Um dos motivos da demora, justificado por Deane, é a procura de pessoas que deixam de procurar atendimento nas UBS e se dirigem ao PAB com dores de cabeça, cólicas menstruais e com crianças procurando por atendimento pediátrico. “As pessoas chegam aqui e eu deixo elas falarem. Muitas mães relatam que não tem paciência de esperar atendimento nas UBS e procuram o PAB. Quem está esperando sempre acha que a dor é a maior. Mas aqui trabalhamos com sistema de prioridades. Se amigdalite, cefaléia, dor lombar e cólicas menstruais fossem tratadas no posto, nosso atendimento seria muito melhor”.
Atualmente, para atender a demanda, seriam necessários três médicos a cada plantão. “Se o PAB funcionasse exclusivamente para urgência, a dor da emergencia, os profissionais atuais conseguiriam atender a demanda. Mas como está, só com o reforço de novos profissionais”.
Na quarta-feira passaram pelo PAB em 24 horas, 315 pessoas, 203 receberam atendimentos, deste total apenas 13 eram emergências. “Se as pessoas procurassem atendimento nas UBS desafogaria o PAB. Hoje 70% do atendimento é referente a doenças de baixa gravidade, a maioria vem com dores de cabeça, outros querem atestados. Na quarta-feira, por exemplo, apenas uma sultura foi feita. Aqui priorizamos que tem necessidade de urgência, como uma pessoa que chegou com falta de ar”.
Deane comenta que muitas vezes é difícil encarar a realidade e prosseguir. “Eu gosto de dar atenção as pessoas. Precisamos ser mais humanos, mas não há como fazer um atendimento de qualidade sabendo que há dezenas de pessoas esperando lá fora”.
A enfermeira Kátia Scarpari diz que muita gente procura atendimento depois de dias do fato ter ocorrido. “Teve gente ontem que torceu o tornozelo no dia 30 e veio falando que era emergência. Um senhor foi mordido por um cachorro no dia 23 de dezembro e também chegou reclamando. Outro passou em um médico particular, veio com a receita, pedindo para que passasse para a receita do SUS para conseguir o médico de graça. São casos assim que atrapalham o sistema. As pessoas acham que é má vontade, mas nós atendemos e não temos motivos para dificultar nada. Nas UBS sobram vagas. Aqui cada médico por plantão já chegou a atender 80 pacientes”.