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Clima de saudosismo marca despedida da Dama do Rasqueado

Velório da cantora Delinha na Câmara Municipal em Campo Grande reuniu músicos, familiares, amigos e fãs

Elias Rodrigues Santana reservou o dia para homenagear a cantora que conheceu através da mãe - Foto: Thais Cintra
Elias Rodrigues Santana reservou o dia para homenagear a cantora que conheceu através da mãe - Foto: Thais Cintra

"O dia em que lua encontrou o sol". A frase que faz referência à música da dupla sertaneja Delio e Delinha, fala de um amor quase que impossível de ser vivido, por conta da distância. A Dama do Rasqueado nos deixou nesta quinta-feira (16), aos 85 anos, vítima de insufiência de uma respiratória. A simplicidade e o talento aliados à voz marcante de Delinha, fizeram parte dos 60 anos de carreira. Cozinheira de mão cheia, a artista recebia todos de braços abertos. Amigo próximo, o radialista Ciro de Oliveira conta que a dupla Delio e Delinha, foi uma das primeiras do estado a fazer sucesso em São Paulo.   

Ciro de Oliveira era amigo próximo de Delinha Ciro de Oliveira era amigo próximo da cantora – Foto: Thais Cintra /CBN

"Eles estiveram em um programa na rádio Bandeirantes, não tinha esse nome, era ‘Pintassilgo’, e na hora de chamar o apresentador não lembrou o nome e falou, casal de onça de Mato Grosso do Sul. Mais tarde veio Delio e Delinha. Eles nunca ganharam dinheiro com a dupla e muita gente achava que a cantora era milionária. Nessa idade em que ela estava, viajava de carro, sem conforto nenhum, chegava em lugares que nem tinha camarim e se trocava em um banheirinho qualquer, porque precisava ganhar dinheiro. Delinha era cozinheira de mão cheia. Fazia um bolinho de arroz maravilhoso, o melhor que ja comi. Não era só amigo de ir à casa dela tomar aquele conhaque que ela gostava. A gente também se encontrava nos almoços da Colônia Paraguaia", conta.   

Delanira Pereira Gonçalves, esse é o nome de batismo da artista. Delinha nasceu em um feriado de 7 de setembro em 1936, ironicamente, ela falece em pleno feriado de Corpus Christ. Devota de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a cantora fez parte da história de muitos sul-mato-grossenses. Um deles é o sanfonista Gerson Douglas, conhecido como o Gersão do grupo Tradição. O músico relata que teve o privilégio de tocar um período curto ao lado de Delinha.  

“Ela foi minha inspiração maior, Maciel Correia que amo muito e Dino Rocha que se foi a pouco tempo. Ela era uma alegria no palco. Pra mim ela não perde para Elvis Presley e Michael Jackson. Tive a honra de realizar um sonho de tocar o ‘Sol e a Lua’ com ela”, explica.  

 

Sanfoneiro Sanfoneiro "Gersão", como é conhecido na música, tocou com Delinha – Foto: Thais Cintra 

 

No velório, realizado na Câmara Municipal de Campo Grande, familiares, amigos e fãs puderam se despedir de Delinha. A cantora faleceu às 3h da manhã e do jeito que sempre imaginou, dormindo serena. Mas a verdade é que ela não gostaria de ver ninguém triste choramingando pelos cantos. João Paulo Pompeu, filho da artista que também é cantor, fala de todo o aprendizado com a mãe.

“O artista não morre, a obra dele fica eternizada para sempre. Fica aquela imagem da minha mãe guerreira, forte, batalhadora que sempre teve um carinho muito grande pelas pessoas e tenho muita gratidão”, relata.

 

A obra da artista é um verdadeiro legado para a música e cultura de Mato Grosso do Sul. Letras que falavam de amores, infância, encontros e desencontros, marcaram gerações. Aos 21 anos, a cantora Thauane Castro diz que Delinha sempre foi uma referência na carreira. “Todas as músicas eu gosto, mas a que me toca e me emociona é ‘Por onde andei’, um dos grandes sucessos da cantora”, destaca.

A Dama do Rasqueado foi hospitalizada no mês passado devido a crises respiratórias agudas e chegou a ficar internada na Unidade de Terapia Intensiva por causa de uma pneumonia grave. Delinha se recuperava em casa desde o dia 25 de maio.  Ela foi enterrada às 17h no cemitério Jardim da Paz, saída para Sidrolândia.