Veículos de Comunicação

Três Lagoas

PAB: Falta de médicos provoca tumulto

Mais de 315 pessoas passaram pelo local, destes 16 casos eram emergência

Superlotação de pacientes no PAB continua sendo um problema crônico na saúde municipal -
Superlotação de pacientes no PAB continua sendo um problema crônico na saúde municipal -

Pela segunda vez em menos de 15 dias, o Pronto Atendimento de Saúde (PAB), volta a ser notícia e motivo de revolta para muitos moradores de Três Lagoas. A causa do conflito, que ontem envolveu a Polícia Militar e a Rotai, mais uma vez é a falta de médicos e a demora no atendimento. O caos instalado na unidade foi tão grande, que populares ameaçavam quebrar o local na noite da última quarta-feira (6), durante a discussão, duas pessoas foram presas pela Polícia Militar.

 Desacato, palavras de baixo calão e revolta deram o tom a briga que precisou ser contida com o reforço policial. Segundo Susy Maeda, que estava no PAB para tratar uma alergia, a demora começou desde a triagem. “Eu cheguei por volta das 19h. Demorou um tempão para fazer triagem. Quando cheguei já havia várias pessoas reclamando que estavam ali já há cinco horas para serem atendidas, inclusive com pacientes vomitando. Havia um médico para atender cerca de 60 pessoas”, relatou.

A coordenadora administrativa da Unidade, Odilza Souza de Araújo, confirmou a defasagem no atendimento e disse que a situação as vezes é precária. “Em outubro do ano passado tínhamos 17 médicos fazendo rodízio de plantão. Hoje temos apenas sete e alguns deles em estado de enfermidade. Nossa realidade hoje é de dificuldade. Perdemos muitos médicos. A maioria desistiu de atender no PAB. O fluxo de pessoas é grande, mesmo que a remuneração passe a partir de janeiro para R$ 500 (período diurno) e R$ 550 (noturno), a situação é grave, temos boletins registrados por desacato. Muitos desanimam de trabalhar aqui. As ofensas de pacientes contra funcionários acontecem diariamente. Ontem eles chegaram a ameaçar os funcionários”, desabafou Odilza.

O problema por que passa a unidade são os atendimentos excessivos aliados a falta de médicos. “Ontem tínhamos apenas um médico para atender todo o pessoal. Muita gente não entende o que é emergência. O PAB é um local para atender quem está sofrendo com dores agudas. A realidade é o que impede muitos médicos de trabalharem aqui. Hoje, para atendermos bem, teríamos que colocar três médicos por plantão, mas nenhum deles quer vir atender”.

O TUMULTO

O tumulto começou por volta das 20h30 e foi intensificado com a chegada da Polícia. “Chegou um senhor, com o filho passado mal e nervoso. Ele bateu no vidro, estava revoltado com a demora no atendimento, tentou chamar a atenção dos funcionários, mas foi nesse momento que eles acionaram a polícia”, explicou Suzi.

Com a chegada dos PMs a situação piorou. “Quando a polícia chegou parecia cena de filme. Rotai, Policiais do Trânsito e mais duas ou três viaturas. Fomos tratados como se fôssemos bandidos. Chegou um policial gritando ‘o que está acontecendo ae’, dae alguém comentou que se fosse para pegar bandido não chegavam tão rápido.Chegou um policial da rotai, Wesley, informando que  não era para quebrar patrimônio público,  mas não teve nada quebrado, ninguém estava quebrando nada”, disse.

Suzy contou ainda que os policias tentaram coagir as pessoas. “Eu vim aqui foi porque fui chamado, quem abrir a boca, vou levar para o desacato. Nesse momento o povo ficou calado. Depois eles levaram uma mulher e seu filho. A mulher foi arrastada pelos policiais, o povo ficou revoltado. Todo mundo ficou alterado. O povo se revoltou com a cena, queria ir em cima da polícia. No final, fui atendida as 23 horas. Antes disso a Odilza pediu que eu fizesse um relatório contando os fatos, segundo ela, as informações seriam repassadas a Secretaria de Saúde”.

AÇÃO POLICIAL

Sobre a ação policial, o comandante da Polícia Militar, Wilson Sérgio Monari, disse que a polícia agiu dentro da lei para manter a ordem. “A população tem total direito de reclamar de saúde, mas a partir do momento que eles provocam tumulto, eles perdem a razão. A polícia foi acionada, compareceu ao local com uma viatura. Como o tumulto continuou foi preciso chamar reforço policial, com presença da Rotai”.

Sobre a maneira de procedimento dos policiais, Monari disse que a  polícia  não ‘tocou’ em ninguém. “O próprio médico identificou as duas pessoas que iniciaram o tumulto e mesmo assim continuaram provocando o alvoroço. A mulher e o filho, que foram identificados foram levados até a delegacia e depois foram liberados. A polícia agiu dentro da lei para manter a ordem pública e condição para que os profissionais de saúde continuassem atender a população”

FALTAM MÉDICOS

A diretora clínica do PAB, Deane de Paula, disse que o problema maior é a falta de médicos. “Nós não conseguimos atender as pessoas da maneira como gostaríamos. Não passamos anos na faculdade para trabalhar nessa situação. Estamos suscetíveis a muitas coisas aqui dentro. Muitos médicos não aguentam a pressão e pedem para sair”.

A médica que é plantonista na unidade explica que a população reclama de ‘barriga cheia’. “Aqui eles saem com o remédio na mão. A maioria se quer enxerga essse beneficio. Temos farmácia 24 horas, remédios caros disponíveis. O problema aqui é a falta de paciência. As pessoas não sabem a diferença entre UBS [Unidade Básica de Saúde] e PAB”.