O avanço da indústria de celulose em Três Lagoas, como segmento responsável por mais de 90% da receita da cidade com exportações, vai causar mais alterações na cidade do que a maior procura por imóveis, vendas no comércio ou aumento da população. Vai mudar o jeito das pessoas negociarem bens de valor de médio para cima. “Nossa moeda será definitivamente o dólar, como é em todos os países da América do Sul”, diz o empresário Antonio Alves de Souza, com currículo de 35 anos de atividade no ramo imobiliário de Três Lagoas.
e o sr. acha que o dólar vai regular os negócios?
Antonio Alves de Souza – Hoje, tudo o que se faz em negócios – de todos os tamanhos – em países da América do Sul são usadas duas moedas. A local e o dólar, porque as economias são reguladas assim. Aqui em Três Lagoas caminhamos para isso, porque a cidade recebe forte influência das indústrias de celulose, que negociam apenas em dólar.
JP – Mas isto afetaria todos os negócios?
Souza – Inicialmente não. Apenas os que possuírem valor mais elevado, como de imóveis de porte médio para cima. Um apartamento, por exemplo, quando for apreçado, será baseado em dólar.
JP – E isso será bom para a economia local?
Souza – Ainda não é possível dizer se sim ou se não. Mas, uma coisa é certa: a economia se fortalece com o maior movimento financeiro, na cidade, como consequência do mercado atendido pelas grandes empresas exportadoras.
JP – Em seu ramo, o de imobiliárias (Souza é dono da Imobiliária Daterra), como pode haver alteração, além da fixação de preço de imóveis?
Souza – Em poucos anos, quando um investidor executar um projeto, é certo que vai regular os preços pelo dólar, porque tudo já estará sendo regulado assim.
JP – Então, isso vai ocorrer apenas em cidades com características industriais de Três Lagoas?
Souza – Sim. A cidade é um diferencial exatamente por ter estas características.
JP – E como está o mercado imobiliário neste momento. Há uma “bolha imobiliária”, como ocorreu nos Estados Unidos?
Souza – Eu acho este termo “bolha” muito pesado para nossa realidade. Nos Estados Unidos ocorreu porque houve um avanço da inadimplência e a devolução de imóveis financiados. No Brasil isto não ocorre. Temos, sim, um estoque elevado de imóveis, mas o setor não enfrenta a inadimplência.
JP – O que falta, hoje, para que o mercado se aqueça?
Souza – O que trava o mercado imobiliário atualmente é o rigor adotado pela rede bancária para a liberação de financiamentos. Há exigências muito fortes sobre quem precisa de financiamento, e isto dificulta ao comprador ter acesso a imóveis prontos. Daí a existência de estoque.
JP – E é isto que segura a inadimplência?
Souza – Os bancos estão se protegendo contra falta de pagamento.