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Três Lagoas

Paulo Simões três décadas de estrada e um novo disco

Pantanal é sua principal fonte de inspiração, onde também aproveita para lançar seus anzóis e praticar a pesca, unindo arte com o hobby.

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Carioca, porém radicado com coração e raízes em Mato Grosso do Sul, Paulo Simões é sinônimo de referência. O artista cresceu na capital do Estado, onde na adolescência fez grandes amizades com cantores como Almir Sater e Geraldo Espíndola. O Pantanal é sua principal fonte de inspiração, onde também aproveita para lançar seus anzóis e praticar a pesca, unindo arte com o hobby. Prova disso é que artistas consagrados em todo o país sempre levam algum ou outro sucesso de Simões para o conhecimento nacional, como Sérgio Reis, Sandy e Júnior, Almir Sater, Renato Teixeira, entre outros. Em Três Lagoas onde apresentou na última segunda-feira ,no anfiteatro da UFMS  seu novo show “Canções, Simplesmente Canções”, o compositor concedeu uma entrevista para o Jornal do Povo – entre o intervalo de um ensaio e aquecimento de voz antes de subir ao palco. 

Jornal do Povo: Paulo, há quanto tempo você não vem a Três Lagoas?


Paulo Simões: Como artista tem um bom tempo, mas não tenho muita certeza. A gente chega numa cidade à tarde, toca à noite e vai embora em seguida, então não dá muito tempo da gente guardar na memória datas de apresentações específicas. Mas, creio que a última vez que vim foi com o Chalana de Prata. Mas para mim aparentemente faz bastante tempo. Eu passo sempre por Três Lagoas como viajante, é minha rota terrestre de Campo Grande para São Paulo e Rio de Janeiro para onde vou frequentemente, obrigatoriamente, eu passo por aqui. Toda vez que passo, prometo a alguns amigos que vou parar, mas infelizmente não paro. É sempre muito corrido. É uma cidade que está no âmago da minha vida, porque como nasci no Rio e fui morar quando pequeno ainda em Campo Grande, eu fiz muito das minhas viagens de trem. Então, essa foi uma cidade que conheci da janela do trem. Até que no de 1981, quando eu estava com o Grupo Chalana de Prata, eu vim fazer um show nessa cidade e pude conhecer um pouco mais desse lugar lindo, além da janela do trem que eu sempre via. 


JP: Como artista desta terra, qual sua visão de Três Lagoas como cenário da cultura de MS?


Paulo Simões: Eu acho exatamente a distância que Três Lagoas têm para o resto do Estado é que faz que a gente ainda se apegue com mais força aos traços comuns da nossa identidade. A partir disso eu me tornei fã dessa cidade, fiz muitos shows aqui com bandas de muitas formações com o Grupo Chalana de Prata, solo, em dupla com o Celito Espíndola e todas às vezes eu era muito bem recebido pelo público , sinto me acolhido aqui e minha sensibilidade como artista fez com que eu me apegasse ainda mais com tudo que é desse lugar, o que me  faz, sempre, querer parar aqui. 


JP: Neste novo CD, “Canções, simplesmente Canções”, existe algo que você colocou em provação neste trabalho? Existiu um momento que você pensou “quero experimentar algo novo na minha música”?


Paulo Simões: A palavra “novo” é bastante perigosa para alguém que já tem algumas décadas de atuação. Mas, esse algo novo é algo que eu afirmo novamente nesse novo disco. Vivermos em um mundo globalizado, em um mundo onde o visual ocupa cada vez mais importância na arte, na cultura e na música em geral. O artista, hoje, ele sobe no palco não só vestindo a música dele, mas sempre acompanhado de um aparato visual de dançarinos, bandas enormes, telões com imagens tridimensionais, raio laser. Entretanto, o que eu quis provar e continuarei a provar com esse show e os próximos é que ainda existe e sempre haverá espaço para que um autor, compositor, um poeta ligado a música faça uma coisa mais simples que tem ser feito dentro da música que é uma canção. A canção sempre será o módulo mínimo da criação musical. A canção é algo que você pode ouvir apenas uma vez e depois se descobrir nela, apenas assoviando. E depois de um, ou três dias, você já está cantando no banheiro, no trânsito aquela melodia, talvez partes da letra, toma conta de você,  ou já tomou antes e você nem percebeu , mas já está sob o efeito do feitiço da música. E foi isso que eu quis mostrar nesse disco, selecionando dez canções com vários parceiros do quais me orgulho muito e prefiro nem citar os nomes  para não correr o risco de ser injusto e esquecer alguém. 


JP: Não querer citar nomes que foram parceiros nesse novo disco significa também que muitos outros artistas que são seus parceiros ficaram de fora de trabalho?


