascia macho) agora pode vender produtos das melhores vacas, dando ao novo criador a chance de começar por cima aproveitando às vezes o trabalho de mais de 70 anos de criadores tradicionais. Hoje o investidor compra uma matriz excepcional e graças a estas técnicas, com 03 anos de criação, já está disputando campeonatos nas pistas.
Orestinho – Hoje alcançam preços excepcionais pelas oportunidades que acabo de explicar. O novo criador tem oportunidade de com 03 ou 04 vacas excepcionais usando a técnica de TE e FIV se igualar em qualidade com criadores de quase um século de seleção.
Muitos acham caro uma matriz de 1 milhão, eu particularmente acho muito barato você ter a oportunidade de adquirir o fruto de um trabalho secular. Os leilões destruíram o que tínhamos de melhor entre os criadores que era o bate papo, o almoço nas fazendas o prazer de mostrar o rebanho, o resultado do trabalho (intuitivo) de acasalar determinado touro e a expectativa dos nascimentos dos produtos. Cláudio do Totó e eu tivemos a felicidade de viver por muitos anos estes momentos, que infelizmente nossos filhos não desfrutaram.
Orestinho – Não me considero um benfeitor da cidade, muito pelo contrário.
Hospital do Câncer, tendo eu uma área de 510 hectares. Faço isto agradecendo a Deus pela oportunidade de poder colaborar. Só temos esta vida, infeliz de quem guarda agora acreditando que vai gastar na outra.
Orestinho – Se tivesse carta branca para administrar poderia até topar, mas, não tenho o dom da política, de negociar, enfim, não é minha área.
Orestinho – Eu ia a Brasília para resolver problemas da ABCZ. Nunca fui procurado por nenhum político para pedir nada para Três Lagoas, acho mesmo que para esta finalidade o acesso deles é mais forte que o meu e a linguagem deles melhor entendida.
Orestinho – Se no começo da palavra trocarmos o R pelo E, podemos descrever quem é a Márcia, perfeita, com letra maiúscula. Não conheço pessoa mais simples, leal e verdadeira. Assumiu enfrentando situação meteorológica adversa, que só vemos no exterior através da televisão. A nossa cidade, nunca tinha enfrentado e vivido uma situação como essa. Depois, chuva como nunca tivemos. Será que não podemos ter um pouquinho de paciência? Tenho absoluta confiança nela e na sua equipe. Logo, todos terão a alegria de vermos nossa cidade prosperar através do bom senso da sua administração.