Paulo Simões: Exatamente. Eu estou até pensando em fazer uma série desse trabalho para poder chamar outros amigos que não pude convocar para esse projeto. Até acho que o título é feliz por isso, em resumir um assunto tão complexo. E aí nos próximos, eu posso chamar grandes amigas e parceiras com a Alzira e Tetê Espíndola, a Melissa Azevedo que já está participando no vocal desse roteiro de shows que estamos apresentando no Estado. Além disso, nós também incluímos nesse show uma canção inédita do Rodrigo Sater e Márcio de Camilo, que cantamos juntos em um projeto em Campo Grande chamado Gerações. Quem não quer cantar com a Melissa, excelente cantora e grande talento da música popular sul-mato-grossense. Essa música fez sucesso em Campo Grande, ouvi tocar várias vezes na rádio. Além dela, tem a Maria Cláudia, que é outra grande cantora da terra , que também está junto com a gente nesta turnê e pretendo colocá-la no próximo disco. Mas, também preciso chamar a Miska, ou seja, eu preciso fazer um volume dois urgente desse CD.


JP: Paulo, em Mato Grosso do Sul nós temos muito artistas que são verdadeiros talentos dentro do cenário musical brasileiro, alguns são até reconhecidos fora do país como é o caso dos Espíndolas – que são referências. Você acha que os nossos artistas têm um reconhecimento maior, saindo um pouco dessa linha sertanejo universitário que atinge mais as grandes massas?


Paulo Simões: A resposta é sim, mas ainda é relativo. A importância que a música feita em Mato Grosso do Sul ocupa no Brasil não é proporcional ao talento, originalidade e singularidade da nossa gente, assim como o Estado do Mato Grosso, que anda junto com a gente nessa área. Um deles é que, ao contrário de artistas do Nordeste que sai da sua terra natal e vão procurar desenvolver suas carreiras em grandes centros, eles encontram pessoas da sua região nesses lugares, as quais dão suporte de público. Assim como os gaúchos, baianos, mineiros e por aí vai. Com relação ao artista de Mato Grosso do Sul, quando ele sai do Estado para desbravar novos territórios, ele não encontra esse apoio – ou porque não tem muitos sul-mato-grossenses esparramados pelo mundo e até porque é um Estado novo, ou porque ele prefere outro tipo de segmento mesmo. Então até mesmo os empresários da música, quando olham para o artista de Mato Grosso do Sul, eles se questionam, por que investir em um músico que é lá do Pantanal, que não têm público, se eu posso investir em músico do nordeste que atrai multidões? Então, o que falta é um pouco mais de participação do povo sul-mato-grossense, de ouvir mesmo a nossa música e participar mais do que produzimos. 


JP: Isso é mais direcionado à música popular ou é diferente quando o estilo muda para o sertanejo universitário do Estado, por exemplo.


Paulo Simões: Sim. O mais importante para os empresários ,hoje, não é mais que o artista apenas venda discos, mas sim a disponibilidade do artista em atingir as grandes massas e em vários Estados, pois a divulgação você faz instantaneamente pela internet, assim como as televisões se multiplicaram e as rádios. E acho ótimo que esse boom esteja acontecendo porque em primeiro lugar tudo isso foi conquistado com muito profissionalismo e muito talento de vários artistas. Esses artistas, representam outras gerações e alcançam a  maturidade entre os 20 e 30 anos, contando com condições de exercer atividades musicais com muito mais condições que em outras épocas, independente de ser sertanejo ou outro gênero. Antes não se tinha estúdios para se ensaiar e gravar, não tinha instrumentos de qualidade, não tinha equipamento de luz para se fazer bons shows. Então,  o que acontece hoje é fruto da nossa época, mas que está sendo feito com muita competência e talento por esses artistas do gênero. Estão de parabéns. O público mostra esse amor por esses artistas, e isso me deixa feliz. 


JP: Ainda com relação a essa turnê, depois que você se apresentar em todo o Mato Grosso do Sul, você levará seu trabalho para outras regiões do Brasil?


Paulo Simões: Eu vou começar para valer a divulgação desse trabalho e logo a seguir, mais precisamente dia 24 de setembro, eu vou lançar em disco em São Paulo, com a participação do Almir e Rodrigo Sater e também do Antônio Porto, do João Ormonde, Cláudio Lacerda e uma banda que eu recrutei lá em São Paulo, porque não poderei levar a minha. Em seguida, eu vou para Cuiabá para participar de um show chamado “Violas do Araguaia”. Depois encerro esse mês, que será inesquecível em minha vida, fazendo um show com o Chalana de Prata em Rio Brilhante. Quero convidar o público para curtir minha fan page no facebook, já que lá nos publicamos tudo que temos de novidades, agenda de shows e fotos dos nossos bastidores de viagens e ensaios.